Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Erika Savernini (UFJF)

Minicurrículo

    Profa. Adjunto II, colaboradora do PPGCOM-UFJF. Doutora e mestre em cinema (EBA-UFMG). Coord. Cineclube Lumière e cia (extensão) e da pesquisa “Cinema e a Língua escrita da realidade: diálogos contemporâneos com Pier Paolo Pasolini” (CNPq). Autora do livro Índices de um Cinema de Poesia, co-editora do livro Reflexões sobre a montagem cinematográfica, de Eduardo Leone (ambos da Ed. UFMG). Líder do grupo de pesquisa Estética e pensamento cinematográfico.

Ficha do Trabalho

Título

    Subjetividade no modelo teórico cinematográfico de Pier Paolo Pasolini

Mesa

    Cinema e subjetividade

Resumo

    As reflexões teóricas de Pasolini sobre o cinema continuam instigantes e polêmicas. Nessa comunicação, abordamos os fundamentos de seu modelo teórico cinematográfico que permite que Pasolini afirme que o cinema é uma “língua de poesia”. subjetiva. Para tal, discutimos sua definição do que é cinema em relação a “certo realismo”, ao plano-sequência e ao filme. Essa discussão integra a pesquisa “Cinema e a língua escrita da realidade: diálogos contemporâneos com Pier Paolo Pasolini” (CNPq).

Resumo expandido

    Pier Paolo Pasolini é mais conhecido, no Brasil e no mundo, como cineasta, apesar de ser um pensador da linguagem, da cultura e da sociedade; foi poeta, crítico, roteirista, cineasta, teórico, dentre outras atividades. Muito menos exploradas são suas propostas de teoria do cinema; que ele pretendia que fundasse um modelo teórico que fugisse à estilística – como critica que, até os anos 1960-1970, ocorrera em toda teoria do cinema. Pela falta de rigor em sua teorização, com a apropriação de conceitos de diversas áreas e o não receio de se contradizer, muitos o descartavam (e ainda o fazem) como teórico. No entanto, passados 40 anos de sua morte, as ideias, os filmes e os textos de Pasolini, além da sua figura pessoal e pública, continuam instigantes e polêmicos. Viano (1993) propõe-se justamente a discutir a atualidade do pensamento e da proposta teórica e fílmica de Pasolini; principalmente no que concerne à definição de “certo realismo”. Luzzi (2014) apresenta uma leitura do texto “Cinema de poesia”, sistematizando os argumentos e a construção do modelo teórico pasoliniano ao mesmo tempo que apresenta as críticas de autores como Umberto Eco e Christian Metz, e discute a validade de algumas críticas e a superação de outras objeções. Didi-Huberman (2011) aborda “a morte dos vaga-lumes”, a imagem lírica evocada por Pasolini para dizer de um processo de aculturação, de fim da inocência, mas também da persistência. Esses autores releem a teoria cinematográfica e o pensamento geral de Pasolini sobre linguagem, cultura e sociedade, apresentando seus fundamentos, seus pontos fracos e, por fim, a superação de parte dessa crítica. Nessa comunicação, abordamos os fundamentos desse modelo teórico cinematográfico que permite que Pasolini afirme que o cinema é uma “língua de poesia”, uma língua essencialmente metafórica, eivada de subjetividade. Para tal, discutimos sua definição do que é cinema em relação à “realidade”, ao plano-sequência e ao filme. Essa discussão faz parte da pesquisa “Cinema e a língua escrita da realidade: diálogos contemporâneos com Pier Paolo Pasolini” (CNPq).
    A subjetividade nesse modelo teórico encontra lugar na própria definição de Cinema, como “língua de poesia”, e no modo de narração do filme, a “subjectiva indirecta livre”. Dessa forma, precisamos tratar de uma distinção fundamental para o entendimento de sua teoria: o Cinema está para o filme como a Poesia para o poema. Ou seja, sua teoria funda-se na construção conceitual da noção de Cinema como uma abstração e no entendimento do filme como sua face concreta – só lidamos com filmes, nunca com “o Cinema” (por isso, ao estudar os filmes, as teorias anteriores seriam estilísticas, poéticas do cinema, não teoria). No pensamento teórico de Pasolini, o essencialmente realista do Cinema (segundo uma concepção da realidade como rede sígnica, como linguagem primeira, da qual o Cinema é sua língua) ganha um tratamento estético para se tornar filme. Assim, se o Cinema seria um plano sequência infinito subjetivo, similar à experiência da vida, o cineasta para exercer sua função, fazer filmes, deve proceder a uma operação dupla, que nos leva diretamente do Cinema para o filme. Do caos onde se encontram (na vida), o realizador constitui “seu vocabulário de im-signos”, realizando primeiramente uma operação de caráter linguístico; nesse momento já se inscreve a subjetividade do realizador (que vê o mundo, seleciona e o escreve em imagens e sons a partir de uma “visão ideológica e poética”). No segundo momento, imprime a “qualidade expressiva individual”, uma operação estilística, que pode seguir a tendência hegemônica de uma narrativa em prosa, a qual Pasolini afirma não ser a forma cinematográfica, mas herdeira da literatura e do teatro, ou seguir a “tendência de configuração” que ele detectava fortemente nos anos 1960 de um “cinema de poesia” – filmes que, dentre outras características, eram marcados pela subjetivação da narração.

Bibliografia

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes. Tradução de Vera Casa Nova e Márcia Arbex. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2011.
    LUZZI, Joseph. A cinema of poetry; aesthetics of the italian art film. Baltimore, Maryland: Johns Hopkins University Press, 2014. Poesis in Pasolini: Theory and Pratice. 211 p. p. 70-85.
    PASOLINI, Pier Paolo. Empirismo hereje. Tradução de Miguel Serras Pereira. Lisboa: Assírio e Alvim, 1982. p. 135-250.
    SAVERNINI, Erika. Índices de um cinema de poesia: Pier Paolo Pasolini, Luis Buñuel e Krzysztof Kieslowski. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2004. (midia@rte, 3).
    SAVERNINI, Erika. A vida escrita em O cavalo de Turim: aplicando ao cinema contemporâneo os conceitos de Pier Paolo Pasolini sobre cinema e plano-sequência. In: AVANCA | CINEMA 2015, Avanca, 2015. Avanca: Edições Cine-clube Avanca, 2015.
    VIANO, Maurizio. A certain realism; making use of Pasolini’s film theory and practice. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1993.