Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Filipe Tavares Falcão Maciel (UFPE)

Minicurrículo

    Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco. Mestre pela Universidade Federal da Paraíba. Especialista pela Universidade Católica de Pernambuco e formado em Jornalismo pela mesma instituição. Docente da Universidade Católica de Pernambuco. Autor dos livros Fronteiras do medo: quando Hollywood refilma o horror japonês, de 2015, e Medo de palhaço: a enciclopédia definitiva sobre palhaços assustadores na cultura pop, de 2017.

Ficha do Trabalho

Título

    Fluxos narrativos acelerados nos remakes de horror contemporâneos

Resumo

    Uma das características mais notáveis dos remakes do século XXI responde pelos ciclos narrativos acelerados em comparação com as obras originais de décadas atrás. No entanto, essas mesmas características fazem parte de todo o cinema mainstream contemporâneo. Para compreender esse padrão estilístico e relacioná-lo à cultura dos remakes, pretendemos investigar as formas como o próprio contexto sociocultural impulsiona tais mudanças e suas consequências para a experiência estética dos espectadores.

Resumo expandido

    O gênero horror começou o século XXI marcado por uma onda de remakes de obras canônicas do passado. O massacre da serra elétrica, 1974; Halloween, 1978; Sexta-feira 13, 1980; Evil dead, 1981; Poltergeist – o fenômeno, 1982; A hora do pesadelo, 1984 e A hora do espanto, 1986, são apenas alguns dos títulos que ganharam refilmagens nos últimos 15 anos.
    De forma bastante generalista, os remakes são considerados mais “rápidos” através de fluxos narrativos acelerados de cortes e planos. Como exemplo, um filme como Sexta-feira 13, de 1980, com 95 minutos, possui 558 planos. Já o remake, de 2009, com duração de 97 minutos, conta com 1741 planos.
    David Bordwell (2006) destaca dentro deste processo as características da continuidade intensificada para os filmes atuais em comparação com a narrativa clássica. Aqui temos a divisão menos clara do roteiro em três atos, a introdução de subtramas em maior número, cenas mais curtas e não-lineares, montagem visual rápida, variação no uso de lentes dentro da mesma cena e movimentos de câmera de maneira quase frenética.
    De modo geral, a maioria das comparações entre remakes e originais destaca estas leituras promovendo análises comparativas entre os títulos. Para a nossa pesquisa, julgamos que tais dados são importantes, porém podem resultar em um trabalho engessado destacando que a maioria dos remakes vai naturalmente possuir uma quantidade maior de planos do que o original. Aqui é importante pontuar que estas características se aplicam a muitos filmes que não são remakes, pois os dados apresentados até o momento não são exclusivos de refilmagens de horror do século XXI, mas sim características gerais do cinema mainstream contemporâneo.
    Neste trabalho, pretendemos aqui analisar a aceleração do fluxo narrativo no cinema como consequência de contextos socioculturais e suas implicações para a experiência estética dos espectadores. Devemos tentar compreender o impacto destas transformações sociais tanto no presente como no passado.
    O pesquisador Ben Singer (2004) afirma que a modernidade provocou um bombardeio de estímulos físicos e sensoriais nas cidades grandes no começo do século XX repletas de trânsito, eletricidade, semáforos e fábricas que passaram a gerir a rotina dos grandes centros urbanos industrializados. Tais ataques sensoriais foram marcados pela intensificação de estímulos impactando no modo de vida de maneira geral incluindo formas de produção e consumo de entretenimento.
    Dentre as várias definições, podemos perceber a modernidade como o surgimento de uma forma coletiva de estímulo e a renovação do nosso aparelho sensorial. O impacto destas transformações nas sociedades desenvolvidas no começo do século XX pode ter contribuído para o cinema evoluir rapidamente dos primeiros filmes mudos e com poucos movimentos de câmera para produtos cada vez mais rápidos, movimentados e barulhentos. Vamos investigar este processo.
    Naturalmente também devemos pensar nas mudanças atuais no audiovisual como o resultado do processo de modernização no final do século XX como consequência do que Gilles Lipovetsky (2004) chama de avanço brutal da globalização e das novas tecnologias de comunicação. Este fenômeno, que ele define como hipermodernidade, também passou a interferir diretamente no comportamento das pessoas. E claro, estas mudanças também reverberam no modo de produção e exibição dos filmes.
    Assim, para o desenvolvimento deste trabalho, vamos escolher um exemplo de refilmagem e original para uma análise comparativa. Posteriormente vamos pontuar como a experiência estética do audiovisual e do modo como as novas tecnologias que surgiram no fim do século XIX e começo de XX moldaram o registro da experiência nas grandes cidades. Dentro deste pensamento, acreditamos ser possível também compreender as mudanças sociais do final do século XX e começo do XXI como igualmente possuindo grande importância com as características estéticas presentes nos remakes contemporâneos de horror.

Bibliografia

    BORDWELL, D. The way Hollywood tells it. London: University of California Press, 2006

    BORDWELL, D; THOMPSHON, K. A arte do cinema – uma introdução. University of California Press, 2014.

    HORTON, A; MCDOUGAL, S. Play it again, Sam: retakes on remakes. California: University of California Press, 1998.

    LIPOVETSKY, G; SÉBASTIEN, C. Os tempos hipermodernos. Barcelona: Anagrama, 2004.

    LIPOVETSKY, G; SERROY, J. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Barcelona: Anagrama, 2007.

    SALT, B. Film style and technology: history and analysis. Londres: Starword, 2009.

    SEEL, M. No escopo da experiência estética. In: PICADO, B; MENDONÇA, C. M. C; CARDOSO FILHO, J (orgs.) Experiência estética e performance. Salvador: Edufba, 2014.

    SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

    SMITH, J. The sound of intensity continuity. In: RICHARDSON, J; GORBMAN, C; VERNALLIS, C (Orgs.) The Oxford handbook of new audiovisual aesthetics. 2013