Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Regina Celia da Cruz (UTP)

Minicurrículo

    2015-2018 – Doutorado em andamento em Comunicação e Linguagens (Conceito CAPES 4). Universidade Tuiuti do Paraná, UTP, Brasil.
    2012 – 2014 – Mestrado em Teoria Literária (Conceito CAPES 3).
    Centro Universitário Campos de Andrade, UNIANDRADE, Brasil.
    Título: DO TEXTO À TELA: nunca encontrarei uma resposta que me satisfaça, 2014 Orientador: Luiz Roberto Zanotti. Palavras-chave: Valêncio Xavier; Intertextualidade; Intermidialidade; Adaptação fílmica; O mistério da Japonesa.

Ficha do Trabalho

Título

    Os Onze de Curitiba Todos Nós (1995): Se ele não tivesse lembrado …

Resumo

    Esta pesquisa refere-se a um documentário intitulado Os Onze de Curitiba Todos Nós (1995), produzido pelo cineasta Valêncio Xavier que retoma um episódio de 1978 que trata da prisão de onze professores acusados de ‘doutrinar crianças de uma a seis anos no marxismo’. Nosso foco se ocupa da montagem e da dimensão da tomada como um olhar para a história e revelar o estilo de Xavier na produção cinematográfica apoiando-se na pesquisa teórica de Ismail Xavier e Fernão Pessoa Ramos.

Resumo expandido

    A produção de Valêncio Xavier (1933-2008) passa pelo campo das artes visuais, da comunicação e da literatura que mostra, em sua obra literária e cinematográfica, uma narrativa multifacetada. Escritor, jornalista, historiador de cinema, cineasta, fotógrafo, cenógrafo, artista gráfico, assistente de direção artística, produtor, roteirista, diretor de novelas e de curtas-metragens em vídeos e na televisão onde desenvolveu múltiplas habilidades que se fundem num estilo próprio e inovador para o período.
    Produzido por ele, o documentário Os Onze de Curitiba Todos Nós (1995), narra um episódio polêmico durante a ditadura militar (março de 1978), traz a memória, 17 anos depois, a prisão de onze professores de uma escola infantil (6 homens e 5 mulheres), durante uma semana na sede da polícia federal em Curitiba. Cada um é apresentado somente ao final do filme – nome e formação acadêmica.
    Reconhecido como “experimental e arrojado” tanto no estilo como nos temas tratados em suas produções no campo da comunicação, o cineasta traz a tona esse episódio ‘estranho’ que não teve a devida apuração dos fatos por parte de autoridades, ou sequer esclarecimentos na repercussão da média. A obra contribui para a divulgação de fatos históricos da cidade e do país, uma vez que algumas das pessoas do documentário já haviam sido presas em São Paulo. Como Ligia Mendonça que dá seu depoimento para Beto Carminatti em outro documentário – As muitas vidas de Valêncio Xavier (2011):
    Em março de 78 eles nos prendem. Cinco caras com metralhadoras, vasculhando armários, tirando coisas das paredes. A principal acusação era em relação às crianças. Que a gente doutrinava as crianças no marxismo (criancinhas de um a seis anos que ficavam lá). E que a gente não tinha condutas apropriadas moralmente para educar crianças. Quase vinte anos depois (…). E pouca gente se preocupa em saber o que é para um ser humano essa experiência de ser perseguido de estar trancafiado. No caso ele queria saber mesmo o que é dessa experiência: de ficar confinado. (MENDONÇA, citada em CARMINATTI, 2011)
    No documentário de Carminatti, o cineasta Fernando Severo resume o evento e faz um paralelo com trabalho de outro cineasta:
    (…) criancinhas, segundo a visão da ditadura militar, estavam sendo doutrinadas na doutrina maxista/leninista. Porque é um documentário todo de entrevistas, todo armado ficcionalmente através da entrevista. Então você tem uma história que se desenrola diante dos teus olhos através dos depoimentos. Uma coisa que o Coutinho ia fazer mais tarde, todo mundo considera genial (e é mesmo!), mas que você já encontra embriões desse trabalho no Valêncio. (SEVERO, citado em CARMINATTI, 2011).
    O estilo de Valêncio se destaca na montagem cinematográfica. O pesquisador Ismail Xavier (1977), coloca a questão da “relação entre estilo cinematográfico e ideologia, ou a relação entre método de montagem e certas necessidades de um mundo ficcional particular carregado de uma função e de valores” (XAVIER, 1977, p. 40). (…) a montagem justa será aquela em que “o relacionamento demonstra a essência do fenômeno que nos cerca, pois por trás da montagem há sempre uma intenção de classe”. (KULECHOV, 1935 in: XAVIER, 1977, p. 40-41)
    A montagem revela seu posicionamento e apresenta os professores como testemunhas de um crime do qual foram vítimas e os fatos violentos de grande intensidade, não há o apelo à penalização. As experiências embaraçosas e absurdas, descritas como “sem sentido”, são mostradas com sutil ironia, através das entrevistas e das tomadas. A produção de Valêncio propõe também uma análise sobre o que Fernão Pessoa Ramos chama de “dimensão da tomada” e que a define: “A tomada é a circunstância de mundo a partir da qual, e no transcorrer da qual, a imagem é constituída para/pelo espectador pelo/para o sujeito que sustenta a câmera.” (RAMOS, 2005, p. 159).

Bibliografia

    AS MUITAS vidas de Valêncio Xavier. Direção de B. Carminatti. Brasil: Produção executiva Cristiane Lemos, direção de produção Rosane Lemos. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 2011. 1 dvd (90 min); son.
    OS 11 de Curitiba: todos nós. Direção V. Xavier. Brasil. Imaginarte Produções. Alma Sintética – Companhia de Arte. Kinoglas – cinema e vídeo, 1995. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XYfpfWz3Jog. Acesso em jan/fev. 2016
    RAMOS, F. P. A Cicatriz da Tomada: documentário, ética e imagem-intensa. (in) ________. (org.) Teoria do Cinema Contemporâneo: documentário e narrativa ficcional. v. II. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2005. P. 159-226.
    XAVIER, I. Do Naturalismo ao Realismo Crítico. (in) _________. O Discurso Cinematográfico: opacidade e transparência. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. P. 31-53