Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Christine Pires Nelson de Mello (PUC-SP)

Minicurrículo

    Christine Mello é pesquisadora em comunicação e arte, crítica e curadora. Autora de Extremidades do vídeo (Senac, 2008) e coautora de Tékhne (MAB, 2010). Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica e do Curso Artes do Corpo da PUC-SP, assim como do Curso de Artes Visuais, e da Pós-Graduação Lato Sensu em Fotografia da FAAP. Possui pós-doutorado pela ECA-USP, sendo doutora e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

Ficha do Trabalho

Título

    Doug Aitken, narrativas multiplataformas, performance e audiovisual

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Com o objetivo de promover aproximações críticas com as práticas pós-mídia que relacionam narrativas multiplataformas, performance e audiovisual, a presente comunicação busca refletir o trabalho Black Mirror (2010) de Doug Aitken. Estas novas estruturas narrativas organizam-se a partir de processos coletivos, permitindo a ativação de comunidades ligadas em rede.

Resumo expandido

    Numa revisão crítica empreendida às práticas artísticas em 1999, Rosalind Krauss chama a atenção sobre o quanto as mídias se encontram profundamente contaminadas e ideologizadas na nossa cultura, a ponto de necessitarem de uma redefinição e expansão em seus conceitos, na medida em que não há mais condição de observá-las em seus segmentos ou em suas especificidades. Para ela, só é possível pensar a estética contemporânea considerando a mídia como fator agregador, tanto na sociedade quanto no campo geral da criação artística. Para tanto, afirma ser necessário expandir o espaço das produções significantes e abandonar a análise de cada uma das obras em separado ou a análise de cada uma das mídias em seus contextos específicos de linguagem.
    À ampla profusão, disseminação e contaminação das mídias nas práticas sociais, culturais e artísticas, Krauss denomina condição pós-mídia. Para ela, a crítica às práticas artísticas só fará sentido tomando-se em conta a noção de mídia para além das convenções de seus códigos e de suas propriedades particulares.
    A presente comunicação pretende refletir sobre práticas pós-midiáticas por meio dos deslocamentos, passagens e contaminações entre as multiplicidades do cinema e das artes em um panorama de agenciamentos estéticos e tecnológicos. Nesse contexto, nas últimas décadas, é possível observar a multiplicidade das intersecções entre cinema e arte a partir de experiências promovidas pelas narrativas multiplataformas, que interconectam múltiplas plataformas comunicacionais às instalações audiovisuais, à performance e à mobilidade. Estas novas estruturas narrativas organizam-se a partir de processos coletivos, permitindo a ativação de comunidades ligadas em rede.
    Com o objetivo de promover aproximações críticas com as práticas pós-mídia que relacionam narrativas multiplataformas, performance e audiovisual, a presente comunicação busca refletir o trabalho Black Mirror (2010) de Doug Aitken. Com ele, observamos tensões e experiências constituídas nas dobras entre ficção e realidade, entre global e local, entre arquivo e memória, entre espaços físicos e virtuais – os chamados espaços intersticiais – nos trânsitos entre o cinema contemporâneo, a instalação audiovisual, o live cinema, as plataformas digitais em rede, internet, blog, mobilidade, arquivos, bancos de dados, livro de artista, dança, música e ações performáticas na esfera pública.
    O trabalho aborda problemas de ordem narrativa, relacionados a redes sociais, ações performáticas e arquivos audiovisuais, organizados por meio de situações nômades e dispersas, em incessantes processos de desconstrução, contaminação e compartilhamento.
    Esses agenciamentos entre plataformas entrecruzadas de comunicação instigam não apenas um debate sobre novos modos de pensar e constituir narrativas, mas também instrumentais próprios de leitura para a abordagem de poéticas emergentes. Trata-se de observar narrativas que se constroem nas extremidades, nas linhas fronteiriças entre organização vital e múltiplas linguagens, entre condições de vida, forma estética e experiência social.
    Abordada como arte, as narrativas multiplataformas em suas relações com a performance e o audiovisual são aqui compreendidas não apenas em seus aspectos não-lineares e colaborativos mas também como uma forma de ficcionalização do real. Tais problemas são enfatizados em torno da experiência cotidiana, trazendo, com isso, dimensões de sociabilidade, indeterminação e incerteza.
    Black Mirror de Doug Aitken incita, portanto, ao modo de Rosalind Krauss, a análise de trabalhos sob a forma de uma especificidade diferenciada, como um modo de reinventar e rearticular as intersecções entre arte e cinema já em um novo ciclo cultural.
    Como força que atravessa, o presente estudo tem como interesse tirar o foco do “específico” de cada uma das ações e linguagens envolvidas em torno da construção narrativa, problematizando na ativação de comunidades os seus principais aspectos poéticos.

Bibliografia

    AITKEN, Doug. Black Mirror. Atenas/Nova Iorque: Deste/Artbook, 2011.
    CAIRES, Carlos. A narrativa fílmica interativa: estratégias para a participação do público. Disponível em: https://artes.porto.ucp.pt/sites/default/files/programa_final_coloquio_narrativa_media_cognicao.pdf. Acesso: 18.05.16.
    COSTA, Luiz Claudio da. A gravidade da imagem: arte e memória na contemporaneidade. Rio de Janeiro: Quartet/FAPERJ, 2014.
    CVEJIC, Bojana; VUJANOVIC, Ana. Public sphere by performance. Berlim: B_book, 2015
    FOSTER, Hal. O retorno do real. São Paulo: Cosac Naify, 2014.
    KRAUSS, Rosalind. A voyage on the North Sea: Art in the age of post-medium condition. Thames & Hudson, Londres, 1999.
    MELLO, Christine. Extremidades do vídeo. São Paulo: Senac, 2008.
    MICHAUD, Philippe-Alain. Filme: por uma teoria expandida do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto, 2014.
    PARENTE, André (org.). Cinema/Deleuze. Campinas: Papirus, 2013.