Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Amanda Mansur Custódio Nogueira (UFPE)

Minicurrículo

    Professora do Centro Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco. Possui Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco e Pós-doutorado pela mesma Instituição. É coordenadora do Laboratório de Imagem e Som do Agreste (LAISA). É autora dos livros O Novo Ciclo de Cinema em Pernambuco (2010), A Aventura do Baile Perfumado, (2016) e da tese A Brodagem no Cinema em Pernambuco (2014).

Ficha do Trabalho

Título

    Imagens do mar no cinema contemporâneo feito em Pernambuco

Resumo

    O cinema feito em Pernambuco se organiza em torno de um ethos, uma condição dos discursos fílmicos que vincula os cineastas ao lugar onde operam na realização. O cineasta filma por si, mas suas imagens e sons são como liames com esse lugar que é, em geral, circunscrito à cidade do Recife. O objetivo desta comunicação é examinar as características estéticas das imagens do mar em obras do cinema contemporâneo feito em Pernambuco, a partir do expressão do mar utópico proposto por Nagib (2006).

Resumo expandido

    A partir da retomada do cinema em Pernambuco, novos cineastas, de diferentes gerações surgiram (Paulo Caldas, Lírio Ferreira, Marcelo Gomes, Kléber Mendonça Filho, Marcelo Pedroso, Gabriel Mascaro, entre outros), com propostas estéticas, temáticas e narrativas muito individualizadas, mas todos empenhados na construção e discussão de um imaginário local. Em meio aos conflitos geracionais e estéticos, o mar (utopia marítima) surge como o elemento de diálogo entre as obras, presente em toda a filmografia do cinema contemporâneo, do litoral ao agreste, do agreste ao sertão.
    O cinema ressurge narrativamente e esteticamente revigorado, ganha projeção nacional e internacional nas premiações dos grandes festivais e garante a sua continuidade a partir da instauração das políticas públicas estaduais para o setor do audiovisual. Esse meio propício para produção promove impulsos autorais, organizados em torno de um ethos, uma condição dos discursos fílmicos que vincula as imagens e os sons a uma ressignificação da história local.
    Imagens de grandes extensões de água são comuns no cinema feito em Pernambuco, desde o ciclo do Recife. Parece lógico, por ser Recife uma cidade litorânea e portuária. Mas de que forma essas imagens aquáticas aparecem? Como contribuem para o imaginário utópico desse cinema? Na produção contemporânea, nessa cidade que é cenário e também tema dos filmes, a apresentação do mar/rios por vezes é uma intervenção de outra ordem. A ressignificação da história local envolve a revelação do ethos, pleno de afetos, entre utopias e distopias marítimas. Dos filmes de ficção às obras documentais, o projeto utópico de uma cidade, no sentido nostálgico e atualizador, ora aponta para a possibilidade de um paraíso, ora para um projeto de inferno.
    As águas do Recife, o mar e os rios aparecem nos filmes como dois elementos, que assim como a cidade, vivem lutando. Em Árido Movie (2006), de Lírio Ferreira, o mar do Recife surge em contraponto a imensidão montanhosa do sertão. Os créditos iniciais sobrepostos as imagens aéreas do litoral do Recife são acompanhados pela canção de Otto que constata a ocorrência da profecia utópica do cinema novo: o sertão virou o mar, e o mar virou sertão. Em Cinema, Aspirinas e Urubus (2003), de Marcelo Gomes, o mar está no projeto utópico de Ranulpho de sair da estagnação do Sertão. Em Deserto Feliz (2007), de Paulo Caldas, a praia é o lugar da utopia predatória masculina, de negociação entre turistas e traficantes, drogas, prostituição. O mar é a vista das coberturas no território de exclusão de Um Lugar ao Sol (2009), de Gabriel Mascaro. Está no muro que protege a Avenida Brasília Formosa (2010) da destruição e do caos urbano. E os documentários de Marcelo Pedroso, Balsa (2009) e Pacific (2009) têm o mar como paisagem narrativa. Na abertura de Febre do Rato (2012), de Claudio Assis pelo mar que deságua no Capibaribe, entramos no universo poético de Zizo. E no banho de mar noturno do senhor de engenho, na praia infestada de tubarões de O Som ao Redor (2012), de Kleber Mendonça Filho. Da situação comum, as pessoas que habitam o Recife, de ir para a praia e repensar a vida. Verônica, em Era uma Vez, Verônica (2012), estabelece uma forte relação com o mar. O mar é o lugar da exacerbação, é o lugar do encontro consigo mesma, de instauração do feminino em meio a uma cidade tão masculinizada.
    Esta comunicação analisa as imagens do mar e suas variações na representação das utopias marítimas, no cinema contemporâneo que tem a cidade de Recife como cenário e tema. E como esse cinema, feito localmente, contribui para inovação estética do cinema nacional. A proposta é a retomada da expressão de mar utópico no cinema brasileiro, proposto por Lúcia Nagib (2006), para discutir o projeto local de utopia, em filmes do cinema contemporâneo feito em Pernambuco.

Bibliografia

    CASTRO, Josué de. Um ensaio de geografia urbana: A cidade do Recife. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massanga, 2013.
    MELO NETO, João Cabral de. Museu de tudo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
    MENNEL, Barbara. Cities and Cinema. New York: Routledge, 2008.
    NAGIB, Lúcia. A utopia no cinema brasileiro: matrizes, nostalgia, distopias. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
    NOGUEIRA, Amanda (2014). A Brodagem no Cinema em Pernambuco. Tese de Doutorado defendida no PPGCOM da Universidade Federal de Pernambuco.
    XAVIER, Ismail. Sertão Mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Cosac Naify, 2007.