Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Vilson André Moreira Gonçalves (UTP)

Minicurrículo

    Doutorando e Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (2013). Graduado em Licenciatura em Artes -Visuais (2006) e Especialista em História, Arte e Cultura (2008), ambos pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atua na área de Arte-Educação e realiza trabalhos nos campos da ilustração e de histórias em quadrinhos. Atualmente investiga adaptações de histórias em quadrinhos para o cinema.

Ficha do Trabalho

Título

    Superman (1978): Marco do Gênero de Super-Herói

Resumo

    Nos quadrinhos, o gênero super-herói teve início com as histórias do Superman, criado por Jerry Siegel e Joe Shuster em 1938. Personagens semelhantes foram criados na esteira de seu sucesso, mas, até a década de 1970, o gênero manteve-se restrito à sua mídia de origem, os quadrinhos, e adaptações de orçamento relativamente baixo para o rádio, o cinema e a televisão. Este cenário começaria a mudar, com o lançamento de Superman (1978), de Richard Donner, uma superprodução, concebida para atingir um grande público. Após o sucesso comercial de Superman, o número de produções cinematográficas envolvendo super-heróis oriundos das narrativas em quadrinhos tornou-se progressivamente maior, somando mais de setenta filmes até o presente ano. Buscamos retornar ao filme que iniciou a tendência, de modo a analisar suas estruturas estéticas e narrativas, a partir de um viés teórico neoformalista, avaliando a extensão de seu impacto na formação de um gênero super-herói no cinema hollywoodiano.

Resumo expandido

    O presente trabalho analisa a estética e a composição narrativa de Superman (Richard Donner, 1978), pensado enquanto precursor do gênero de super-herói. Posto que este filme foi fundamental para a assimilação da figura do super-herói ao conjunto dos blockbusters de alto orçamento, abrindo espaço para um dos nichos mais explorados pelo cinema mainstream, buscamos aqui investigar sua estrutura e avaliar seu impacto na formação de um gênero super-herói dentro do cinema hollywoodiano. Empregaremos os aportes teóricos fornecidos por David Bordwell, Kristin Thompson, Edward Branigan e Noël Carroll para confrontar as estruturas estéticas e narrativas do filme.
    Os super-heróis tiveram sua origem nas histórias em quadrinhos, formulados a partir de influências do western, da aventura exótica e da ficção científica, entre outros gêneros literários e fílmicos. Criado em 1938 por Jerry Siegel e Joe Shuster, a personagem de Superman constitui o marco inicial do gênero no meio literário, sendo o primeiro personagem a englobar características que se tornariam indispensáveis para a composição do super-herói: 1) possui habilidades extraordinárias, como força física, velocidade e intelecto excepcionais; 2) atua como defensor de pessoas, valores e ou de uma causa; e 3) possui um alter ego caracterizado com um cognome e uma caracterização específica. O sucesso do personagem junto aos leitores motivou, a criação de uma variedade de heróis com um conjunto semelhante de características, dando origem a um gênero particular nas histórias quadrinhos, que logo seria apropriado por outras linguagens. A partir da década de 1940 surgiriam as primeiras adaptações de super-heróis para o cinema e a televisão.
    Os primeiros seriados cinematográficos e radiofônicos e, posteriormente, televisivos, exploravam mais intensamente os aspectos fantásticos de tais narrativas, chamando atenção para os feitos impressionantes dos protagonistas e para a vilania caricata dos antagonistas. A aventura, o exotismo e as reviravoltas narrativas tinham primazia sobre o drama e o estudo de personagem, e os valores de produção eram relativamente baixos, exibindo cenários, figurinos e efeitos menos elaborados. Por décadas, portanto, os produtos audiovisuais de super-heróis permaneceriam produções de segunda linha.
    Tal como ocorrido com a emergência do personagem nos quadrinhos, o lançamento de Superman constitui um marco inicial: o ingresso dos super-heróis no campo das produções cinematográficas de grande orçamento. Para além da estreita associação do super-herói com o gênero da aventura, Superman e filmes posteriores buscaram dispensar um tratamento mais complexo a tais personagens, por vezes priorizando o drama à ação e investindo valores elevados na construção da mise-en-scène.
    Estes elementos desencadeariam a configuração de um novo gênero, com frequência situado em uma confluência ação-drama-ficção científica, progressivamente mais preocupada em contrabalançar os aspectos fantásticos com camadas de humanização e verossimilhança. Ao optar por essa construção, Superman estabelece fórmulas para o gênero. Em termos de concatenação da trama, o filme instaurou um modelo para a narrativa de origem – estrutura diegética centrada no estudo de um personagem, apresentando-o a um público que possivelmente o encontraria em produções subsequentes. No campo da estética, por distanciar-se de interpretações prévias, mais dirigidas para o lúdico/kitsch, exibiu uma mise-en-scène que pretendia tornar verossímil a existência de um personagem extraordinário, intenção expressa no slogan do pôster original: “Você acreditará que um homem pode voar”. Trata-se de um nível de realismo que não se fazia presente em produções anteriores e que se mostraria fundamental para o discurso do filme de super-herói.

Bibliografia

    BORDWELL, D. Figuras traçadas na luz: A encenação no cinema. São Paulo Papirus, 2008.
    _____________. Narration in the Fiction Film. Madison: University of Wisconsin Press, 1985.
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    _______________; THOMPSON, K.; STAIGER, J., The classical Hollywood cinema: film style & mode of production to 1960, New York, Columbia University Press, 1985.
    _______________; THOMPSON, K. Film Art: An Introduction, New York: Mc Graw-Hill, 2001.
    BRANIGAN, E. Narrative Comprehension and Film. New York: Routledge, 1992.
    _______________. O plano ponto de vista. In: RAMOS, F. Teoria contemporânea do cinema: documentário e narratividade ficcional. São Paulo: SENAC, 2005.
    CARROLL, N. The Philosophy of Horror, or Paradoxes of the Heart. New York & London: Routledge, 1990.
    _______________. Theorizing the moving image. Cambrige University Press: 1996.