Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Fabián Rodrigo Magioli Núñez (UFF)

Minicurrículo

    Professor adjunto do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua formação acadêmica foi inteiramente realizada na UFF: Bacharel em Comunicação Social (Habilitação em Cinema), em 2000; Mestre em Comunicação, Imagem e Informação, em 2003, e Doutor em Comunicação, em 2009. Seus temas de interesse são: cinema latino-americano, cinema brasileiro, história do cinema, crítica cinematográfica e preservação audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    O ‘roto’ na tela: o tipo popular urbano no cinema clássico chileno

Seminário

    Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais

Resumo

    A produção cinematográfica chilena em seu período clássico não é muito diferente de outras cinematografias latino-americanas. Podemos encontrar uma forte interrelação entre a imprensa, o teatro de revista e as estrelas do rádio com a produção cinematográfica chilena. Também é semelhante a forte rejeição, por parte da elite intelectual e social, às produções locais de êxito comercial. O nosso objetivo é estabelecer uma análise de dois filmes protagonizados pelo comediante Eugenio Retes, egresso do teatro de revista dos anos 1930, célebre por encarnar a figura do ‘roto’ no cinema chileno: “Uno que ha sido marino” (1951) e “El Gran Circo Chamorro” (1955), ambos de José Bohr. Nosso propósito é refletir como o personagem popular urbano é encarado nessas comédias dos anos 1950, a partir do entendimento de que a figura do ‘roto’ chileno pode ser interpretada como uma voz dissonante e contestadora ao processo de modernização conservadora sofrido pela sociedade chilena no século XX

Resumo expandido

    Santa Cruz Achurra, ao estudar a representação do nacional-popular no cinema chileno dos anos 1940, década considerada áurea dessa cinematografia durante o período clássico, constata a diminuição de filmes históricos, gênero comum na produção silenciosa, e o grande sucesso de comédias e melodramas com sequências musicais, em cujos filmes podemos encontrar o protagonismo de personagens populares. Tais filmes abordam tanto o ambiente rural quanto o urbano. Assim, a figura do popular presente nas telas é encarnada sob as duas personas típicas da chilenidade: o ‘huaso’ e o ‘roto’. Simultaneamente, ao longo da década de 1940, assistimos ao principal esforço para erguer uma indústria cinematográfica nacional, com forte auxílio do Estado: a Chile Films. Também podemos constatar uma aproximação de gêneros com a produção cinematográfica mexicana, que gozava de ampla popularidade em terras latino-americanas, o que não era exceção no Chile. A guisa de conclusão, Santa Cruz Achurra sublinha uma presença maior de elementos do campo na produção cinematográfica chilena dos anos 1940, enquanto que, desde a década anterior, o país começava a sofrer um forte êxodo rural em direção aos centros urbanos, além de uma presença maior das camadas populares urbanas no âmbito político, organizados em sindicatos e nos partidos de esquerda. Em tom mais de formulação de hipóteses do que de afirmações categóricas, Santa Cruz Achurra se questiona “Por que o ‘huaso’ e não o ‘roto’? Para compensar simbolicamente a falta de inclusão dos setores rurais no modelo industrializador? (…) Por que o ‘huaso’ simbolizava o povo são e bom, infantil e inocente, ainda não envenenado por agitadores? Por que a negação em se reconhecer no urbano e no moderno?”
    A nossa intenção não é responder a tais questões, pois como o próprio Santa Cruz Achurra ressalta, seria necessária uma profunda pesquisa para esse empreendimento. No entanto, a nossa proposta parte de tais questões, embora nos foquemos na década seguinte, nos anos 1950, considerado um dos períodos mais turvos da cinematografia chilena em termos de produção, após a derrocada do sonho industrial de Chile Films. Por outro lado, são anos considerados chaves pela historiografia do cinema chileno, pois é nessa década que surgem as bases de um cinema social e político no âmbito documental. Em termos políticos, a década de 1950 é ambiguamente marcada no Chile por atos repressivos, como a perseguição aos comunistas, e pelo ideário desenvolvimentista. Portanto, o nosso estudo se volta basicamente à figura do ‘roto’, uma vez que a nossa preocupação é o universo urbano e como as suas transformações sociais são abordadas no cinema chileno. Por outro lado, não podemos esquecer que a sombra do desastre da Chile Films é um fantasma que ronda a cabeça desses cineastas.
    A produção cinematográfica chilena em seu período clássico não é muito diferente de outras cinematografias latino-americanas. Podemos encontrar uma forte interrelação entre a imprensa, o teatro de revista e as estrelas do rádio com a produção cinematográfica chilena. Também é semelhante a forte rejeição, por parte da elite intelectual e social, às produções locais de êxito comercial. Nesse sentido, é impressionante a radical diferença entre as pretensiosas obras da Chile Films e essa produção de apelo popular. Portanto, o nosso objetivo é estabelecer uma análise de dois filmes dos anos 1950 protagonizados pelo comediante Eugenio Retes, egresso do teatro de revista dos anos 1930, célebre por encarnar a figura do roto no cinema chileno: “Uno que ha sido marino” (1951) e “El Gran Circo Chamorro “(1955), ambos de José Bohr. Nosso propósito é refletir como o personagem popular urbano é encarado nessas comédias dos anos 1950, a partir do entendimento de que a figura do ‘roto’ chileno pode ser interpretada como uma voz dissonante e contestadora ao processo de modernização conservadora sofrido pela sociedade chilena no século XX.

Bibliografia

    BRAGANÇA, M. “Cantinflas e Mazzaropi: um peladito e um caipira no descompasso do bolero e do samba”. 2003. 140f. Dissertação (Mestrado em Comunicação, Imagem e Informação) – Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense, 2003.

    GUTIÉRREZ, H. Exaltação do mestiço: a invenção do ‘roto’ chileno. In. “Esboços – Revista do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC”. Florianópolis, n. 20, jun.- dez. 2008. pp. 139-153.

    SANTA CRUZ ACHURRA, E. In. Entre huasos y rotos. Identidades en pantalla: el cine chileno en la década de los 40. In. BARRIL R., C.; SANTA CRUZ G., J. (Org). “El cine que se fue: 100 años de cine chileno”. Santiago: Arcis, 2011. pp. 130-8.

    SANTA CRUZ G. J. José Bohr y un cine ausente. In. BARRIL R., C.; SANTA CRUZ G., J. (Org). “El cine que se fue: 100 años de cine chileno”. Santiago: Arcis, 2011. pp. 42-0