Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Tallyssa Izabella Machado Sirino Rezende (UNIOESTE)

Minicurrículo

    Doutoranda em Letras, pela Unioeste, pesquisando sobre a autora brasileira Carolina Maria de Jesus a as relações de suas obras com o cinema. Mestre em Letras, pela mesma instituição. Atualmente, é professora colaboradora na Unicentro – Universidade Estadual do Centro-Oeste.

Ficha do Trabalho

Título

    O encontro da palavra em Carolina Maria de Jesus e João Candido

Resumo

    Este estudo se propõe a refletir sobre as diferentes nuances assumidas pela palavra em O papel e o mar (2010), curta-metragem, de Luiz Antonio Pilar, que ficcionaliza um encontro entre a escritora brasileira Carolina Maria de Jesus e João Candido, o almirante negro, o líder da revolta da chibata. Para tanto, busca-se respaldo teórico em Hutcheon (2011), Deleuze (1989), Derrida (2009) e Bakhtin (2002).

Resumo expandido

    Carolina Maria de Jesus, em Quarto de despejo (1960), cita o almirante negro, João Candido. A partir desta citação, há a criação ficcional do encontro entre os dois, pelo curta-metragem O papel e o mar (2010). No curta, há apenas esses dois personagens, que caminham e discutem sobre suas relações distintas e similares com a palavra: Carolina, com o papel, João Candido com o mar. Carolina foi a escritora das margens que escreveu a partir dela, escrevia em cadernos usados encontrados no lixo que catava para sobreviver. João Candido foi o líder da revolta da chibata, portanto, ambos ocupam um lugar de contestação da posição social que lhes é imposta.

    Nesse sentido, este estudo pretende refletir sobre as diferentes nuances assumidas pela palavra na ficcionalização literária e fílmica – Quarto de despejo (1960) e O papel e o mar (2010), no que se refere aos modos de engajamento das adaptações. Para tanto, buscamos suporte em Linda Hutcheon (2011):

    Mas com a travessia para o modo mostrar, como em filmes e adaptações teatrais, somos capturados por uma história inexorável, que sempre segue adiante. Além disso, passamos da imaginação para o domínio da percepção direta, com sua mistura tanto de detalhe quanto de foco mais amplo. O modo performativo nos ensina que a linguagem não é a única forma de expressar o significado ou de relacionar histórias (HUTCHEON, 2011, p. 48).

    Conforme a autora canadense, a diferença entre a leitura da obra literária e outras mídias que seguem adiante – como é o caso do cinema, é a transição da imaginação para transição direta, de modo que já não é possível abaixar o livro para o colo e refletir sobre como, enquanto leitores, imaginamos determinada cena ou que significação determinada narração terá em nossa reflexão sobre a leitura que fazemos.

    Mas, qual é o fio condutor para a adaptação? Gilles Deleuze (1989) reforça que, quando se tem uma ideia em cinema, esta ideia é diferente da ideia que se tem em romance – ou literatura, em geral – mas, ao decidir adaptar uma obra literária, um cineasta tem ideias em cinema que fazem eco àquilo que o romance apresenta. No que se refere a O Papel e o mar (2010) e Quarto de despejo (1960), o eco entre as obras é a palavra como contestação e esta relação é construída de forma interrelacionada, porém diferente, nas duas obras.

    A relação com a palavra é forjada no próprio texto que cada um desses personagens constrói. E ele é um jogo de adivinha ou de esconde-esconde com o leitor, conforme aponta o pai da desconstrução:

    Um texto só é um texto se ele oculta, ao primeiro encontro, a lei de sua composição e a regra de seu jogo. Um texto permanece, aliás, sempre imperceptível. A lei e a regra não se abrigam no inacessível de um segredo, simplesmente elas nunca se entregam, no presente, a nada que se possa nomear rigorosamente uma percepção (DERRIDA, 2005, p. 7).

    Esse jogo é trazido também para o modo mostrar – característico do cinema, uma vez que, para Derrida, tudo é texto, no sentido de que tudo é discurso, feito no e pelo discurso. Porém, é a forma como o jogo é construído que será diferente.

    Considerando, portanto, a escritura um jogo, nele encontramos as personagens que guiam este estudo: Carolina e João Candido; cada qual à sua maneira, em seu jogo textual, como personagens intimamente ligados à palavra que, ora mostram ora escondem suas intenções e relações com o texto e a palavra. Consideramos, ainda, que o texto é um emaranhado de vozes, conforme postula Bakhtin (2002), portanto, tanto a obra fílmica se proveu da ligação proposta pela obra literária, quanto a obra literária, na voz da própria Carolina Maria de Jesus ao retomar a voz de João Candido, em Quarto de despejo (1960).

    Assim, essas relações rizomáticas serão aprofundadas e questionadas, por meio da análise da construção estética da palavra nas duas obras, considerando a especificidade de seu modo de engajamento.

Bibliografia

    BAKHTIN, Mikhail Mikhaæilovich. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Hucitec/Annablume, 2002.
    DELEUZE, Gilles. Cinema 1 – A imagem-movimento. Tradução de Stella Senra. São Paulo: Brasiliense, 1985.
    _________. Cinema 2 – A imagem-tempo. Tradução de Eloísa de Araújo Ribeiro. São Paulo: Brasiliense, 1990.
    _________. O ato de criação. Folha de São Paulo, v. 27, p. 4, 1989.
    DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 2. São Paulo: Editora 34, 2005.
    DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. São Paulo: Perspectiva, 2009.
    _________. Farmácia de Platão, A. Editora Iluminuras Ltda, 2005.
    _________. Gramatologia. São Paulo: Perspectiva, 2008.
    JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2007.
    HUTCHEON, Linda. Uma teoria da adaptação. Ed. da UFSC, 2011.
    Pilar, Luiz Antonio. O papel e o mar. Lapilar produções, 2010.