Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Alessandro José de oliveira (UTP)

Minicurrículo

    Alessandro José de Oliveira é antropólogo, artista e produtor cultural. Atualmente, é pós doutorando na Universidade de Tuiuti (Paraná) com pesquisa em performance e arte queer. Doutor em Ciências Sociais (Unicamp) com pesquisa sobre pedofilia: abuso sexual de crianças. Mestre em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (2004).Também atuou como assistente de produção dos filmes documentários ‘Diário de Exus’ (2013/2015) e ‘Dança da Amizade’ (2015/2016) dirigido por Gilberto A. Sobrinho.

Ficha do Trabalho

Título

    Corpos abjetos que habitam a imagem: um trans-documentário?

Seminário

    Cinema Queer e Feminista

Resumo

    Este trabalho analisa o filme documentário “De gravatas e unhas vermelhas” de Miriam Chnaiderman (2014). Destaca-se aqui como a exibição de imagens e desejos de pessoas que se apresentam como sujeitos que se reconhecem e/ou querem permanecer no trânsito entre o masculino e o feminino aparecem como a forma mais viável de fazer referencia ao mundo queer. Observa-se assim como a cineasta revela a necessidade de por em circulação imagens de referência a respeito da confusão de gênero.

Resumo expandido

    Nesta comunicação proponho uma indagação a respeito do cinema queer: a exibição do trânsito dos desejos entre o masculino e o feminino e vice-versa são suficientes para referendar o trabalho de Chnaiderman como um filme queer ou a diretora usa os mecanismos cinematográficos apenas para dar a ver um conjunto de vozes silenciadas?
    Partindo dessa indagação organizo o trabalho em três etapas. Na primeira, observo como Miriam Chnaiderman aposta no conhecido formato de entrevistas centralizando-se em trajetórias pessoais de personagens transexuais, travestis e crossdressing para organizar uma teia de relatos que explora continuamente os embaraços e desembaraços a respeito das possibilidades de lidar com as formas de experimentar o masculino e feminino. Analiso como os jogos de representação e referenciação passam pela aceitação e/ou recusa de diferentes aspectos da forma de viver a sexualidade e como o poder de manusear a câmera coloca a cineasta na posição de especialista com poder de determinar o tolerável e aceitável.
    Numa segunda etapa analiso o conteúdo dos relatos apresentados no filme dando destaque para os elementos disparadores dos desejos dos depoentes em ser do sexo oposto. Esses desejos aparecem quando se fala do impacto causado pela simples troca de vestimento do masculino para o feminino e se acentua ainda mais quando as narrativas se voltam para o processo de transformação corporal. Os relatos a respeito das modificações do corpo passam a ganhar destaque cada vez maior e se ampliam consideravelmente quando se discute sobre o uso de hormônio e as intervenções cirúrgicas.

    Numa terceira etapa chamo atenção do processo de montagem do filme. Destaco como alguns cortes, sobreposições de imagens, sonoridades, escolhas de locação para as entrevistas colaboram para a organização do tema em questão. Neste contexto, destaco tanto as imagens de caráter meramente ilustrativo quanto as propostas mais ousadas e poéticas, como o passeio da câmera sobre determinados corpos. Nota-se também como os recortes são organizados de modo a instigar nossa percepção a respeito da confusão de gênero.

    Sem querer encerrar a complexidade da questão e nem reduzir a potencialidade do documentário aponto, por fim, como ele insere de forma sútil uma perspectiva mais abjeta a respeito da produção sexual. Contudo, chamo à atenção para o fato do documentário revelar muito mais a respeito de nós mesmos e de como não estamos preparados para conviver com “novos corpos” e “novos gêneros”. E, neste aspecto, observo como a cineasta potencializa a discussão sobre o modo de compreendermos e mesmo convivermos com os ‘sujeitos queers’.

Bibliografia

    GRUPPI, L. 1978. O conceito de hegemonia em Gramsci. Rio de Janeiro: Graal
    BUTLER, J. 2003. Problemas de Gênero. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
    GARCIA, W. 2004.Homoerotismo e imagem no Brasil. São Paulo: Nojosa.
    HOLMLUND, C., FUCHS, C. 1997. Between the sheets, in the streets: queer, lesbian, and gay documentary. Minneapolis: Univ. of Minnesota.
    LOPES, Denílson. 2004. Desafios dos estudos gays, lésbicos e transgêneros. Revista Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 63-73.
    PULLEN, C. 2007. Documenting Gay Men: Identity and Performance in Reality Television and Documentary Film. Jefferson: Mcfarland.