Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabrizio Di Sarno (FATEC-TATUÍ/CEUNSP)

Minicurrículo

    Formado em Composição e mestre em Comunicação Audiovisual. Professor na FATEC-TATUÍ e CEUNSP. Gravou, produziu e tocou com um grande número de bandas de Rock, MPB e POP. Já tocou e gravou com bandas importantes como: Angra, Paul di Anno, Shaman, Bittencourt Project, Karma, Edu Ardanuy etc. Já compôs trilhas sonoras para marcas como: Natura, Governo Federal, Guaraná Antártica, Laboratórios Fleury, Ambev, Justiça Federal, Caixa Econômica Federal, Banco Bradesco, Revista Playboy, Odebrecht etc.

Ficha do Trabalho

Título

    A Ininteligibilidade Intencional em Manchester à Beira-Mar

Resumo

    A presente pesquisa expõe alguns procedimentos técnicos e estratégias estéticas realizadas pela equipe de som chefiada pelo Sound Designer e engenheiro de mixagem Jacob Ribicoff em Manchester à Beira-Mar (Manchester by the Sea, Kenneth Lonergan, 2016). O filme apresenta uma proposta de som focada na ausência de elementos sonoros excessivos e na ininteligibilidade intencional de alguns diálogos quebrando com os paradigmas de mixagem vococêntrica e verbocêntrica do cinema norte-americano.

Resumo expandido

    Escrito e dirigido pelo norte-americano Kenneth Lonergan, o filme Manchester à Beira-Mar (Manchester by the Sea) foi lançado em 2016 atingindo enorme sucesso de crítica. Com orçamento bastante restrito o filme aposta na qualidade do roteiro e atuações, pontos que lhe renderam uma enxurrada de indicações e prêmios, incluindo seis indicações ao Óscar, duas delas vitoriosas (melhor roteiro original e melhor ator para Casey Affleck).
    A equipe de som do filme é muito reduzida, sendo Jacob Ribicoff o responsável pelo Sound Design, edição e mixagem. Segundo consta em diversas entrevistas, nas primeiras reuniões o diretor delegou ao Sound Designer a tarefa de construir todo o som do filme de maneira que este não chamasse atenção demais, servindo como uma espécie de base para que as atuações e a direção brilhassem. Em entrevista para o site where to wacht (https://www.wheretowatch.com/2016/11/sonic-soul-talking-manchester-sea%E2%80%99s-sound-designer – acesso em 18/03/2017), Ribicoff afirma que Lonergan lhe pediu que trabalhasse um uma construção de som mais realista possível.
    Seria lógico, contudo, apontar para o fato de que a percepção do que é um som realista pode variar muito de pessoa para pessoa, e da mesma forma, cada diretor vai considerar certos aspectos do som mais ou menos realistas de acordo com a sua maneira única de ouvir. O que fica claro no caso de Manchester à Beira-Mar, é que a busca pelo realismo sonoro levou a opções que por vezes quebram com as características básicas, e quase onipresentes nos filmes comerciais, do vocentrismo e verbocentrismo.
    Em uma das cenas mais importante do filme, o protagonista tem a incumbência de informar seu sobrinho sobre o falecimento de seu pai. Enquanto o público se distancia visualmente da conversa, o som das vozes diminui propositalmente até não mais tornarem-se audíveis a não ser por uma ou outra palavra que contextualiza o diálogo. Trata-se de um diálogo de extrema importância que define todo o caminho do enredo posterior e a opção por torná-lo praticamente inaudível caminha na direção de um tipo de realismo sonoro em que a imersão do expectador no contexto e no ambiente da cena supera a importância da compreensão semântica do que está sendo dito.
    Podemos dizer que uma boa parcela do público de cinema não aceita bem este tipo de experiência sonora, o que podemos facilmente comprovar ao verificarmos a enxurrada de críticas sofridas pela mixagem não-vococêntrica de Interestelar (Interestellar, Christopher Nolan, 2014). Acostumada a um tipo de filme que trabalha com o som dos diálogos gravados, editados e mixados com grande intensidade e clareza, essa parcela do público de cinema interpreta a falta de intensidade dos diálogos mais como um “defeito” do filme do que como uma opção estética. No caso de Interestelar, os profissionais de algumas salas de cinema se sentiram na obrigação de informar o público sobre o caráter proposital da falta de intensidade dos diálogos (https://i1.wp.com/nerdbastards.com/wp-content/uploads/2014/11/Cinemark-Interstellar.jpg – acesso em 18/03/2017).
    O presente estudo aborda as razões técnicas e expressivas por trás das cenas que fazem uso da ininteligibilidade intencional dos diálogos no filme Manchester à Beira-Mar, visando compreender as perspectivas dos profissionais de som que trabalham de forma a quebrar os paradigmas do cinema vococentrico e verbocêntrico no cinema comercial norte-americano.

Bibliografia

    ALTMAN, Rick (org.). Sound theory – Sound practice. New York: Routledge, 1992.
    __________. (org.). Yale French Studies – Cinema/Sound. New Haven: Yale University, n°60, 1980.
    BURLINGAME, Jhon. Sound and Vision – Sixty Years of Motion Picture Soundtracks. New York: Billboard Books, 2000.
    CHION, Michel. A Audiovisão: Som e Imagem no Cinema. Lisboa: Texto&Grafia, 2011.
    _________. Film: a Sound Art. New York: Columbia University Press, 2009.
    GORBMAN, Claudia. Unheard melodies – narrative film music. Blommington: Indiana University Press, 1987.
    ROEDER, Juan G. Introdução à Física e Psicofísica da Música. São Paulo: EDUSP, 1998.
    SIDER, Larry et al (org). Soundscape – The school of sound lectures 1998-2001. London: Wallflower, 2003.
    SONNENSCHEIN, David. Sound Design: The Expressive Power of Music, Voice and Sound Effects in Cinema. Los Angeles: Michael Wiese, 2001.
    WEIS, Elisabeth, BELTON, John (org.). Film Sound: theory and practice. New York: Columbia University Press, 1985.