Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Lucas Ravazzano de Mattos Batista (UFBA)

Minicurrículo

    Graduado em Relações Públicas e Marketing pela Universidade Católica do Salvador (UCSal), Mestre em Comunição e Cultura Contemporâneas pelo POSCOM/UFBA e Doutorando em Comunicação e Cultura Contemporâneas pelo POSCOM/UFBA

Ficha do Trabalho

Título

    Sem Lembranças: O Revisionismo da Narrativa Policial em Amnésia

Resumo

    Neste trabalho analisaremos o filme Amnésia (2001), dirigido por Christopher Nolan, de modo a demonstrar como o filme questiona elementos tradicionais da narrativa policial, em especial a ideia de objetividade que é constantemente atribuída a este tipo de produto. Primeiramente tentaremos compreender como a narrativa policial tem como elemento central a construção de sentidos que reafirmam o poder da lógica e da racionalidade na resolução de crimes, em seguida partiremos para tratar os modos através dos quais Amnésia questiona esses elementos, em especial a partir da negação da objetividade de evidências físicas.

Resumo expandido

    A narrativa policial é um gênero com uma produção constante e vigorosa dentro da indústria hollywoodiana. Ao longo de sua trajetória dentro desta cinematografia, o gênero experimentou diversas mudanças no modo como abordava o processo investigativo ou o tipo de personagem que protagonizava essas narrativas. Alguns elementos, no entanto, permaneceram constantes na produção deste gênero e apenas nos últimos anos a produção hollywoodiana passou a trazer de maneira mais recorrente produtos que revisavam algumas características que até então. Um desses filmes é Amnésia (2001), de Christopher Nolan, que será analisado no presente trabalho de modo a demonstrar como a obra revisa a ideia de objetividade que é constantemente atribuída a este tipo de produto.

    Primeiramente utilizaremos noções de Rick Altman (2000) e Bordwell e Thompson (2001) sobre o funcionamento dos gêneros cinematográficos na produção hollywoodiana e como sua operação se dá em uma constante disputa entre a conformidade entre as fórmulas já estabelecidas e uma busca por novos elementos. Recorreremos também a Stephen Neale (2000), cujos escritos compreendem que os gêneros contem características estilísticas que transcendem os filmes, e sua construção é verificada pelos realizadores e lida pelos espectadores. Também será utilizado o trabalho de Barry Keith Grant (2007), para compreender como os gêneros funcionariam como um modo de guiar a recepção e a leitura de seus produtos ao usar formatos previamente conhecidos e compreendidos como convencionais reafirmando e endossando certos valores e visões de mundo. Assim sendo, de posse dos trabalhos destes autores, construiremos uma perspectiva de que os gêneros se formam por ciclos de filmes e que novos ciclos são criados ao agregarem novos materiais, formatos ou ideias às perspectivas já existentes.

    Argumentaremos, portanto, que este é o posicionamento da obra analisada, que nos leva a repensar a eficácia da objetividade que costumeiramente é norma nos produtos deste gênero. Recorreremos a trabalhos de autores como Albuquerque (1979), Delamater e Prigozy (1997), Scaggs (2005), P.D James (2012) e Messent (2013) para revelar como a narrativa policial é construída principalmente na racionalidade e na lógica, nos apresentando a um investigador usa do raciocínio lógico-dedutivo para desvendar crimes, bem como para compreender como são trabalhadas as tramas e personagens típicos da narrativa policial.

    Uma vez conseguindo compreender como as convenções do gênero exaltam o raciocínio lógico, buscaremos demonstrar como Amnésia dialoga com essas longevas convenções de narrativa e construção de personagem ao tecer uma narrativa na qual todas as fotografias, relatórios e diários apenas servem para comprovar mentiras e não verdades como era de costume ocorrer, denotando como o gênero consegue absorver novas abordagens para continuar despertando interesse em seu público. Na construção do exercício analítico usaremos os trabalhos de Gaudreault e Jost (2009) para falar da enunciação do discurso fílmico. Trataremos dos usos da música e dos sons a partir de Michel Chion (2011) e Claudia Gorbman (1987), usaremos noções de Vincent Amiel (2011) e Ken Dancyger (2003) para tratar dos usos da montagem. Bordwell (2009) será usado para tratar de enquadramentos e movimentos de câmera. A partir desse conjunto de referências iniciais o presente trabalho buscará dar conta do funcionamento dos diferentes elementos do cinema no filme analisado de modo a compreender como estes são mobilizados de modo revisar as premissas do gênero no qual está inserido.

Bibliografia

    ALBUQUERQUE, Paulo de Medeiros e. O Mundo Emocionante do Romance Policial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979
    ALTMAN, Rick. Los Géneros Cinematográficos. Barcelona. Paidós, 2000
    AMIEL, Vincent. A Estética da Montagem. Lisboa: Edições Texto e Grafia. 2011.
    BORDWELL, David; THOMPSON, Kristin. Film Art: An Introduction. New York: McGraw-Hill, 2001
    DELAMETER, Jerome H; PRIGOZY, Ruth (Orgs). Theory and Practice of Classic Detective Fiction. New York: Greenwood Press. 1997.
    GAUDREAULT, Andre; JOST, François. A Narrativa Cinematográfica. Brasília: Editora UnB, 2009.
    GRANT, Barry Keith. Film Genres: From Iconography to Ideology. Londres: Wallflower Press. 2007
    JAMES, P. D. Segredos do Romance Policial: Histórias das Histórias de Detetive. São Paulo: Três Estrelas. 2012
    MESSENT, Peter. The Crime Fiction Handbook.New Jersey: Wiley. 2013
    NEALE, Stephen. Genre and Hollywood. Londres: Routledge. 2000
    SCAGGS, John. Crime Fiction. New York: Routledge. 2005