Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro de Araujo Nogueira Tinen (Unicamp)

Minicurrículo

    Pedro Tinen é mestrando no programa de pós-graduação em Multimeios na Unicamp, onde pesquisa sobre o erotismo e as políticas identitárias no cinema do diretor japonês Nagisa Oshima, com orientação de Gilberto Alexandre Sobrinho. Com graduação em Comunicação Social, entre 2013 e 2014, realizou uma pesquisa de iniciação científica na área de cinema queer e ficção científica, com orientação de Karla Bessa.

Ficha do Trabalho

Título

    Desejo e nacionalismo em Tabu, de Nagisa Oshima

Resumo

    Tabu (1999), do diretor japonês Nagisa Oshima, aborda o desejo homoerótico enquanto temática e estética. Inserido no gênero jidaigeki (drama de época), Tabu se volta para o momento anterior à criação do estado moderno japonês para inferir sobre como o imaginário nacionalista emergente é articulador da produção de desejo. Este trabalho busca, a partir da problemática queer e feminista, analisar o potencial crítico das estratégias cinematográficas de Oshima ao elo entre corpo, desejo e nação.

Resumo expandido

    O diretor Nagisa Oshima, um dos principais expoentes da Nouvelle Vague Japonesa, ou Nuberu Bagu, como foi chamada pelos próprios japoneses, foi um dos mais importantes diretores do cinema japonês e mundial. Conhecido no Brasil principalmente pelo filme O Império dos Sentidos, Oshima é reconhecido pelo seu caráter transgressor e radical, exposto ao longo de sua filmografia, que se estendeu de 1959 até 1999. Tendo empregado com frequência o erotismo e a sexualidade como recursos de subversão das narrativas do sistema patriarcal japonês, em seu último filme, Tabu (Gohatto, 1999), ele abordou a homossexualidade, tratando da constituição da sexualidade masculina japonesa.
    O filme discute o Nanshoku termo geralmente traduzido como “erotismo masculino” e que fazia parte do Bushido, código de ética da classe samurai. O tema do desejo sexual entre homens é contado em meio à história da milícia Shinsen, criada no final do período Edo (1603 – 1867) para proteger o Shogunato Tokugawa das forças modernizadoras que se instalam no poder durante o período Meiji (1868 – 1912). Até o final do período Edo, o Japão, de maneira geral, tratava com naturalidade o desejo entre pessoas do mesmo sexo. É somente a partir da implantação do projeto de “nacionalismo oficial” (ANDERSON, 1986: 147) enquanto política de Estado e durante o processo de modernização da era Meiji, que o país começa a importar do ocidente o estigma das relações homossexuais, e quando as práticas do Nanshoku passam a ser taxadas como incoerentes com a noção de civilização que o Japão buscava adotar.
    Em Tabu, o homoerotismo é tanto uma temática quanto estética. Do ponto do vista temático, ele aponta, com certo grau de pessimismo, para uma revisão histórica, partindo das perspectivas do conflito sexual, do erotismo e da fragilidade das instituições políticas. Enquanto, do ponto de vista estético, há um deslocamento da escopofilia e do voyeurismo heteronormativo do cinema narrativo, tendo em vista que o jogo de olhares, intra e extra diegéticos, são submetidos ao olhar da curiosidade e do desejo homossexual. Um desejo que reconstitui os ideais de masculinidade que compõe a corporalidade do homem japonês.
    Dando atenção para como o pensamento nacionalista é produtor de um corpo erotizado, a partir de práticas normatizadoras do desejo, destaca-se a importância de uma leitura queer do filme. Este trabalho faz essa leitura abarcando as questões levantadas na Teoria Queer por Judith Butler (1990) e também partindo das discussões sobre sexualidade e nacionalismo colocadas por Michel Foucault (1976) e Benedict Anderson (1986). O livro seminal de Butler, Problemas de Gênero, foi um importante marco para estabelecer as bases da desconstrução da noção de gênero como uma construção cultural sobre um corpo sexuado, hegemonicamente presente no pensamento feminista no início dos anos de 1990. Na discussão que trata especificamente dos estudos queer no Japão, utilizo como textos base: o livro Cartographies of desire: Male-male sexuality in Japanese discourse, 1600-1950, de Gregory Pflugfelder (1999) e o artigo Nagisa Oshima’s Vast Historical Project and the Theme of Homoeroticism in Taboo (Gohatto), de Yoshihiro Yasuhara (2007).
    No que se refere aos estudos fílmicos, a análise parte do trabalho das teóricas: Teresa de Lauretis (1987) e Laura Mulvey (1989). Dois nomes importantes na consolidação de uma análise fílmica crítica, considerando a pertinência de se apropriar da noção de gênero (gender) como ferramenta privilegiada para adentrar a proliferação de imagens e a reiteração de um imaginário cinematográfico.

Bibliografia

    ANDERSON, Benedict. Imagined communities: reflections on the origin and spread of nationalism. Londres: Verso, 1986.
    BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1990.
    DE LAURETIS, Teresa. Technologies of gender: essays on theory, film, and fiction. Bloomington: Indiana University Press, 2010, c1987.
    FOUCAULT, Michel. Historia da sexualidade 1: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2006, c1976.
    MULVEY, Laura. Visual and other pleasures. Bloomington; Indianapolis: Indiana University, 1989.
    PFLUGFELDER, Gregory M. Cartographies of desire: Male-male sexuality in Japanese discourse, 1600-1950. Berkeley: University of California Press,1999.
    YASUHARA, Yoshihiro. “Nagisa Oshima’s Vast Historical Project and the Theme of Homoeroticism in Taboo (Gohatto)”. In: Literature/Film Quarterly, v. 35, n. 1, 2007, p. 350-357.