Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Ramos Vieira de Sousa (UFF)

Minicurrículo

    Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense na linha de Estudos do Cinema e do Audiovisual, no qual está finalizando pesquisa a respeito da representação e a construção de um feminino monstruoso, no cinema comercial de horror cinema americano, das décadas de 1970 e 1980.

Ficha do Trabalho

Título

    Horror, erotismo e violência: prazeres e afetos do feminino monstruoso

Seminário

    Corpo, gesto, performance e mise en scène

Resumo

    Partindo dos filmes “A Marca da Pantera” (1982, Paul Schrader), e “Em Minha Pele” (2002, Marine de Van) a apresentação pretende explorar as possibilidades e afetos dos corpos femininos monstruosos e/ou abjetos, em momentos de uma performance sexual violenta, dentro de um regime de “pornificação” do horror, que permita perscrutar as fissuras discursivas e as potências de uma organização particular sistema do excesso que nasce da interpelação desses gêneros.

Resumo expandido

    Certas narrativas cinematográficas são arquitetadas em torno da espetáculos sensoriais extremos, cujo saturação sensual é materializada em corpos femininos em meio a experiências de excitação limítrofes. Em alguns gêneros fílmicos como o horror e a pornografia, tal sistema toma proporções ainda mais excessivas constituindo verdadeiros “espetáculos de vitimização feminina” (WILLIAMS), cumprindo uma agenda que, muitas vezes, perpassa o “simples” entretenimento, perpetuando discursos violentos de conformação destes corpos, mas também construindo possibilidades de fulga para a vivência de suas sexualidades .
    Pretendo explorar as possibilidades e afetos dos corpos femininos ditos monstruosos (CREED) e/ou abjetos (KRISTEVA), em momentos de performance, a partir da análise dos filmes “A Marca da Pantera” (1982, Paul Schrader), e “Em Minha Pele” (2002, Marine de Van). Em ambos os casos imaginários da pornografia e do horror são ativados simultaneamente construindo sequências em que o excesso fílmico impera, proporcionando experiências cinemáticas extremas que interpelam e perturbam corpos dentro e fora de tela.
    Nestes filmes mulheres se colocam como espetáculo, fazendo um espetáculo de/com seus corpos, em cenas centradas na violência de uma performance sexual cujas a coreografia é dirigida pelas personagens, uma coreografia de seu próprio prazer. Tais performances excessivas e monstruosas convidam o escrutínio do olhar, chamando a atenção do espectador para algo que, por algum motivo, escapa a trama.
    Performances de destruição e esfacelamento corporal filmadas com uma sensualidade perturbadora e pulsante, valendo-se das potências da linguagem do excesso, trabalhado a partir uma mise en scene em si mesmo histérica, repleta de elementos de horror e abjeção “pornificados”.
    Pensar as implicações políticas de um horror que se vale da fetichização do sofrimento e da dor de tais corpos em cenas explicitas de punição, automutilação, violência e extremo prazer. Cenas extremamente ressonantes (PAASONEN), onde desejo e repulsa são inseparáveis, e que nos levam a indagar os limites entre nossas pulsões sexuais, ansiedades e os medos latentes em nossa sociedade quanto ao feminino.
    O estudo do “horror erótico”, da “pornificação” do horror, e a organização particular da saturação sensorial típica do espetáculo do excesso que nasce com a mistura desses gêneros, nos permite da narrativa fílmica, em busca de espaços de provocação e problematização de um status quo que procura conformar violentamente corpos femininos e negar sua sexualidade.
    O excesso é, por excelência, aquilo que instiga o espetáculo sensorial, aquilo que chama atenção e convoca a percepção porque não pode ser preso dentro da ordem positivista e prática da função narrativa, tomando, nem que por apenas alguns breves momentos, as rédeas da mise en scène e lhe fazendo explodir em sensações. É através dessas fissuras, dos momentos onde o excesso corpóreo e cinemático explodem em tela e fraturam a narrativa, que transbordam os conteúdos antagônicos que podem nos auxiliar no processo de desconstrução de representações em um espaço de risco e desafio, que, talvez, nos permita traçar um mapa inicial para uma política de resistência para tais corpos.
    O espetáculo, especialmente o espetáculo do corpo feminino em processo de autodestruição, é exatamente aquela voz que, apesar das pressões externas, das exigências de racionalidade e finalidade narrativa, escapa à normatização e faz de sua presença inesperada o signo último da instabilidade que permeia e constrói o discurso hegemônico.
    Pensar tais momentos de excesso, performance e suas ressonâncias como espaços de significação que possam nos auxiliar a questionar e desestabilizar as normas que conformam e estigmatizam o corpo, a sexualidade e a própria vivência social feminina, torna-se um imperativo urgente que pretendo averiguar com essa apresentação.

Bibliografia

    CREED, Barbara. “Horror and the Monstrous-Feminine: An Imaginary Abjection”. In. Screen (1986) 27 (1): 44-71.
    BALTAR, Mariana. “Frenesi da Máxima Visibilidade”. E-Compós. 2010.
    KRISTEVA, Julia. Powers of Horror: An Essay on Abjection. New York: Columbia University Press, 1982.
    PAASONEN, Susanna. Carnal Resonace. Affect and online pornography. Cambridge, The MIT Press, 2011

    WILLIAMS, Linda. Film Bodies: Gender, Genre, and Excess. Film Quarterly, Vol. 44, No. 4 (Summer, 1991), Pp. 2-13.