Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Angélica Coutinho (ANCINE)

Minicurrículo

    Angélica Coutinho é Especialista em Regulação Cinematográfica e Audiovisual da ANCINE. Atualmente, é coordenadora de Suporte Seletivo da SDE, responsável pela seleção de projetos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Criou e coordena dois cursos de pós-graduação lato sensu na FACHA, Rio de Janeiro: Pós-graduação em Roteiro Audiovisual e MBA em Produção Audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    OS GÊNEROS DOS PROGRAMAS TELEVISIVOS

Mesa

    POLÍTICAS PÚBLICAS DO AUDIOVISUAL – DESAFIOS

Resumo

    Tradicionalmente, o corpo da teoria de gênero produzida nos estudos literários e cinematográficos é considerado como referência para a análise da produção televisiva. Esse tipo de “taxonomia” se encaixa para rotular programas em categorias genéricas sem considerar outros fatores como audiência, práticas culturais e industriais e, em geral, serve como referência no campo público para a decisão de investimento em projetos. Esta comunicação revê a “taxonomia” em tempos de hibridismo.

Resumo expandido

    A presente comunicação será a primeira apresentação pública dos resultados de uma pesquisa realizada no Pós-doutorado na Universidade de Los Angeles – UCLA – sob a supervisão do prof. Randal Johnson. Partindo do desafio cotidiano em analisar projetos e lidar com regulamentações que definem projetos passíveis ou não de investimento de acordo com gênero, tal pesquisa retoma a ideia apresentada em “A televisão levada a sério” (2000) por Arlindo Machado: gênero é uma ideia que desde o advento do estruturalismo até os tempos pós-modernos vem sofrendo um “questionamento esmagador”. No entanto, é preciso considerar que o campo teórico e o campo prático podem manter distanciamentos sem que um impeça o funcionamento do outro. Ou seja, por mais que a reflexão na academia rejeite qualquer tipo de classificação, a indústria cultural cria sua taxonomia para atender as expectativas do público com o que ele já conhece ou com criações e recriações em sua constante busca por novidades. Uma busca que se funda na necessidade do meio garantir sua sobrevivência: é necessário sempre criar novos objetos de desejo para o consumo assim como rotulá-los de forma que o público consiga facilmente identificar o “produto” que quer. Jane Feuer afirma ainda que o estudo de gênero na televisão é parte de diferentes níveis críticos (1992, 145). Primeiramente, um enfoque estético que trata das tentativas de definir o gênero como um sistema de convenções que permite a expressão artística, envolvendo a autoria individual, assim como sua subversão. Em segundo lugar, um enfoque ritual no qual o gênero é uma troca cultural entre indústria e audiência na qual se negocia crenças e valores e a ordem social é mantida e renovada com a adaptação das mudanças. E, finalmente, o enfoque ideológico que serviria como instrumento de controle no qual “the genre positions the interpretive community in such a way as to naturalize the dominant ideologies expressed in the text”. Observamos, portanto, que o estudo do gênero deve ultrapassar os limites do “texto”, entendido de forma ampla, ou seja, não apenas aquilo que está no campo da escrita, mas alcança a produção de conteúdo audiovisual. Em particular quando falamos em televisão e sua constante busca por novidades. As normas genéricas e tipos ideais que definem as características de cada gênero são cotidianamente desobedecidas em prol do hibridismo e da inovação, mas em sua origem podemos identificar as referências de fundo. Dentro do campo do audiovisual, tomemos como exemplo o documentário e sua relação de proximidade com o jornalismo televisivo. Podemos identificar os elementos de similaridade entre ambos em sua busca por elementos da realidade para compor uma narrativa. No entanto, o instrumental usado, a forma de organização de conteúdo faz com que cada um se filie a um gênero mais específico cuja legitimação também se dá a partir da maneira como é veiculado e a maneira como atende às expectativas do público. Hoje temos o mapeamento inicial de uma pesquisa com o objetivo de levantar questões e apontar algumas reflexões sobre o conceito de gênero entendendo-o sob diferentes pontos de vista: desde a reflexão acadêmica até a funcionalidade mercadológica. Percebemos que as escolhas do mercado tanto quanto as definições de investimento público, no caso do Brasil, precisam identificar o que há de novo e para tal demanda a construção de parâmetros que implica uma taxonomia. Obviamente, não defendemos um engessamento, uma construção de regras que impeça o hibridismo. Este, como a história da televisão demonstra com uma enorme gama de exemplos, é inevitável pela própria natureza do meio ávido por constantes novidades. Mas entendemos a importância de existir um cenário de referência, que sempre será ampliado, na medida em que novos formatos forem surgindo e se sedimentando como novos gêneros.

Bibliografia

    Aronchi, José Carlos. 2004. Gêneros e formatos na televisão brasileira. São Paulo: Summus editorial.
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