Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Peixoto Curi (ESPM Rio)

Minicurrículo

    Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense, onde desenvolveu a pesquisa “À margem da convergência: hábitos de consumo de fãs brasileiros de séries de TV estadunidenses”. Possui graduação em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005) e mestrado em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (2010). Pesquisa temas relacionados a audiovisual, cultura dos fãs, cultura jovem e convergência midiática.

Ficha do Trabalho

Título

    Que a Força esteja no Cinema: práticas de fãs nas salas de exibição

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Star Wars é, atualmente, a maior franquia cinematográfica existente, com gerações de fãs pelo mundo. Ainda que deva sua popularidade e longevidade a um universo expandido e à presença em múltiplas plataformas, é na sala de cinema que Star Wars ganha força e conquistas novos espectadores, além de fidelizar e renovar a relação com os antigos. No ano em que a saga completa 40 anos, este trabalho busca investigar as práticas de fãs do universo concebido por George Lucas nas salas de cinema.

Resumo expandido

    Em maio deste ano, Star Wars completou 40 anos de existência. A data comemora o lançamento do primeiro filme do universo criado por George Lucas e que hoje pertence à Disney. Com longos intervalos entre as trilogias, lançadas ao longos das últimas quatro décadas, Star Wars ganhou popularidade e tem sua longevidade associada ao rico universo multiplataforma formado pelo universo expandido oficial e uma série de produtos criados por fãs que alimentaram a história durante esse tempo. Desta forma, poucas eram as oportunidades em que os fãs podiam se reunir.
    Em 1997, inspirados pelo relançamento da trilogia clássica nos cinemas, dois fãs de Star Wars se conheceram quando faziam buscas por outros apaixonados pela saga no Rio de Janeiro. Assim, criaram o Conselho Jedi do Rio de Janeiro, o primeiro grupo de fãs de Star Wars que se tem conhecimento no Brasil. A proposta básica do CJRJ era encontrar outros fãs para estabelecer contatos e formar novas amizades, mas uma dificuldade para o trio que, por vezes, pensavam ser os únicos a gostar de Star Wars, era achar outros como eles. Criaram um site e marcaram alguns encontros, porém, foi com a estreia de Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma, em 1999, que esses encontros tornaram mais frequentes, passando a eventos, e depois a convenções.
    As convenções de fãs são espaços importantes para o fandom, mas, para universos que encontram sua base em filmes, as salas de cinema ocupam um lugar especial, ainda que as relações entre fãs no fandom sejam frequentemente analisadas para além da interação direta.
    Jenkins propõe um modelo em cinco categorias de comportamento existentes dentro do fandom. Além de revelar como algumas relações acontecem dentro das comunidades de fãs, esse modelo diferencia os fãs dos consumidores comuns. Para Jenkins, de acordo com a primeira categoria, o fandom possui modos de recepção particulares, que envolvem a seleção intencional de um texto que irá ser consumido repetidas vezes de modo fiel, com a intenção não só de absorver esse texto, mas de utilizá-lo em diferentes práticas culturais e em diversas atividades. Em segundo lugar, o fandom envolve uma série de práticas críticas e interpretativas particulares que caracterizam comunidades organizadas. A terceira categoria afirma que o fandom constitui uma base para o consumo ativo, enquanto a quarta dá conta de que o fandom possui diferentes formas de produção cultural, práticas e tradições estéticas. Por fim, a quinta categoria proposta por Jenkins diz que o fandom funciona como uma sociedade alternativa, pois adquire características de uma sociedade complexa e organizada. Janet Staiger propõe, ainda, baseada nesse modelo apresentado por Jenkins, uma sexta categoria de comportamento. Para ela, o fandom se estende para o dia-a-dia do fã. Fãs reúnem e colecionam produtos relacionados com sua tietagem e os incorporam ao seu cotidiano e espaço físico.
    As categorias propostas por Jenkins e Staiger apresentam o fandom como um conjunto de práticas sociais que se constroem a partir de um consumo repetitivo, baseado no afeto e na fidelidade a um universo, além da interação com outros fãs no dia-a-dia de seus integrantes, por meio de comunidades organizadas que carregam identidade e regras próprias. No entanto, essas categorias estão muito centradas em um único objeto de fandom.
    Esse trabalho dá continuidade à pesquisa em andamento apresentada no Seminário temático de Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil, da Socine de 2016, em Curitiba. Com o objetivo de entender de que forma esse conjunto de práticas sociais se estabelece no espaço das salas de cinema, tomando como ponto de partida os fãs de Star Wars brasileiros, a proposta aqui é analisar os materiais de arquivo do Conselho Jedi do Rio de Janeiro e realizar entrevistas com integrantes de diferentes idades, para mapear práticas de fãs que se estabeleçam nas salas de cinema durante os últimos lançamentos de filmes da saga Star Wars.

Bibliografia

    AVEYARD, Karina; MORAN, Albert. Watching films: new perspectives on movie-going, exhibition and reception. Chicago: Intellect, 2013.
    BROOKER, Will. Using the force: Creativity, Community and Star Wars Fans. New York: Continuum. 2002.
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    JENKINS, Henry. Textual poachers: television fans and participatory culture. New York: Routledge, 1992.
    JENKINS, Henry. Cultura da convergência: São Paulo: Aleph, 2008.
    KLINGER, Barbara. Beyond the Multiplex: cinema, new technologies, and the home. Los Angeles: University of California Press, 2006.
    LEWIS, L. A. (org.). The adoring audience: fan culture and popular media. New York: Routledge, 2001.
    STAIGER, Janet. Perverse Spectators: The Practices of Film Reception. New York: New York University Press, 2000.