Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Adil Giovanni Lepri (UFF)

Minicurrículo

    Graduado em Cinema e Audiovisual e doutorando em Comunicação na Universidade Federal Fluminense.

Ficha do Trabalho

Título

    A experiência coletiva do audiovisual no Programa Cinema Para Todos

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidade e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Este artigo pretende realizar uma reflexão sobre a experiência coletiva do audiovisual no Programa Cinema Para Todos, iniciativa da Secretaria Estadual de Cultural do Rio de Janeiro. O programa é realizado em parceria com a Secretaria Estadual de Educação e possui como principal linha de atuação a distribuição de vale ingresso para alunos e comunidade escolar da rede pública fluminense. A partir da análise do parque exibidor do estado pode-se pensar na experiência coletiva da exibição cinematográfica como um elemento distante de boa parte da sociedade no estado do Rio. O programa em questão, então, é ao mesmo tempo um fator no que tange o acesso a esta experiência e um importante mecanismo econômico para os grupos exibidores presentes no estado.

Resumo expandido

    O Programa Cinema Para Todos (CPT) é uma iniciativa da Secretaria Estadual de Cultura (SEC) em parceria com a Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC) do Rio de Janeiro. O programa possui diversas linhas de atuação sendo a que obtém mais destaque a que lida com a distribuição de vale ingresso para alunos e comunidade escolar da rede pública de educação do estado. O CPT fez parte do “Programa de Desenvolvimento do Audiovisual do Estado do Rio de Janeiro – Rio Audiovisual”, elaborado em 2008 e foi realizado em 3 edições: em 2008/2009, em 2010/2011 e 2011/2014, sendo essa última a maior até então em termos de quantidade de vales distribuídos, chegando a 1 milhão de ingressos utilizados, e a última até então.
    A análise do programa enquanto política se dá através de entrevistas com gestores e ex-gestores e atentando para a tendência descentralizadora da política cultural no estado do Rio de Janeiro. Exemplificada pelo modelo da publicização, a gestão via Organizações Sociais, pensando seus riscos, benefícios, vantagens e fragilidades (PONTE, 2010). Apesar do programa em si não ser gerido através do modelo de OS, e sim por meio de um convênio, é importante pensa-lo nesta conjuntura da gestão cultural do poder público no estado.
    A partir da mobilização de conceitos como espaço público e privado (ARENDT,1981), esfera pública (HABERMAS, 1984) e exercício da cidadania (YOUNG, 2000) é possível pensar na importância da experiência coletiva do audiovisual e da fruição da cultura como elementos de sociabilidade e de articulação desta cidadania (CANCLINI, 1995; FURTADO, 2012). Ainda nesse sentido, essa experiência está distante de grandes parcelas da população fluminense, por barreiras objetivas e subjetivas, levando em conta a alta concentração de salas de exibição no entorno da capital, os altos preços do ingresso e a delimitação de públicos ideais das ofertas culturais (MONTECÓN, 2009), por exemplo. Os vales ingresso do CPT, então, são distribuídos nas escolas e cada beneficiado recebe 2, podendo levar um acompanhante para assistir a qualquer filme brasileiro em qualquer cinema participante em qualquer sessão. Esta é uma diretriz que privilegia a questão da experiência coletiva e denota um entendimento dos gestores de sua importância. No entanto, é importante notar também o benefício claro as empresas do setor da exibição no estado, que recebem grandes injeções de capital a partir da compra em bloco de vale ingresso por parte do governo estadual. Em que pese o baixo preço de cada vale (cerca de R$ 4,50 na edição mais recente), é inegável o papel que cumpre este volume de recursos para as grandes redes exibidoras e, em especial, para os pequenos exibidores presentes no interior.
    As linhas do programa conhecidas como “não-comerciais”, como por exemplo a criação de um circuito de cineclubes especialmente nas cidades onde não há cinemas, a realização de oficinas de vídeo interatividade e a formação de professores para trabalhar com o audiovisual em sala de aula são importantes ações no sentido da realização da experiência coletiva do audiovisual também, e, talvez, até com mais potência do que a distribuição de ingressos.
    O CPT é um programa que, como tantas outras políticas estatais, traz consigo contradições. Se por um lado, e em grande medida, é um programa que traz ganhos econômicos relevantes para as empresas exibidoras que operam no estado do Rio, por outro é uma iniciativa que possibilita a realização da experiência coletiva do audiovisual, importante elemento de sociabilidade e distante de grandes parcelas da população. Através não só da distribuição de ingressos para a comunidade escolar fluminense, mas também da organização de um circuito de cineclubes e outras iniciativas locais e pedagógicas, o programa traz claras vantagens para esta comunidade, em especial os estudantes.

Bibliografia

    ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense-universitária, 1981.
    CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 1995.
    FURTADO, Celso. Ensaios sobre cultura e o Ministério da Cultura. Organização: Rosa Freire d’Aguiar Furtado. Rio de Janeiro: Contraponto: Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, 2012.
    HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública: investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa. Vol. 357. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
    MONTECÓN, Ana Rosas. Consumos. In MERGIER, Anne Marie (org) Consumos culturales y ciudadanía en tiempos de globalización., 2009, p. 90-99.
    YOUNG, Iris Marion. Inclusion and democracy. Oxford: Oxford University Press, 2000.