Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Patrícia Kruger (FFLCH- USP)

Minicurrículo

    Patricia de Almeida Kruger é doutoranda pelo Departamento de Letras Modernas da Universidade de São Paulo com a tese Penetrando o Éden: um estudo do filme Anticristo, de Lars von Trier. Concluiu recentemente um estágio doutoral no Nordeuropa-Institut da Universidade de Humboldt/Berlim e tem publicado sobre sua pesquisa desde 2012.

Ficha do Trabalho

Título

    Explodindo a Ficção: invasões iconográficas em filmes de Lars v. Trier

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Muito tem sido discutido a respeito das alusões às artes plásticas e das fantásticas recriações que o cineasta Lars von Trier faz, em sua cinematografia, de pinturas. Pouca atenção, contudo, tem sido dada a demais elementos iconográficos que parecem “invadir” seus filmes. Pretendemos, assim, averiguar a motivação da inserção de fotos, xilogravuras, gravuras e demais referência iconográficas em alguns de seus filmes e quais as consequências políticas e estéticas dessas inusitadas “invasões”.

Resumo expandido

    O cineasta dinamarquês Lars von Trier tem constantemente travado relações não apenas com o universo do próprio cinema, mas também com outros segmentos da cultura e das artes, como a filosofia, as artes plásticas, a ópera, a música pop, a dramaturgia e a literatura. Diversas referências têm sido identificadas em suas obras que remontam a estes âmbitos – lembremo-nos, por exemplo, da referência à ópera wagneriana, já presente em Epidemia (Epidemic, 1987) e retomada em seu último trabalho, Melancolia (Melancholia, 2011); ou da importância da música pop em Dançando no escuro (Dancer in the Dark, 2000) e dos intertítulos de Ondas do destino (Breaking the Waves, 1996). Em se tratando de textos literários, e aqui estamos considerando também o texto teatral, Trier tem também explicitado a relevância de autores tais como Marquês de Sade, Bertolt Brecht e August Strindberg em vários de seus trabalhos.

    As intersecções de suas obras com as artes plásticas também são bastante significativas. O próprio Trier, a esse respeito, comparou seu filme Anticristo (Antichrist, 2009) à pintura O Grito (Skrik, 1893), do pintor norueguês Edvard Munch, em uma entrevista dada pouco depois do lançamento do filme (ROMER, 2009). Discutindo o papel de filmes para além da evocação de emoções, a comparação com a obra de Munch, um dos marcos da arte expressionista (contrária, portanto, a representações naturalistas), é bastante relevante por orientar a interpretação de Anticristo que reconhece, fundamentalmente, seus elementos anti-ilusionistas.

    As próprias composições imagéticas de diversas tomadas de Trier criam o que podemos considerar verdadeiras obras pictóricas, como os próprios intertítulo de Ondas do Destino. Esse tipo de elaboração também pode ser notado no filme Anticristo, por exemplo, nas imagens oníricas do Éden que a personagem feminina é induzida a imaginar. Nas palavras do cinegrafista Anthony Dod Mantle, em entrevista concedida ao site Time Out London: “o que você vê é tão desacelerado que pela primeira vez no cinema eu tive a impressão de assistir a um filme da maneira que eu olho para uma pintura” (JOHNSTON, 2009). Além disso, muitos críticos destacaram a evocação de imagens de Hieronymus Bosch, também nesse filme, e como Trier recria a pintura Ophellia (1852), de Sir. John Everett Millais, na obra Melancolia.

    Mas o que dizer dos elementos iconográficos (fotos, pinturas, gravuras, xilogravuras, etc) que não são criados ou aludidos por Trier, mas que “invadem” a tessitura de seus filmes? Quais seriam as motivações para se estabelecer contato com elementos da “vida real”, que explodem os limites da ficção? Que tipos de relações esses elementos trazem ao próprio ponto de vista de seus filmes? Nossa proposta é averiguar as consequências dessa prática em alguns filmes de Trier, como Europa (1991), Dogville (2003), Manderlay (2005) e Anticristo (2009). Procuraremos analisar os elementos iconográficos em seus próprios termos e também os novos significados erigidos da confrontação de filmes de Trier com essas inusitadas referências iconográficas.

Bibliografia

    BADLEY, Linda. Lars von Trier. University of Illinois Press: Chicago, Springfield, 2010
    BAINBRIDGE, Caroline. The Cinema of Lars von Trier: Authenticity and Artifice. London: Wallflower Press, 2007
    JACOBS, Steven. Framing Pictures: Film and the Visual Arts. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2012.
    JOHNSTON, Trevor. “Antichrist cinematographer Anthony Dod Mantle: interview”, in Time Out London, 2009. Disponível em http://www.timeout.com/film/features/show-feature/8257/-Antichrist-cinematographer_Anthony_Dod_Mantle-interview.html
    ROMER, K. “A hearse heading home – an interview with Lars von Trier”. In: Antichrist: Press book. London: Artificial Eye Release, 2009.
    SINNERBRINK, Robert. New Philosophies of Film: Thinking Images. New York/London: Continuum
    ZIKA, Charles. The Appearance of Witchcraft: Print and Visual Culture in Sixteenth-Century Europe. London: Routledge, 2007.