Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Marina Mapurunga de Miranda Ferreira (UFRB)

Minicurrículo

    Diretora de som e pesquisadora que atua no campo da arte sonora, da música e do audiovisual. Professora de Som dos cursos de Cinema e Audiovisual e Artes Visuais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Coordenadora do Laboratório de Pesquisa, Prática e Experimentação Sonora – Sonatório (UFRB). Mestra em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF); especialista em Audiovisual em meios eletrônicos (UFC) e em Música para Cinema e TV (CBM-RJ).

Ficha do Trabalho

Título

    O SOM AO VIVO NO CINEMA BRASILEIRO ATUAL

Seminário

    Teoria e Estética do Som no Audiovisual

Resumo

    Este trabalho visa entender como ocorrem as construções e planejamentos sonoros para execução do som ao vivo nas obras: Medo do Escuro (Ivo Lopes Araújo, 2014), Cine-Concerto (O Grivo e Cao Guimarães, 2009-2015) e Carioca era um rio Live Remix (Simplício Neto e os Nefelibatas, 2015). Assim como nos interessa o posicionamento espacial, a intenção dos compositores-intérpretes e como estas construções sonoras ao vivo contribuem para o pensamento sonoro no cinema brasileiro.

Resumo expandido

    No nascimento do cinema, o som não era reproduzido fisicamente no filme. Mas antes dessa reprodução física do som, já havia uma intenção sonora voltada aos filmes. Comentários explicativos do diretor, atores falando atrás da tela, o piano mecânico que “escondia” o barulho do projetor, as improvisações realizadas por músicos eram formas de acompanhamento sonoro. Não havia um espaço fixo para a realização destes acompanhamentos, podiam ser feitos à frente ou atrás da tela. A música como acompanhamento sonoro veio inicialmente para abafar o som dos projetores e evitar distrações do público com outros sons. Segundo Rosenfeld (2002, p. 124), os pianistas e pequenos conjuntos orquestrais costumavam tocar quaisquer peças sem nenhum nexo com o sentido do filme. A orquestra era pouco flexível com pouca capacidade de improvisação e orientada por partituras escolhidas de antemão, sem saber do filme que seria projetado. Os pianistas improvisadores já se permitiam improvisar sobre as cenas. Para o autor, foram estes que procuraram pela primeira vez criar uma atmosfera por meio da música. Posteriormente, em torno de 1920, já havia um banco de músicas de fundo relacionadas com o conteúdo emocional das cenas. Assim, alguns diretores, como David Griffith e Dudley Murphy, começaram a contratar músicos para a criação de partituras para seus filmes. Atualmente, tanto no Brasil como no exterior, temos revisitado o ato de fazer o som ao vivo para os filmes. Alguns destes acompanhamentos sonoros, não são apenas acompanhamentos, mas performances sonoras ao vivo que fazem parte da obra cinematográfica como um todo. Neste trabalho, optamos por escolher três objetos de estudo com formas diferentes de construção sonora ao vivo: Medo do Escuro (Ivo Lopes Araújo, 2014), Cine-Concerto (O Grivo e Cao Guimarães, 2009-2015) e Carioca era um Rio Live Remix (Simplício Neto e Nefelibatas, 2015). Por serem obras realizadas ao vivo, por enquanto, nos limitamos a exibições específicas, pois a cada exibição a obra se modifica. Nosso objetivo é entender como ocorrem essas construções e planejamentos sonoros para execução do som em tempo real, não só pensando nos elementos sonoros, mas também no posicionamento espacial e intenção destes compositores-intérpretes. Também nos importa compreender o que estas construções sonoras ao vivo contribuem para o pensamento sonoro no cinema brasileiro.
    Medo do Escuro é um filme de ficção realizado em uma Fortaleza pós-apocalíptica onde um homem solitário sobrevive. O filme é exibido somente com a “banda do filme”. O som ocorre por meio de sintetizadores, vocalizações, efeitos, samples, objetos, bateria eletrônica e guitarra. A primeira exibição deste filme ocorreu na Mostra Alumbramento (Dez/2014) em Fortaleza. Todo o som é construído ao vivo: música, ruídos, vozes e ambientes. Não há diálogos. O posicionamento da banda é em frente à tela na primeira fila de poltronas do cinema, não no palco. Há uma partitura que orienta entradas, saídas e elementos sonoros a serem executados. A imersão desta exibição de Medo do Escuro ainda é de uma forma cinema. A banda é quase que invisível. Quem chega um minuto depois do filme começar achará que o som vem todo da “tela”. Já Cine-Concerto é uma reunião de vários curtas contemplativos de Cao Guimarães em que O Grivo recria e executa ao vivo o som do filme. O duo se utiliza dos mesmos materiais do som original dos curtas: maquininhas próprias, samples, instrumentos executados de forma não convencional, objetos reutilizados. Teremos como base para estudo a exibição ocorrida no Itaú Cultural de São Paulo em maio de 2013. O Grivo se posiciona no palco abaixo da tela de Cinema. Carioca era um Rio Live Remix é um documentário exibido na Mostra Live Cinema em agosto de 2015 sobre um rio que deu nome aos habitantes da cidade do Rio de Janeiro. A banda Nefelibatas toca no palco abaixo da tela e ao lado da banda o diretor, Simplício, edita as imagens ao vivo e recita textos relacionados ao filme.

Bibliografia

    ALTMAN, R. Sound Theory, Sound Practice. Routledge: New York, 1992.
    DUBOIS, P. Sobre o “efeito cinema” nas instalações de fotografia e vídeo. In: MACIEL, K. (org.). Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2009.
    KAHN, Douglas.Noise, water, meat: a history of sound in the arts. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1999.
    PARENTE, A. A forma cinema: variações e rupturas. In: MACIEL, Katia (org.). Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, 2009.
    ROSENFELD, A. Cinema: Arte & Indústria, São Paulo: Perspectiva, 2002.
    SCHOFIELD, G. Soundtrack-controlled Cinematographic Systems. 163 f. Tese – Newcastle University of Computing Science. Newcastle, 2013.
    SHÖFFER, N. Video: From Technology to Medium. Art Journal, Vol. 65, No. 3, 2006, pp. 54-69.
    WEIDENAAR, Reynold. Live Music and Moving Images: Composing and producing the concert video. In: Perspectives of new music, Vol. 24, 1986, pp. 270-279.