Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    João Paulo Rabelo de Farias (UFMG)

Minicurrículo

    Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais na Linha de Pesquisa Pragmáticas da Imagem. Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela UFMG (2014). Possui experiência na área de Comunicação, com ênfase em estudos da Imagem. Desde 2013 integra o grupo de pesquisa da UFMG Poéticas da Experiência, que estuda as múltiplas manifestações do audiovisual contemporâneo nos domínios do cinema, fotografia e artes performáticas.

Ficha do Trabalho

Título

    Poesia e memória no cinema de Carlos Adriano

Seminário

    Cinema e literatura, palavra e imagem

Resumo

    Esta apresentação procura explorar a presença de um cruzamento entre poesia e memória no cinema, analisando o potencial criativo desta interlocução no trabalho do cineasta Carlos Adriano. Tomando o filme “Sem Título # 3: E para que Poetas em Tempo de Pobreza?” (2016), buscaremos focalizar o trabalho com as imagens que trazem reminiscências inerentes, sobrevivências e outras sugestões rememorativas que acabam por fazer um elogio à poesia contida na memória, em suas diversas camadas.

Resumo expandido

    O cinema de Carlos Adriano se inscreve, de saída, na frontalidade com a poesia. Gesto marcante em seus filmes, a busca pela “essência da linguagem e a liberdade de expressão” (ROSA, 1997), configura o seu trabalho como um dos mais radicais e inventivos de que dispomos atualmente. Tanto na escolha dos materiais quando nos procedimentos utilizados, podemos destacar um interesse que o aproxima do cinema de matriz experimental, tendo sempre no seu horizonte um desenho poético. Mobilizando uma atenção aos fragmentos mínimos, efeitos de montagem e “sobrevivência das imagens”, desde o seu terceiro filme, “Remanescências” (1997), Adriano vem se dedicando ao trabalho com a reapropriação de arquivos, found footage, que nos termos do cineasta é “aquele ‘gênero’ ou procedimento de produção audiovisual que se apropria, recicla, reedita e ressignifica imagens alheias. O found footage poderia ser traduzido como ‘metragem [de filme] encontrada’” (ROSA, 2015).

    Com efeito, nos parece emergir nas suas imagens um elogio à poesia contida na memória, como se o seu cinema desse forma a um processo que passa efetivamente pela vontade de reter algo da presença que se esvai. Tomando particularmente “Sem Título # 3: E para que Poetas em Tempo de Pobreza?” (2016), o terceiro filme da série “Apontamentos para uma Auto Cine Biografia (em Regresso)”, procuraremos evidenciar perspectivas da interlocução entre poesia e memória no campo das imagens em movimento.

    Em seu ensaio “A poesia, memória excessiva”, Silvina Rodrigues Lopes nos diz que a memória “caracteriza-se pelo seu dinamismo actualizável em formas” e logo em seguida completa: “a forma-poema é memória profética, o que significa que nunca se limita à descrição e interpretação do passado, mas o constitui no próprio gesto que inventa o futuro” (LOPES, 2003, p. 69). Por essa via, podemos pensar junto com “Sem Título # 3” que as diversas imagens e versos que vêm se decantar na tela na mesma profusão que se esgarçam, são articuladas no filme em uma metamorfose de sentidos que se atualizam, de modo a guardar uma promessa viva ou ainda, poderíamos dizer, um desdobramento do trecho do filme de Eric Rohmer sobre Mallarmé apropriado por Adriano: “escolher um objeto e extrair dele um estado de alma por uma série de decifrações”. Como nos termos de Olgária Matos (2016), sobre o filme: “não se trata de lembranças – que evocam o que passou e terminou –, mas de reminiscências, de vestígios que permanecem vivos e atuantes, vencendo a barreira do tempo, tempo que é passagem e caminho sem volta, mas também transcriação poética” (MATOS, 2016).

    Nesse sentido, como ouvimos em dado momento, “um filme ressuscita atos mortos” e isso parece se colocar em conformação a esse trabalho que traça cruzamentos entre a poesia e a memória. Nesse cinema, por meio dos gestos criativos do diretor, coloca-se em ação as potências da memória num lugar marcado pela elaboração de algo que está represado, mas que parece desejar fluir.

    Buscaremos focalizar os processos rememorativos que se depreendem das imagens e que trazem memórias inerentes, sobrevivências, como nas sequências em que, enquanto ouvimos os versos de Antonio Machado: “caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar”, podemos ver uma população em deslocamento tomada de um arquivo em preto e branco e na sequência imediata vem ocupar a tela imagens tomadas atualmente de reportagens de televisão sobre refugiados sírios que cruzam fronteiras em uma fuga desesperada. Transfigurações poéticas do tempo que dão a ver o horror que não cessa de se repetir nos nossos tempos.

Bibliografia

    LOPES, Silvina Rodrigues. Literatura, defesa do atrito. Lisboa: Vendaval, 2003.
    MATOS, Olgária. A poética das imagens e do tempo do cineasta Carlos Adriano. In: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/04/1758883-a-poetica-das-imagens-e-do-tempo-do-cineasta-carlos-adriano.shtml. Acesso em: 31 jan. 2017.
    ROSA, Carlos Adriano Jeronimo de. Augusto de Campos sintetiza a poesia e a transforma em cinema – 1997. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq171108.htm. Acesso em 29 jan. 2017.
    ROSA, Carlos Adriano Jeronimo de. Reapropriação de arquivo e imantação de afeto. Revista Visualidades, Goiânia, v.13, n.2, 2015.
    ROSA, Carlos Adriano Jeronimo de. Um guia para as vanguardas cinematográficas (dossiê outros cinemas, 2003). Disponível em http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/1611,1.shl. Acesso em 01 fev. 2017.