Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Butcher (UFF)

Minicurrículo

    Pedro Butcher desenvolve pesquisa de doutorado na UFF sobre os primórdios da distribuição cinematográfica no Brasil, com foco no estabelecimento dos escritórios dos grandes estúdios no país. Em março de 2006, concluiu mestrado na Escola de Comunicação da UFRJ, com a dissertação A dona da história: origens da Globo Filmes e seu impacto no audiovisual brasileiro. Entre 2001 e 2014 editou o site Filme B. Desde 2014 é curador da Mostra Cine BH e colaborador do Brasil Cine Mundi.

Ficha do Trabalho

Título

    Distribuição de cinema: formação de uma hegemonia e abalos históricos

Resumo

    A ideia desse trabalho é delinear a formação do setor da distribuição na indústria do cinema estadunidense e esquadrinhar seu papel na formação de um império econômico e cultural que permaneceu hegemônico por décadas. Ainda que esse modelo tenha sofrido abalos importantes, com a expansão da televisão, essa estrutura não chegou a se desfazer. O quadro só começa a se modificar recentemente, quando a rápida penetração de tecnologias digitais coloca em xeque a cadeia audiovisual.

Resumo expandido

    A epígrafe de Exporting Entertainment: America in the World Film Market (1907-1934), pesquisa de Kristin Thompson sobre os primeiros avanços internacionais da indústria cinematográfica estadunidense, pesca o trecho de um texto publicado em 1914 da revista Motography: “Luís XIV teria dito: ‘o Estado? Sou eu!’. Os realizadores do cinema americano podem dizer: ‘O negócio do cinema? Somos nós!’”.
    Desde muito cedo, consolidou-se uma percepção de que o cinema feito nos EUA seria “o” cinema. A construção dessa percepção foi de uma eficácia tamanha que, de fato, reflete pelo menos o desejo de ir além de uma dominação oligárquica ou monopolista para alcançar um alcance de caráter quase absolutista no setor. Esse desejo ultrapassa a noção do cinema como indústria e chega à linguagem, ao modo como os filmes “devem ser”.
    A construção dessa imagem de uma atividade monolítica e onipresente se dá, em um primeiro momento, internamente. A organização da indústria estadunidense envolve o estabelecimento de suas três colunas fundamentais (produção, distribuição e exibição) e a articulação profunda entre elas, dando forma a uma estrutura oligárquica em que cinco ou seis companhias (as majors) controlam o negócio e assumem amplos poderes nos campos econômico e institucional.
    A produção e a exibição têm sido contempladas nos estudos que se debruçam sobre a formação do cinema estadunidense, mas nosso objetivo, aqui, é focar na distribuição. Como bem percebeu Lopes (2014, p. 9), “é comum que as majors estejam associadas à imagem de grandes galpões de filmagem; todavia, resumi-las a estúdios esconde o diferencial competitivo dessas companhias”.
    Esse diferencial está, justamente, na criação de uma rede de distribuição, primeiro de alcance nacional e, em seguida, internacional. A distribuição é a ação que faz o produto chegar ao ponto de venda e, consequentemente, ao consumidor. Sua função envolve desde o estabelecimento dos meios de transporte até a publicidade que irá tornar o produto conhecido do público. Observando-se o modo de operação das majors, é possível concluir que são, antes de tudo, máquinas de distribuição que arcam com os custos de um filme para ter o controle sobre sua comercialização.
    A ideia desse trabalho é delinear a formação histórica do setor da distribuição na indústria do cinema estadunidense, procurando esquadrinhar seu papel na formação de um império econômico e cultural, bem como no estabelecimento de uma estrutura de difícil penetração que permaneceu durante décadas como modelo hegemônico de operação. Ainda que esse modelo tenha sofrido alguns abalos importantes, com a expansão da televisão, por exemplo, essa estrutura não chegou a se desfazer de todo. O quadro só começa a se modificar recentemente, quando a rápida penetração de novas tecnologias digitais começa a colocar em xeque a cadeia audiovisual.
    No campo da produção, a realização de filmes deixa de depender de investimentos volumosos e se torna acessível a um número maior de pessoas, na medida em que a disponibilização de câmeras portáteis e de fácil manuseio, com resolução razoável, permite a realização de filmes, por exemplo, com câmeras de celular.
    Mas é na distribuição que a tecnologia digital gera um abalo mais sistêmico. A produção de cópias de produtos audiovisuais não depende mais da película e dos meios de transporte físicos, abrindo a possibilidade do compartilhamento de arquivos e da transmissão via internet. O cinema e a televisão deixam de ser as únicas plataformas de apreciação dos filmes e já não é mais tão simples determinar quando, onde e como o espectador terá acesso ao que deseja ver. A distribuição perde sua centralidade; os grupos que tradicionalmente a controlam precisam inventar novas estratégias para manter suas posições. O próprio gigantismo desses grupos, porém, parece dificultar respostas rápidas; surgem novas companhias, agressivas justamente diante das novas possibilidades de difusão, que se expandem e conquistam espaço.

Bibliografia

    ABEL, Richard. Americanizando o filme: ensaios de história social e cultural do cinema. São Paulo: Cinemateca Brasileira, 2013.

    ALLEN, Robert C.; GOMERY, Douglas. Film History: Theory and Practice. New York: Knopf, 1985.
    AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. São Paulo: Hucitec Editora, 2013.

    EPSTEIN, Edward Jay. O grande filme: dinheiro e poder em Hollywood. São Paulo: Summus Editorial, 2005.

    LOPES, Thiago Cardoso Storch Secundo. “Desafios atuais da distribuição de filmes independentes no Brasil”. In: Rascunho – Monografias cinema e vídeo UFF, v.7, n. 12, 2015.
    SEGRAVE, Kerry. American Films Abroad: Hollywood’s Domination of the World’s Movie Screens From the 1890’s to the Present. Jefferson: McFarland & Company, 1997.
    THOMPSON, Kristin. Exporting Entertainment: America in the World Film Market, 1907-1934. Londres: BFI Pub., 1985.