Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Débora Lúcia Vieira Butruce (USP)

Minicurrículo

    Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP, mestre em Comunicação e graduada em Cinema pela UFF. Atua na área de preservação audiovisual desde 2000, tendo fundado em 2009 a Mnemosine Serviços Audiovisuais, empresa dedicada ao campo. Tem atuado como coordenadora técnica em projetos de restauração audiovisual e trabalhou em instituições como o Centro Técnico Audiovisual, o Arquivo Nacional e a Cinemateca do MAM-RJ, além de passagens pelo British Film Institute e Filmoteca Española.

Ficha do Trabalho

Título

    Em busca de um conceito de restauração audiovisual

Resumo

    O campo da preservação audiovisual no Brasil vem passando, nos últimos anos, por um processo de amadurecimento que pode ser observado, entre outros fatores, pelo aumento dos estudos sobre a área. No entanto, a restauração audiovisual ainda é tema pouco explorado. Neste trabalho, pretendemos debater o conceito de restauração audiovisual a partir das definições existentes na tentativa de conferir-lhe maior precisão, visto que o primeiro entrave para seu estudo é o impasse conceitual acerca da área

Resumo expandido

    Tema ainda pouco explorado nos estudos sobre preservação audiovisual no Brasil que aumentaram nos últimos anos, a área de restauração audiovisual carece de reflexão mais detida.
    Partiremos dos conceitos sobre restauração de Cesare Brandi (2005), em seu livro A Teoria da restauração, publicado inicialmente em 1963, como uma das bases teórico-metodológicas desta pesquisa. Embora localizadas no campo das artes plásticas, as formulações de Brandi reuniram, ao mesmo tempo, questões filosóficas, éticas e práticas da restauração, dando passos primordiais para a consolidação da área como campo disciplinar e buscando associá-la ao pensamento crítico e às ciências, em contraponto ao empirismo que prevalecera até então. Os conceitos de Brandi – como tratamento da lacuna, reversibilidade das intervenções e historicidade do objeto – foram, desde sua publicação, incorporados pelos profissionais da área, passando a ser adotados em grande escala e impactando profundamente a teoria da conservação moderna. Seus conceitos também impactaram a área de restauração audiovisual, sendo que os debates iniciados a partir da década de 1980, ocorridos, sobretudo, nos congressos da FIAF (Federação Internacional de Arquivos de Filmes) em 1986 e 1987, também tiveram como base a teoria desenvolvida por Brandi.
    Segundo o autor – talvez seja esta a chave do conceito de restauração de Brandi – a restauração dos objetos de arte não deve satisfazer à mera função de recuperação da integralidade de um objeto, uma vez que está intervindo não em um objeto industrial stricto sensu, mas em um objeto reconhecidamente artístico, e cuja intervenção deve se balizar fundamentalmente por essa condição.
    Embora a área audiovisual tenha chegado bem mais tarde a esta discussão, a lacuna teórica sobre a restauração audiovisual vem, paulatinamente, sendo preenchida, sobretudo a partir dos anos 2000. Neste sentido, utilizaremos as premissas teóricas do campo da preservação e restauração audiovisual. As reflexões de Paolo Cherchi Usai, principalmente as expressas em seu artigo “Film as an art object” (2002), serão cotejadas com os conceitos de Brandi. Embora Cherchi Usai não trabalhe diretamente com o campo da restauração, existem interseções com o tema por conta de sua inserção na área de preservação audiovisual e seus estudos sobre cinema silencioso. O livro de 2010 de Giovanna Fossati, “From grain to pixel”, é voltado para os arquivos de filme e contém formulações importantes sobre preservação e restauração audiovisuais, áreas que, segundo a autora, se transformaram substancialmente com o advento da tecnologia digital. A primeira parte de seu estudo, cujas premissas teóricas serão abordadas por este trabalho, se direciona para a configuração histórica atual, de transição tecnológica, e analisa quais as questões que esta transformação acarreta. A segunda parte é dedicada aos estudos de caso de restauro audiovisual.
    Especificamente sobre restauração audiovisual utilizaremos as discussões mais recentes desenvolvidas por Andreas Busche, Arianna Turci e Julia Wallmüller. A publicação de Paul Read e Mark-Paul Meyer, “Restoration of motion picture film” (2000), bastante abrangente, é voltada, majoritariamente, para as questões técnicas da área.
    No âmbito brasileiro, a tese de Carlos Roberto Souza, “A Cinemateca Brasileira e a preservação de filmes no Brasil”, de 2009, será essencial para o entendimento do percurso histórico da preservação audiovisual no Brasil e de como os conceitos sobre a atividade de restauração audiovisual foram apreendidos em uma das maiores instituições dedicadas à salvaguarda do patrimônio audiovisual brasileiro.
    Este trabalho visa contribuir para o aprofundamento do debate dos conceitos sobre restauração audiovisual na tentativa de estabelecer algumas balizas teóricas e, desta forma, auxiliar a ampliação e a qualificação da discussão sobre o tema no Brasil.

Bibliografia

    BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. SP: Ateliê Editorial, 2005.
    BUSCHE, Andreas. Just another form of ideology? Ethical and methodological principles in film restoration. The Moving Image, Vol. 6, N. 2, 2006, pp. 1-29. Univ. of Minnesota Press.
    CHERCHI USAI, Paolo. Film as an art object. Danish Film Institute, 2002.
    _________________. Silent Cinema: an introduction. London: BFI, 2000.
    FOSSATI, Giovanna. From grain to pixel: the archival life of film in transition. Amsterdam University Press, 2010.
    READ, Paul; MEYER, Mark-Paul. Restoration of Motion Picture Film. Oxford: Butterworth-Heinemann, 2000.
    SOUZA, Carlos Roberto de. A Cinemateca Brasileira e a preservação de filmes no
    Brasil. Tese de Doutorado, ECA-USP, SP, 2009.
    TURCI, Arianna. Digital restoration within european film archives (tese). Univ. of Amsterdam, 2004.
    WALLMÜLLER, Julia. Criteria for the Use of Digital Technology in Moving Image
    Restoration. The Moving Image, Vol. 7, N. 1, 2007, pp. 78-91. Univ. of Minnesota Press.