Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Wilson Oliveira da Silva Filho (UNESA)

Minicurrículo

    Wilson Oliveira Filho é professor na Universidade Estácio de Sá desde 2005. Coordenou o curso de Cinema e Audiovisual entre julho de 2012 e 2013. Também atua como professor substituto na ECO/UFRJ. Graduado em Comunicação social, especialista em Filosofia Contemporânea, Mestre em Comunicação e Cultura e Doutor em Memória Social com passagem pela Universidade de Chicago sob orientação de Tom Gunning. Performer audiovisual e músico, já dirigiu documentários e videoclipes. Em 2012 fundou o DUO2x4.

Ficha do Trabalho

Título

    O performer-espectador entre a imagem e o som do projetor de Frampton

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidade e artes da projeção no Brasil

Resumo

    A partir do trabalho experimental performance/conferencia de Hollis Frampton sobre a poética da projeção “Uma conferencia” (A lecture) de 1968 tentamos pensar nesse trabalho duas questões a seguir: uma análise da obra em seu contexto estruturalista e uma atualização em curso em nossa pesquisa sobre projeções em tempo real ou live cinema. Retornar ao conceito de performance, as relações ou trocas num sentido mcluhaniano entre som (na narração de Michael Snow no experimento de Frampton) e imagem na obra em análise e propor através dos estudos de cinema ao vivo uma nova forma de se projetar e performar o projeto constituem nossos objetivos desse fundamental estudo sobre o projetor, o performer e o participador. De certa forma nossa hipótese parte de um pensamento e de um gesto ou poética das projeções live. O performer-espectador e as trocas entre o olho e ouvido em uma re(leitura) de “Uma conferencia” de Hollis Frampton pode nos ajudar a compreender o live cinema.

Resumo expandido

    As projeções nas performances audiovisuais em tempo real redefinem a experiência do cinema. A expressão live cinema apareceu segundo Makela (2008) em um release do evento Transmediale de 2005 denominando o acompanhamento musical dos filmes nos primórdios. As mesas de ruídos, os acompanhamentos de orquestras ou de artistas solo eram elementos sonoros do “cinema de atrações” (GUNNING, 1995), expressão que sintetizava o cinema dos primórdios e sua vocação de cobiçar o olhar. Acreditamos que o som desse acompanhamento live também fazia parte dessa curiositas agostiniana “A imitação dos ruídos (sonoplastia) é uma técnica tradicional que o cinema toma do teatro. O sonoplasta se coloca atrás da tela com um material heteróclito reunido numa “mesa de ruídos” e acompanha a projeção”. (TOULLET, 1988, p. 50).
    Com a sinestésica expressão “o cinema é a música da luz” de Abel Gance ficava evidente que o cinema precisava ser lido como uma performance visual e sonora. O espectador era atraído pela “confrontação que regula o cinema de atrações tanto na forma dos filmes quanto no seu modo de exibição” (GUNNING, 1995). Essa atração se dava sobretudo pelo showmen que conduzia o espetáculo. Hoje com o Vj se amplia uma criação simultânea de som e imagem em tempo real por artistas visuais e sônicos […] expandindo os parametros do cinema narrativo por uma mais larga concepção do espaço cinematográfico (MAKELA, 2008) coloca o espectador também como parte da performance. Nos anos 60 McLuhan que observava que com a imprensa o homem trocou um olho por um ouvido e na era eletrônica mais trocas nesse sentido se efetuariam já previra que no futuro “Todo mundo poderia ter seu “pequeno projetor barato, para cartuchos sonorizados de 8 mm, cujos filmes serão projetados como num vídeo. Este tipo de desenvolvimento faz parte de nossa atual implosão tecnológica”. (MCLUHAN, 1964, p. 327). Tal implosão culmina na prática das performances audiovisuais em tempo real que ganham salas de exibição, museus e centros culturais, mas também as próprias ruas.
    Nossa proposta para esse texto é oferecer alguns indicativos para atualizar o brilhante experimento de Hollis Frampton “Uma conferência” para os dias de hoje como estamos pesquisando em nosso atual projeto de pesquisa. Nos parece uma ideia interessante e necessária para pensar exibição, projeção e espectatorialiadade na cena contemporânea. O longo texto lido por Michael Snow que acompanha o experimento com projetor “Uma conferência” começa assim: “Por favor, desliguem as luzes. […] Ficamos suspensos assim num espaço nulo, trazendo conosco um certo hábito de afetos. […]. O projetor é ligado. […] O executante é uma máquina de precisão”. (FRAMPTON, 2013). Essa precisão da máquina traduz que “a experiência fílmica não é necessariamente uma projeção de luz e sombras numa tela no final da sala, nem uma experiência teatral contendo um proscênio ou dependente de atores atuando para uma audiência” (YOUNGBLOOD, 1970, p. 365), mas um jogo de intermidiatização entre som, imagem, projetor e tela, espectador e performer que se hibridizam.
    Uma nova geração de artistas está explorando as possibilidades da projeção de imagem de fontes de filme, o vídeo ou de computadores fora do usual contexto do filme e vídeo experimentais, lidando menos, então, com paradigmas formais estabelecidos sobre o plano, a tela e o público e brincando com as ambiguidades do espaço, movimento e ontologia (GUNNING, 2009, p. 34).
    Tal geração já possui uma variedade de trabalhos e artistas que já trabalhamos em alguns artigos. Para esse optamos em trabalhar uma obra em progresso e propor um trabalho que beira uma performance a partir de uma recriação digital do projetor-performer de Frampton pensando ao mesmo tempo um retorno ao texto lido por Michael Snow, comentários de Frampton em “A Holis Frampton odyssey” e teorias que passeiam do cinema de atrações ao expandido que nos ajudem a compreender melhor a poética live nas performances audiovisuais.

Bibliografia

    FRAMPTON, Holis. Uma conferência. In: FLORES, Livia; MACIEL, Katia. (orgs.). Instruções para filmes. Rio de Janeiro: e-book, 2013
    GUNNING, Tom. O cinema das origens e o espectador (in) crédulo. Revista Imagens, São Paulo: Editora da Unicamp, 1995
    ______. The long and the short of it: Centuries of projecting shadows, from natural magic to avant-garde. In: DOUGLAS, Stan; EAMON, Christopher (eds.). Art of projection. Ostfiledern: Hanje Cantz, 2009.
    MAKELA. Mia The practice of live cinema. Disponível em: http://i40474.wix.com/miamakela#!publications/prn1f. ARTECH Catalogue (2008). Acesso em 16/05/2016
    MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1964.
    MOURÃO, Patrícia. Chame isso de um jogo entre eu e mim: Hollis Frampton e Marcel Duchamp. In Anais XVIII SOCINE, Fortaleza, 2014.
    TOULLET, Emmanuelle. O cinema, invenção do século. São Paulo: Objetiva, 1988.
    YOUNGBLOOD, Gene. Expanded cinema. New York: E.P. Dulkton & Co, 1970.