Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Dieison Marconi (UFRGS)

Minicurrículo

    Jornalista e Mestre em Ciências da Comunicação pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Doutorando no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Integrante do Grupo de Pesquisa Processos Audiovisuais. (PROAv-UFRGS). Dedica-se aos estudos da cultura audiovisual e seus modos de produção das diferenças de gênero, corpo e sexualidades.

Ficha do Trabalho

Título

    Por um gênero narrativo queer no cinema brasileiro

Seminário

    Cinema Queer e Feminista

Resumo

    Este trabalho reflete sobre a cultura queer no cinema nacional. Sabe-se que o Brasil possui experiências de filmes queer, no entanto, o que ainda persiste é a necessidade de investigar se estas experiências permitem afirmar que há, de fato, um gênero narrativo queer no cinema brasileiro da pós-retomada. Para problematizar este cenário, apresentamos uma cartografia de cineastas LGBT que demonstram, desde o início deste século, uma produção contínua de filmes que tratam das diferenças de gênero, c

Resumo expandido

    O presente trabalho faz parte da atual pesquisa de doutoramento que desenvolvo no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nos últimos anos, as pesquisas que desenvolvi buscaram alargar a compreensão da cultura audiovisual brasileira e seus modos de produção das diferenças de gênero, corpo e sexualidades. Em minha dissertação de mestrado, por exemplo, busquei compreender as representações das personagens LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) nos documentários da pós-retomada produzidos na região Sul do Brasil, entre 2000 e 2014. Com isso, também busquei investigar em que medida estes documentários do Sul se aproximavam de uma narrativa queer. Naquele momento, uma das perguntas centrais foi: quais seriam e como seriam as experiências de um documentário queer no Sul do Brasil?
    Mapeados todos os documentários com personagens LGBT dos últimos quatorze anos e, após uma análise dos filmes gerados no “pico de produção da década” (2008/2011), ficou evidente que todos eles estavam comprometidos em representar estes sujeitos abjetos de modo alternativo às representações que os excluem de uma “humanidade possível”. No entanto, muitos desses filmes se valeram de uma representação de cunho militante identitário e recaíram na representação essencialista e higienizada. Por outro lado, foi sim possível identificar experiências de documentários queer. Isto é, aqueles filmes que apostaram em uma estética homo pomo, de resistência, de contraprodução e de contradisciplina sexual/cinematográfica.
    Mas apesar dos objetivos iniciais terem sido alcançados, ao final do trabalho ficou clara a necessidade de investigar se o cinema queer no Brasil existe apenas enquanto produtos fílmicos dispersos ou, então, se existe enquanto um gênero narrativo queer (Altman, 2000). A pergunta que está sendo feita agora (em minha tese de Doutorado) não é se existem experiências de filmes queer no Brasil, mas sim em que medida estas experiências são suficientes para afirmar que existe, de fato, um cinema queer Brasileiro. Quando falamos em Cinema Novo no Brasil, por exemplo, sabemos que este teve a influência de movimentos cinematográficos europeus, como a Novele Vague francesa e o Neorrealismo italiano. Mas e o cinema queer no Brasil? O New queer cinema estadunidense dos anos 1990 influenciou em um cinema queer brasileiro? Quais foram e quais são os nossos realizadores queer? Como eles tem trabalhado não apenas a estética das diferenças sexuais, mas também uma estética das diferenças culturais? A partir de qual momento esses filmes se constituem enquanto um gênero narrativo? Foi a partir da pós-retomada no cinema nacional, como reflete Garcia (2012)? Já Bessa (2014), inspirada em Rich (2013), argumenta que foi o barateamento da produção cinematográfica, o contexto do HIV/AIDS e as disputas por representação que impulsionou um cinema queer no país.
    Problematiza-se, então, que não é mais suficiente estudar os filmes queer que o país produz, ainda mais partindo da ideia de que teríamos uma base histórica/conceitual já resolvida. Fazer isso é reforçar a velha geopolítica do conhecimento: eles produzem e nós aplicamos as teorias. Mas não se trata, também, de afirmar uma receita exata e fechada para qualificar o que seria o cinema queer no Brasil, pois isso é colocar-se contra as proposições dos estudos/movimentos queer. Ainda assim, é preciso enfrentar tudo isso sem deixar de levar em conta que a ideia de gênero narrativo também não pode, de modo algum, ser essencializada. A partir de uma cartografia de realizadores, em sua maioria LGBT e que desde o início deste século apresentam uma produção contínua de filmes com temáticas de gênero, corpo e sexualidades, busca-se compreender como essas trajetórias narrativas nos ajudam a visualizar a constituição de um gênero narrativo queer no cinema brasileiro

Bibliografia

    ALTMAN, Rick. Los gêneros cinematográficos. Barcelona: Edições Paidó Ibérica, 2000.

    BESSA, Karla. A teoria queer e os desafios às molduras do olhar. Cult, São Paulo, nº 193, p. 39-41, ago-2014.

    GARCIA, Wilton. Introdução ao cinema queer no Brasil. In: MACHADO, Rubens. SOARES, Rosana de Lima. ARAÚJO, Lucia Corrêa. (Orgs). VII Estudos de cinema e audiovisual. São Paulo: SOCINE , 2012. p.457- 466.

    RICH, Ruby B. New queer cinema. Duke University PressEUA, 2013.