Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Matheus Batista Massias (UFSC)

Minicurrículo

    Formado em Letras Língua Inglesa pela Universidade Estadual do Pará em 2014, atualmente está concluindo o mestrado em Inglês (Estudos Linguísticos e Literários) pela Universidade Federal de Santa Catarina. Tem como prioridade os estudos críticos e teóricos no cinema, e sua dissertação é sobre cinema de autor a partir dos trabalhos dos irmãos Coen.

Ficha do Trabalho

Título

    Western vs. Wuxia: Um Possível Ponto de Convergência para o Feminismo?

Resumo

    O Western e o wuxia são dois gêneros onde a presença feminina é algo notável: no Western, geralmente, o papel da mulher é relegado, meramente ilustrado como dona do lar, mãe, ou esposa; em contrapartida, no wuxia, as mulheres parecem ter agência e aparentam ser motivadas para além de desejos maternais ou matrimoniais. Intrigado pela ausência de estudos sobre o cinema asiático na SOCINE, filmes de ambos os gêneros são escolhidos a fim de analisar se é pertinente estudá-los como filmes feministas.

Resumo expandido

    O Western e o wuxia são dois gêneros cinematográficos que têm uma forte carga identitária e nacional. O Western, de acordo com André Bazin, é um gênero americano por excelência; enquanto que o wuxia é um gênero, cinematográfico e também literário, intrinsecamente ligado à China e outras comunidas que também compartilham da mesma língua. Diferentes em seus contextos, há pontos em que tais gêneros convergem, como, por exemplo, entre algumas motivações dos personagens principais, o aparecimento de um problema para a então resolução deste na trama, sequências de ação ou luta que ilustram o clímax dos filmes, relações heterossexuais, e códigos de conduta e sua transgressão pelos vilões. No entanto, a presença feminina é algo digno de nota nesses dois gêneros: no Western, em sua maioria, o papel da mulher é relegado, posto em segundo plano, meramente ilustrado como dona do lar, mãe, ou esposa; por outro lado, no wuxia, as mulheres parecem ter agência, aparentam ser motivadas para além de desejos maternais ou matrimoniais, e embora tais fatores existam ou sejam mencionados, eles não parecem estar configurados como primários.
    Recentemente, algo identificado como “Western feminista” tomou as telas do cinema e as páginas das críticas, dentre eles Dívida de Honra, The Keeping Room, e Jane Got a Gun, por exemplo. Protagonizado por atrizes que interpretam mulheres com os mais diversos problemas, como, respectivamente: estigma social por ser “solteirona” e assumir uma missão “masculina,” além do tema da loucura entre mulheres; três mulheres sulistas (significante conflito entre duas irmãs e uma escrava negra) deixadas sozinhas pelos homens que partiram para a Guerra Civil Americana, e que se defendem de dois inescrupulosos soldados; e uma mulher que enfrenta uma gangue após o assassinato do marido pela mesma gangue. Com a exceção do segundo título, as protagonistas dos outros filmes dependem, é possível afirmar, de homens para serem bem-sucedidas em suas lutas e eventuais intempéries. Seriam eles, de fato, Westerns feministas?
    Paralelamente, o wuxia mostra personagens femininas mais ativas e resilientes, que não são a priori diferenciadas de personagens masculinos no que diz respeito a ocupações e tarefas: o caso mais recente é o aclamado A Assassina, onde as coordenadas e investidas são tomadas por mulheres; além da sequência de O Tigre e o Dragão, que traz mais uma vez a personagem Yu Shu Lien conduzindo a trama e muitas partes da ação.
    Intrigado pela ausência de trabalhos que estudem o cinema asiático nos eventos da SOCINE, o presente resumo se compromete em incluir não somente o gênero wuxia, mas analisar tais filmes sob a ótica do feminismo, comparando-os com filmes de Western mais recentes, como os citados acima, além de outros mais anteriores, como Johnny Guitar, O Poder da Mulher, Sete Mulheres (que problematiza a luta de mulheres em território chinês). Um caso duplo de gêneros — gender e genre — onde o papel da mulher em tais filmes é mostrado de forma diferente, se não inesperada. Contextos históricos, das tramas e das produções, devem ser considerados. A escolha dos filmes é pensada de forma que a quantidade não seja um empecilho crítico, a gama contextual de produções de épocas distintas busca diferenças no que concerne mostrar como a mulher é representada. Por último, mas não menos importante, se questiona: podemos dizer que esses filmes de Western e wuxia são feministas?
    A fim de sustentar as análises fílmicas com um aporte teórico, o estudo do Western, como gênero cinematográfico, e suas idiossincrasias é revisitado: os ensaios de Bazin e o estudo acerca dos gêneros de Rick Altman. A crítica feminista fica por conta de Laura Mulvey em seu ensaio “Visual Pleasure and Narrative Cinema” e suas preocupações com o Western em “Afterthoughts on ‘Visual Pleasure and Narrative Cinema’ inspired by King Vidor’s Duel in the Sun.” No wuxia, o livro Chinese Martial Arts Cinema: The Wuxia Tradition, de Stephen Teo, é considerado.

Bibliografia

    ALTMAN, Rick. Film/Genre. London: BFI, 2000.
    A ASSASSINA. Direção: Hou Hsiao-hsien. Well Go USA, 2015.
    BAZIN, André. “O western ou o cinema americano por excelência.” O Cinema: Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 199-208.
    —. “Evolução do western.” O Cinema: Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991, p. 209-218.
    CALLAHAN, Vicky. Reclaiming the Archive: Feminism and Film History. Detroit: Wayne U. P., 2010.
    DÍVIDA DE HONRA. Direção: Tommy Lee Jones. Roadside Attractions, 2014.
    JANE GOT A GUN. Direção: Gavin O’Connor. The Weinstein Company, 2016.
    MULVEY, Laura. Visual and Other Pleasures. Houndmills: Palgrave, 1989.
    THE KEEPING ROOM. Direção: Daniel Barber. Drafthouse Films, 2014.
    TEO, Stephen. Chinese Martial Arts Cinema: The Wuxia Tradition. Edinburgh: Edinburgh U. P., 2009.
    O TIGRE E O DRAGÃO. Direção: Ang Lee. Sony Pictures Classics, 2000.
    O TIGRE E O DRAGÃO: A ESPADA DO DESTINO. Direção: Yuen Woo-ping. Netflix, 2016.