Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Andressa Gordya Lopes dos Santos (UNICAMP)

Minicurrículo

    Andressa Gordya Lopes dos Santos é mestranda do PPG em Multimeios do Instituto de Artes da UNICAMP, graduada em Cinema e Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/FAP e cursou Filosofia na UFPR. É membra da Associação Paranaense de Imprensa, cronista no site de jornalismo literário Parágrafo 2, cobriu o Olhar de Cinema – Curitiba Int’l Film Festival para o portal de cultura A Escotilha e foi co-fundadora da Organização Universo Racionalista.

Ficha do Trabalho

Título

    Mad Max: Masculinidades em crise e nuances homoeróticas em Wasteland

Resumo

    Uma ode à masculinidade e, ao mesmo tempo, uma crítica, a saga Mad Max de George Miller é a obra do clássico herói que simultaneamente mostra-se anti-herói. Sua relação com os carros, com a potência quase erótica do ronco dos motores ovaciona a imprudência masculina. Como um ícone da modernidade convincente, o carro encapsula a impaciência e a irracionalidade da masculinidade contemporânea. Porém, ao mesmo tempo em que a virilidade se afirma, sutilmente há elementos que a desconstroem.

Resumo expandido

    Este artigo é uma extensão de minha monografia feita como trabalho de conclusão da graduação em Cinema e Vídeo da UNESPAR/FAP, intitulada “A desconstrução das relações de gênero, as relações de poder e a potência da maternidade no universo Mad Max” que esteve focada, porém, nas questões que envolviam a representação do feminino no último filme da saga, Estrada da Fúria (2015). Contudo, devido ao contexto social atual em que as constantes discussões acerca das representações de gênero e sexualidades marginalizadas não permitem mais o domínio das representações de um gênero em detrimento de outro, a representação da masculinidade viril começa a ser questionada. Tal abertura de caminhos resultou em um incrível aumento de interesse por questões de etnia, masculinidade e sexualidades híbridas no cinema.

    Sendo Mad Max um expoente do puro gênero de estrada, a masculinidade motorizada está localizada dentro das fantasias de violência, liberdade e libertação. Fantasias estas que são realizadas em oposição ao conceito de família, direito e controle, ou seja, longe da histórica colagem linear entre homens e espaço público, mulheres e espaço privado (ABOIM, 2012). A análise funciona como um diagnóstico de escopofilia, psicopatia e as várias manias homicidas que se fundem dentro desse conceito de masculinidade. Lançado primariamente em 1979, a saga Mad Max muito sutilmente apresentou nuances nas representações de gênero de seus personagens, seja pela queda da família tradicional no primeiro filme, pelas relações homoeróticas implícitas e sua proximidade com o sadomasoquismo em A Caçada Continua (1981) ou pela quase ridícula representação da masculinidade alienada em Estrada da Fúria (2015). É interessante citar que a existência de filmes como estes, que compõem a obra de George Miller no contexto industrial ao qual estão inseridos e suas subversões de gênero, trazem questionamentos muito pertinentes devido ao enorme acesso que um filme distribuído para as massas possui. Portanto, é necessário discorrer, a priori, sobre as questões mercadológicas que envolvem o cinema de gênero, no qual Mad Max se enquadra, uma vez que isso influi diretamente no tipo de discurso que é reproduzido no filme.

    Em uma análise mais estrutural do comportamento masculino e de sua reprodução da tela de cinema, podemos encontrar rachaduras nessa masculinidade afirmada que se impõe ao homem. Sergio Gomes da Silva, em seu artigo ‘Masculinidade na história: a construção cultural da diferença entre os sexos’, afirma que o homem estaria sendo colocado em xeque, pois estaria perdendo a noção de sua própria identidade, passando a buscar uma melhor descrição de si. Este fato conjuraria um certo mal estar dos homens acerca de suas atuais faltas (ou excessos) de referências sobre o masculino (SILVA, 2000). Silva atesta também que, a preocupação com uma possível feminilização por parte de alguns homens fez com que investissem e construíssem para si uma série de papéis e traços representativos da sua condição masculina, cultivando mais do que nunca a sua masculinidade e a sua virilidade, caracterizando também a primeira crise de identidade masculina.

    Dito isto, este artigo pretende fazer uma ponte com o pessimismo de Max diante de um mundo em que ele sente não se encaixar, as regras da polícia, os códigos morais vigentes e as regras familiares o frustram e o sufo
    cam, por mais que ame sua esposa e seu filho. As gangues de motos e carros híbridos exibem uma necessidade constante de aprovação do eu masculino cuja imprudência nas estradas é impensada e leva muitos à morte. A proposta, então, é de analisar o conceito de masculinidade construído nos filmes, suas críticas, contradições e idiossincrasias; apontar as dualidades comportamentais que denunciam tal masculinidade como inquestionável e, por fim, questionar sobre como o homoerotismo é construído nos filmes e se ele é apenas um aspecto da narrativa ou um contraponto crítico intencional a essa virilidade compulsória.

Bibliografia

    ALTMAN, R. Los géneros cinematográficos. Barcelona; Buenos Aires; México: Paidós, 2000.
    BADINTER, Elisabeth. XY: sobre a Identidade Masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
    BIBER, Katherine. The Threshold Moment: Masculinity at Home and on the Road in Australian Cinema. Limina 7 (2001), p. 26-46.
    BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina Revisitada. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 1999.
    COHAN. Steve. HARK. Ina Rae. The Road Movie Book. London: Routledge. 1997. 1ª Edição.
    MULVEY, Laura. Prazer Visual e cinema narrativo. Ismail Xavier (org). A experiência do cinema. Graal Embrafilme. Rio de Janeiro – RJ, 1973, p. 437-453.
    PAIVA, Cláudio. Imagens do homoerotismo masculino no cinema: um estudo de gênero, comunicação e sociedade. Bagoas: estudos gays – gêneros e sexualidades. V. 1, n. 1, jul./dez., 2007.
    TURNER, Graeme. National Fictions: Literature, Film and a Construction of Australian Narrative. St. Leonards: Allen & Unwin. 2ª Edição, 1993.