Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Cristiane do Rocio Wosniak (UNESPAR)

Minicurrículo

    Doutora em Comunicação e Linguagens (linha: Estudos de Cinema e Audiovisual) pela Universidade Tuiutí do Paraná. Mestra pelo mesmo programa. Especialista em Artes. Professora Adjunta da Universidade Estadual do Paraná – campus de Curitiba II/FAP. É líder do GP CINECRIARE (Cinema: criação e reflexão – UNESPAR/CNPq). É membro do GP GRUDES (Desdobramentos Simbólicos do Espaço Urbano em Narrativas Audiovisuais – UTP/CNPq). Área de Atuação: cinema, audiovisualidades, documentário, dança, semiótica.

Ficha do Trabalho

Título

    A (DES)CONSTRUÇÃO TÉORICA DO GESTO NO DOCUMENTÁRIO DE EVALDO MOCARZEL

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    A obra documental de Evaldo Mocarzel é atravessada por experimentos cinematográfico-coreográficos. Suas Cartas de Montagem reiteram a desconstrução gestual do movimento e da sequência dançante na constituição de sua práxis cinematográfica. A partir da Carta enviada ao cineasta Marcelo Moraes e da análise de excertos do filme Canteiro de Obras: São Paulo Companhia de Dança (2010), pretendo demonstrar como um pensamento autoral se reveste em uma teoria posta em prática na montagem cinematográfica.

Resumo expandido

    Nesta investigação pretendo evidenciar o sistema teórico do documentarista brasileiro Evaldo Mocarzel na construção de um pensamento que alicerça a sua práxis cinematográfica e vice-versa. A reflexão se debruça sobre entrevistas, ensaios, a Carta de Montagem enviada ao cineasta Marcelo Moraes (15/10/2008) e sobre o ato cinematográfico daí resultante, o documentário Canteiro de Obras: São Paulo Companhia de Dança (2010). A sistematização de um possível pensamento mocarzeliano calcado no conceito de desconstrução gestual, será cotejada pela verificação do uso reiterado dos procedimentos cinematográficos de falso raccord, da montagem-cut, dos cortes ancorados pela fração de movimento e que, segundo Mocarzel, vão “construir uma miríade de gestos […] um experimento cinematográfico-coreográfico” (MOCARZEL, 2008, p. 5). A Carta de Montagem escrita em tons poéticos, faz uma ode à dança, evidenciando a paixão do cineasta por essa forma de arte e o ensejo recorrente de realizar um “casamento artístico do cinema com a dança” (MOCARZEL, 2016, p. 33) tendo por mediação o movimento. Ao declarar que tanto a dança como o cinema podem prescindir de palavras, exerce esse credo na condução de seu documentário que, em nenhum momento, se utilizará de entrevistas ou depoimentos verbais dos atores sociais que performam sua dança por meio de gestos r(a)presentados e estilhaçados em diferentes locações reverberando um pensamento documental explícito: “documentário pra mim é uma ficção de representação do real… Você vai ali cortar o mundo e reorganizar no processo de montagem….” (MOCARZEL, 2011). Esse pensar-fazer cinema reveste-se, portanto, de um raciocínio icônico cinético. Observa-se em Mocarzel um pensamento ancorado nas premissas de André Bazin (2014) no que se refere à questão da presença do corpo em(na) cena. Mocarzel em seu ensaio intitulado Cinema e dança: diálogos linguísticos em casamentos artísticos marcados pelo movimento (2016), refere-se ao argumento de Bazin para o qual o olhar da câmera cinematográfica cria proximidades e efeitos possíveis de presença a partir de processos como fragmentação e decupagem “potencializando os vestígios da presença captada nos planos” (MOCARZEL, 2016, p. 35). Em uma entrevista na TV, Mocarzel comenta sobre o processo de fragmentação cinematográfica como potência de uma (re)criação de uma presença icônica: “cinema é uma linguagem fragmentária. Você tem que recortar mesmo para tirar proveito nesta reorganização de vida e criar uma verdade documental” (MOCARZEL, 2011). A verdade documental neste ‘filme que dança’ aposta na miríade de movimentos em falsos raccords obsessivos e no desnudamento do corpo como um mosaico de imagens formado a partir de multiperspectivas do olhar da câmera. Em uma entrevista concedida à autora, e posteriormente transcrita, o cineasta menciona o pensamento/método que povoa de forma recorrente a sua composição cinematográfica: a ‘Arquitetura do Inesperado’. Mocarzel (2017, p. 2) afirma: “além de todo o processo, da produção à montagem, da pesquisa à mixagem, estou sempre esperto para uma possível irrupção do inesperado, ou melhor, eu sempre abro espaço para o inesperado na composição do filme.” A filmagem de corpos dançantes sob variados pontos de vista (traquitanas acopladas aos corpos dos bailarinos) exerce uma função significativa nos documentários deste cineasta, cuja ubiquidade da câmera, amplia o conceito da alteridade, com o qual mescla a sua linguagem. Mocarzel parece se nutrir da organicidade e da re(a)presentação do outro em seus filmes, ao afirmar: “fazer filmes, sobretudo documentários, é um diálogo permanente como o outro, em atrito permanente com minhas próprias obsessões linguísticas” (MOCARZEL, 2017, p. 2). Nesta investigação, excertos do filme serão analisados como balizamentos deste ‘arco narrativo mocarzeliano’ em que a linguagem, o conceito e a brecha para o inesperado se (re)tecem constantemente em busca de um pensar-fazer autoral.

Bibliografia

    BAZIN, André. O que é o cinema? São Paulo: Cosac Naif, 2014.
    MOCARZEL, Evaldo. Carta de Montagem endereçada a Marcelo Moraes. Curitiba, 15 out., 2008.
    _______. Cinema e dança: diálogos linguísticos em casamentos artísticos marcados pelo movimento. In: LESNOVSKI, Ana; WOSNIAK, Cristiane. (Orgs.). Olhares: audiovisualidades contemporâneas brasileiras. Campo Mourão: Fecilcam, 2016 (p. 33-54).
    _______. Entrevista concedida ao Programa Sala de Cinema: Evaldo Mocarzel – SESCTV, 2011. Disponível em: . Acesso em: 10 jan. 2017.
    _______. Entrevista concedida à Cristiane Wosniak. Curitiba, 01 mar. 2017.

    Filmografia:
    São Paulo Companhia de Dança. Diretor Evaldo Mocarzel. DVD. Casa Azul, 2010.