Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    JOSE CLAUDIO S CASTANHEIRA (UFSC)

Minicurrículo

    Doutor em comunicação pela Universidade Federal Fluminense. É professor e coordenador do curso de Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador nas áreas de música, estudos do som e cinema. É um dos colaboradores no livro Reverberations: The Philosophy, Aesthetics and Politics of Noise (2012), editado por M. Goddard, B. Halligan e P. Hegarty e no livro Small Cinemas in Global Markets: Genres, Identities, Narratives (2015), editado por L. Giukin, J. Falkowska e D. Nasser.

Ficha do Trabalho

Título

    POR UM PUNHADO DE DÓLARES(?): POP E MAINSTREAM NA MÚSICA E NO CINEMA

Resumo

    A Cultura Pop é usualmente identificada como elemento inseparável da produção cultural mainstream. Mais do que reavaliar as separações entre obra de arte legítima e produtos massivos ou entre alta e baixa cultura, a Cultura Pop traz um novo modo de apropriação de objetos culturais e de sua circulação em nível global, reterritorializando questões locais, afetos e pertencimentos. Este trabalho busca na relação entre o cinema e a música Pop elementos para melhor entender essas dinâmicas.

Resumo expandido

    Tanto na música quanto no cinema, a associação entre o Pop e o Mainstream é quase imediata. É necessário problematizar essa relação e perceber nuanças que não são resumidas tão facilmente a uma separação entre produtos “artísticos” plenos e aqueles destinados a um consumo rápido, menos “nobre”. Este trabalho se propõe a identificar essas dinâmicas complexas tomando como objeto o cinema em sua relação com a música pop.
    Em relação à Pop Art devemos atentar para o fato de que artistas como Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Tom Wesselmann não tiveram seu trabalho recebido de maneira uniforme por público e crítica. Andreas Huyssen (1987) aponta que na Alemanha, por exemplo, a Pop Art era vista, sobretudo pelos jovens, como crítica a um tipo de sociedade consumista. Para Huyssen, o Pop, de forma mais ampla, dialogava com os desejos políticos da nova esquerda. Mesmo entre os autores da Escola de Frankfurt, críticos da indústria cultural, havia sutilezas na forma de perceber essas novas manifestações. Enquanto para Adorno a arte séria não deveria se preocupar com a reprodução da realidade, contando com mecanismos discursivos próprios e inerentes a ela, para Marcuse a representação dessa realidade teria o poder de subverter a utopia retratada pela arte burguesa: a beleza encontraria uma nova encarnação ao “expressar a realidade e a alegria na realidade” (MARCUSE, 2009, p. 97).
    Mais do que colocar em xeque as oposições entre alta e baixa culturas, entre obra de arte e produto industrial ou entre popular e refinado, o que tanto o cinema quanto a música pop fizeram foi trabalhar em cima de uma identificação afetiva que, funcionando em nível global, tende a se apropriar dos traços culturais locais em função de um novo território cosmopolita. Essa reterritorialização se alimenta da circulação de referências materiais e culturais que acabam determinando os modos de produção e de recepção. Essa circulação, que até pode ser associada a um modelo mainstream, mas que não precisa ser necessariamente massiva, possui mecanismos próprios de criação de sentimentos de pertença e de exclusão e funciona, igualmente, dentro de uma temporalidade própria. As majors, tanto do cinema quanto da música, aproveitam-se dessa aura de distinção produzida por determinadas obras pop (muitas vezes elevadas a objeto de culto), reunindo sob o seu controle estúdios ou produtoras indie ou selos voltados para mercados de nicho. Ao mesmo tempo, os ditos artistas independentes aproveitam-se da estrutura dos grandes conglomerados para alcançar um público maior (e um melhor retorno financeiro). O fato é que, muitas vezes, o caráter pop de tais produtos pode até ser calculado pela indústria, mas sua efetiva repercussão entre os diferentes tipos de consumidores ainda é imprevisível.
    O uso da música pop como atrativo principal de produções cinematográficas, especialmente a partir dos anos 1970, deixou bastante evidente essa relação entre as duas indústrias. Os bons retornos de bilheteria sinalizaram com a possibilidade de um filme atrair um público jovem e ávido por novas experiências. A vivência do filme, nos dizeres de David Cook, “não como uma narrativa, mas como um show de rock” (COOK, 2002, p.55), modifica não apenas a maneira como esse público frequenta esses espaços tradicionais – revendo o mesmo filme inúmeras vezes, cantando junto as músicas, comprando a trilha sonora –, mas também estimula a participação mais ativa desses espectadores tanto fora da sala de cinema – no autorreconhecimento como fã e no compartilhamento de experiências comuns –, quanto dentro da própria sala, durante a exibição do filme – como no caso das performances que se tornaram tradicionais nas projeções de Rocky Horror Picture Show (Jim Sharman, 1975), por exemplo.
    A análise de alguns desses filmes musicais será oportuna, inclusive, para o estudo das estratégias de alimentação recíproca que tanto a indústria do filme quanto a indústria fonográfica estabeleceram a partir desse período.

Bibliografia

    ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. A dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
    COOK, D. A. Lost Illusions: American cinema in the shadow of Watergate and Vietnam, 1970-1979. Berkeley: University of California Press, 2002.
    HUYSSEN, A. After the great divide: Modernism, mass culture, postmodernism. Bloomington: Indiana University Press, 1987.
    JANOTTI JR., J. Cultura Pop: entre o popular e a distinção. In: SÁ, S. P.; CARREIRO, R.; FERRARAZ, R. (Orgs). Brasília: Compós, 2015
    MARCUSE, H. Negations: Essays in critical theory. Londres: MayFlyBooks, 2009.
    MARTEL, F. Mainstream: A guerra global das mídias e das culturas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.