Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Marília Régio (PUCRS)

Minicurrículo

    Doutoranda e mestra em Comunicação Social pela PUCRS. Especialista em Cinema (Unisinos) e Jornalista (UCPEL). Bolsista CAPES/Prosup.

Ficha do Trabalho

Título

    Imagem e memória acerca dos atentados de 11 de setembro de 2001

Resumo

    O presente trabalho propõe refletir sobre a construção da imagem e memória dos atentados de 11 de setembro no cinema. Como a “cultura da memória” (HUYSSEN, 2000) prolifera seus discursos nas obras cinematográficas escolhidas, sendo o cinema um “lugar de memória” (NORA, 1989). Como aporte, utilizaremos os filmes As torres gêmeas (Olivier Stone, 2006) e Voo United 93 (Paul Greengrass, 2006), pois ambos contam com uma narrativa datada no dia dos ataques.

Resumo expandido

    O cinema sempre buscou na história e no dia a dia da sociedade inspirações para seus temas. A análise das imagens em movimento possibilita interpretações das relações políticas, das práticas e representações sociais, visto que nelas expressam-se variadas vozes com perspectivas culturais distintas. A indústria cinematográfica norte-americana sempre contou com narrativas que exploram atos terroristas, ações suicidas, homens-bomba e/ou guerras, obviamente que, com diversas perspectivas. Encontramos muitos filmes cujo foco central predomina em assassinatos, sequestros e/ou atentados. Entretanto se é plausível determinar um momento em que ganhou novos rumos no que diz respeito a um assunto tão polêmico e por vezes duvidoso, devemos pensar no dia 11 de setembro de 2001.
    Os atentados nos Estados Unidos, nas cidades de Nova York e Washington, possivelmente sejam os primeiros acontecimentos vivenciados na era da informação. Pois, no século XX o que você viu ao vivo pela televisão, algo que foi marcante, inesquecível? Podemos pensar em algum campeonato esportivo, eleições presidenciais, no entanto, depois do 11 de setembro essa resposta mudou.
    Desde o início do século XXI, as sociedades ocidentais se voltaram para o passado, ao contrário do que acontecia no século XX, quando havia uma preocupação com o futuro. A preocupação com a memória, que compreende lembranças e esquecimentos, surge na modernidade. A rápida modernização e o culto do tempo presente acabaram por distanciar o hoje do ontem, e nesse processo muitos dos rastros do passado, que dão sustentação a memória, apagaram-se com os respingos do desenvolvimento. Estende-se para a necessidade de ressaltar a peculiaridade divergente dos procedimentos das relações a acontecimentos passados no presente. Na “cultura da memória”, existe uma proliferação de discursos memoriais e a indústria cultural os explora. Funcionando como raros lugares de conhecimento sobre o passado da nação, o cinema pode ser considerado um lugar de constituição da memória, pois oferece ao público um discurso sobre o passado.
    Deste modo, a maneira encontrada para conectar o presente ao passado pode ser a criação de “lugares de memória” (NORA, 1993), que possuem na sua essência a busca por uma memória, agregando elementos que conservam de forma viva e simbolizada, num mínimo de detalhe, as sutilezas das lembranças de nossa mente. Essa vivacidade está justamente nos deslocamentos e atualizações dos acontecimentos, bem como outros fatos e pessoas que são objetos de memórias sociais. E esses processos ocorrem a partir das interações, experiências e novos acontecimentos que se sucedem no presente. Filmes que retratam os atentados de 11 de setembro são lugares de constituição de memória, pois funcionam como espaços de conhecimento sobre o passado de uma nação, oferecendo ao público um discurso sobre algo que já ocorreu.
    Neste trabalho analisamos os filmes As Torres Gêmeas e Voo United 93, que nos permitem compreender como o cinema se apropria de uma “cultura da memória” que para Huyssen (2000), estes discursos de memória se acirraram devido a lembranças do Holocausto. E podemos verificar que os atentados ao World Trade Center se apropriaram um pouco deste poder simbólico atribuído ao Holocausto, metáfora para outras histórias e memórias. Nota-se que há um distanciamento de cinco anos entre a produção dos filmes para os atentados. Essa consideração é um ponto observado logo no início da pesquisa, a demora na realização de filmes a respeito do fato, ainda mais pela indústria norte-americana que utiliza imagens espetaculares para compor suas obras. Porém, 11 de setembro, aponta para uma ferida e trata-se de um evento que parece necessitar de cautela para ser abordado em solo norte-americano.

Bibliografia

    CHOMSKY, Noam. 11 de setembro. 4ª Edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
    KEAN, Thomas H. et al. The 9/11 Commission Report. New York: W.W. Norton & Company, Inc, 2004
    MEIHY, José Carlos Sebe Bom. 11 de setembro de 2001: a queda das Torres Gêmeas de Nova York. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.
    HUYSSEN, Andréas. Seduzidos pela memória. Rio de Janeiro. Editora Aeroplano, 2000.
    NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: Projeto História, n.10, dez. 1993. Disponível em: Acesso em: 15 set 2015.
    POLLACK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. In Estudos Históricos,v.2, n.3, Rio de Janeiro, 1989. p. 3-15.
    SANT’ANNA, Ivan. Plano de ataque: a história dos voos do 11 de setembro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.