Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Helena Oliveira Teixeira de Carvalho (UFJF)

Minicurrículo

    Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), atualmente é mestranda em Comunicação na mesma instituição, onde pesquisa a obra do cineasta Eduardo Coutinho. Atuou como produtora e editora em alguns trabalhos audiovisuais durante a graduação, como o documentário “Trem de Louco” e a websérie “Memórias Possíveis”. É realizadora, diretora e produtora do curta “TRANSformação”, exibido no Festival Primeiro Plano, de Juiz de Fora (MG), em 2016.

Ficha do Trabalho

Título

    Santo Forte: um diálogo entre Eduardo Coutinho e a história oral

Resumo

    O artigo pretende fazer um estudo da relação entre a entrevista presente no filme Santo Forte (1999), do diretor Eduardo Coutinho, e a metodologia da história oral.Durante o filme, podemos observar, na condução e no tratamento das entrevistas, alguns aspectos característicos da história oral. A sua maneira, Coutinho nos permite estudar as interfaces da narrativa audiovisual e sua relação com a história e a memória.

Resumo expandido

    Fazemos uso da oralidade para contar histórias, expressar sentimentos, transmitir conhecimento e manter viva a memória individual e coletiva. Nesse sentido, a história oral foi o primeiro método utilizado pelo homem para construir narrativas históricas e difundi-las, pois privilegia como ferramenta de pesquisa a realização de entrevistas e depoimentos com pessoas que testemunharam acontecimentos ou participaram de processos históricos. Pode-se dizer que o desenvolvimento dos meios audiovisuais – eletrônicos e digitais – revolucionou esse método, pois o uso do gravador e da câmera possibilitou que os depoimentos fossem gravados e vistos em qualquer época, o que lhe deu o caráter de documento.
    Com a chegada da técnica do som direto, que permite a sincronização entre imagem e áudio, o documentário também passou a explorar os depoimentos orais. No Brasil, a partir de meados da década de 1950, com a influência do cinema verdade/direto, o trabalho dos diretores do Cinema Novo transformou a narrativa documental, tanto no aspecto técnico quanto na temática abordada, deixando o caráter educativo e panfletário, e assumindo uma postura mais reflexiva em relação à situação política, econômica e social do país. A partir de então, a possibilidade de dar voz ao outro, através de entrevistas, torna-se questão importante para os cineastas, sendo cada vez mais presente nos documentários.
    Seguindo essa tendência de exploração de depoimentos orais, porém com o foco voltado para as histórias de vida de pessoas comuns, majoritariamente das classes menos favorecidas economicamente, o cineasta e diretor Eduardo Coutinho teve papel de destaque no cenário do documentário contemporâneo nacional. Considera-se que os filmes do diretor têm um diferencial em relação aos demais documentários, o que se dá pela forma como Coutinho conduz a entrevista, deixando sempre o entrevistado à vontade e convencendo-o a se abrir com ele; pelo tratamento dado às imagens – câmera fixa no entrevistado, alternando apenas os planos – e pela montagem simples, contendo basicamente apenas os depoimentos, com pouca trilha sonora, voz over e imagens externas – elementos que, em algumas obras, chegam a ser inexistentes. Essa opção de montagem se dá pelo pensamento de que “a palavra é geralmente mais visceral. E a imagem quando entra, não pode ser adjetiva” (COUTINHO apud FIGUEIROA; BEZERRA; FECHINE, 2003, p. 218), isto é, quando uma imagem aparece, ela não pode ser apenas uma ilustração do que está sendo falado, como uma prova, ela também precisa contar algo.
    De acordo com Consuelo Lins (2004), essa ideia de se montar um documentário apenas com imagens de pessoas falando, que já havia sido construída anteriormente, se consagrou com o filme Santo Forte (1999). O documentário, que será o foco desse trabalho, abordou a diversidade religiosa brasileira e trouxe entrevistas com moradores da favela Vila Parque da Cidade, localizada na Gávea (Zona Sul do Rio de Janeiro).
    A partir da análise de Santo Forte (1999), podemos observar que Coutinho recorreu à metodologia da história oral para realizar as entrevistas, visto que encontramos nele algumas qualidades que um entrevistador de história oral deve ter, como “respeito pelo outro, interesse por aquilo que ele tem a dizer, capacidade de demonstrar compreensão pela opinião alheia, disposição de escutar atentamente e ficar calado” (THOMPSON, 1992, p.271).
    Diante disso, o presente artigo pretender fazer um estudo sobre o diálogo entre o Eduardo Coutinho e a história oral, analisando como a condução e os procedimentos e técnicas de filmagem influenciam no resultado final das entrevistas. A partir disso, queremos compreender como a narrativa da memória é construída nos meios audiovisuais, especificamente no processo de produção de documentários, provocando uma reflexão sobre as interfaces da comunicação e da história.

Bibliografia

    ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro: 2 Ed. rev. e atual. Ed FGV, 2004B
    BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003
    FIGUEIRÔA, Alexandre; BEZERRA, Cláudio; FECHINE, Yvana. O documentário como Encontro: entrevista com Eduardo Coutinho. In: Galáxia: Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica. PUC-SP, v. 6, São Paulo, 2003. ISSN: 1982-2553
    LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Ed Zahar, 2004
    OHATA, Milton. Eduardo Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2013
    SCARELI, Giovana. Santo Forte: a entrevista no documentário de Eduardo Coutinho, 2009. Tese de Doutorado (Faculdade de Educação) apresentada na Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009.
    THOMPSON, Paul. A Voz do Passado. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1992.