Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Andreson Silva de Carvalho (UFF / ESPM-RJ)

Minicurrículo

    Professor de som na Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro. Doutorando em comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense. Trabalha como editor de som e desenhista sonoro, tendo participado de alguns curtas e longas como Árido Movie (Lírio Ferreira, 2005) e Sonos e Desejos (Marcelo Santiago, 2006).

Ficha do Trabalho

Título

    Encontros e desencontros entre linguagem e tecnologia na sonorização.

Resumo

    Questões entre tecnologia e linguagem não são novas no cinema. No entanto, nas últimas décadas, os avanços tecnológicos têm sido cada vez maiores e num ritmo mais acelerado. Manter-se atualizado e preparado para as demandas do mercado, e, ainda assim, conseguir associar todos esses avanços ao grande número de estruturas de artísticas possíveis, tem sido um árduo trabalho. Seria suficiente para a narrativa sonora de um filme ter um som de alta qualidade técnica sem se preocupar com a linguagem? E o contrário, também seria possível?

Resumo expandido

    A tecnologia é, sem dúvida, fundamental para a história do cinema. Sem ela, simplesmente, nada do que estudamos existiria. O cinema surgiu como uma invenção tecnológica, ganhando gradativamente o status de arte. Mas, como em toda arte, a linguagem e seus estilos tem um papel fundamental. Artes não são feitas só com tecnologias. Não basta conhecer detalhadamente como funcionam todos os equipamentos. É preciso saber fazer uso de suas teorias de linguagem de forma criativa, construindo mundos de percepções que conduzam emocionalmente os espectadores.
    A simples mudança de sentido de uma imagem a partir da troca de seu plano subsequente, como apresentado na clássica experiência de Kuleschov – onde o mesmo plano do rosto de um ator impassível associados a três imagens distintas modificava por completo a percepção do público com relação a sua expressão, por mais que ela não houvesse sido modificada -, demonstra a eficácia e a importância na hora de se escolher os planos de um filme e a ordem em que eles serão mostrados. Se esta simples alteração na imagem, mesmo com toda a concretude que a ela é designada, é capaz de provocar tamanha transformação, imagina o que a escolha equivocada de um som pode ocasionar.
    O som pode transformar a percepção do espectador, conferindo mais humor, tensão, dramaticidade ou leveza a uma cena, por sua simples associação à imagem de uma forma criativa e inesperada. Logo após o advento sonoro, teóricos e realizadores russos defenderam o assincronismo sonoro como sendo a utilização sonora de maior impacto criativo. Enquanto isso, algumas produções hollywoodianas respondiam à curiosidade do grande público, apostando no sincronismo labial dos talking pictures. O fato de o som conseguir acompanhar o tempo da imagem não significa que ele deva repetir tudo o que se vê nela. O sincronismo entre som e imagem não deve ser entendido de forma literal. A junção técnica entre a projeção de imagens em movimento e a reprodução sonora deve ser vista muito mais como uma oportunidade de se construir uma sonorização possível de ser repetida com fidelidade, do que a simples oportunidade de se ouvir a voz dos atores acoplada ao seu movimento labial.
    Ao longo da história do cinema, muitas teorias e técnicas foram estabelecidas, proporcionando a criação das mais variadas estruturas linguísticas. Muitos são os autores que escreveram sobre o assunto: Michel Chion, Rick Altman e Claudia Gorbman são só alguns deles. Alguns técnicos, mesmo quando não possuem muito conhecimento teórico, acabam por estabelecer os rumos da linguagem utilizada no filme. Entretanto, as principais questões apresentadas pelos profissionais de som apontam para falta de uma maior comunicação entre os responsáveis por cada fase do processo, o que pode levar a um uso de linguagem conflitante, tornando-se este um dos pontos nevrálgicos na distinção entre o trabalho tecnicamente correto e as escolhas artísticas. Alguns profissionais creditam os problemas existentes entre técnica e estética à ausência de um workflow que defina cada uma das etapas do processo. Outros apostam na diversidade existente entre as mais variadas formas de realização. Talvez, a solução para essas questões esteja na concretização da função de Diretor de som. Alguém que possa se responsabilizar por uma maior unidade nas escolhas e decisões tecnológicas e artísticas, sem, contudo, impedir a contribuição dos demais profissionais envolvidos.

Bibliografia

    ALTMAN, R. “Introduction”. In Yale French Studies, n° 60: Cinema/Sound. Connecticut: Yale University Press, 1908.
    CAVALCANTI, A. “Sound in Films”. In: WEIS, Elisabeth & BELTON, John (org.). Film Sound: theory and practice. New York: Columbia University Press, 1985.
    CHION, M. A Audiovisão: som e imagem no cinema. Trad. Pedro Elói Duarte. Lisboa: Texto & Grafia, 2008.
    EISENSTEIN, S. M.; PUDOVKIN, V. I. & ALEXANDROV, G. V. “A Declaração: Sobre o futuro do cinema sonoro”. In: EISENSTEIN, Sergei. A forma do filme. Trad. Teresa Ottoni. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 1990.
    FLÔRES, V. O cinema: uma arte sonora. São Paulo: Annablume, 2013.
    OPOLSKI, D. Introdução ao desenho de som: ima sistematização aplicada na análise do longa-metragem Ensaio sobre a cegueira. João Pessoa: Editora UFPB, 2013.
    PUDOVKIN, V. “Asynchronism as a principle of sound film”. In: WEIS, Elisabeth & BELTON, John (org.). Film Sound: theory and practice. New York: Columbia University Press, 1985.