Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Alexandre Rossato Augusti (UNIPAMPA)

Minicurrículo

    Professor adjunto do curso de Comunicação Social – Jornalismo, da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); com mestrado em Comunicação e Informação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e doutorado em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio sanduíche na Università degli Studi di Salerno (Itália). Pós-doutor pelo PPG em Comunicação e Informação da UFRGS.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema neonoir italiano: a perspectiva hedonista em Romanzo criminale

Resumo

    Pensando-se a contextualização do cinema neonoir italiano, propõe-se, para esta comunicação, uma análise do filme Ligações criminosas (Romanzo criminale – Michele Placido, 2005), com base na perspectiva hedonista, inerente ao cinema noir clássico e também ao cinema neonoir, destacando-se algumas particularidades do gênero em questão no contexto italiano, a partir sobretudo da atuação da femme fatale. As observações sobre o filme são conduzidas com a orientação da análise fílmica.

Resumo expandido

    A presente comunicação tem o intuito de discutir algumas das conclusões decorrentes de meu pós-doutorado, que possibilitou a investigação sobre o cinema noir e neonoir italianos. Decorrente da pesquisa realizada ainda no doutorado, que teve foco mais específico sobre os filmes americanos pertencentes ao gênero noir, realizei um estágio sanduíche na Itália, que repercutiu adiante na referida pesquisa específica sobre os filmes italianos do gênero noir.
    Para a presente comunicação, ressalto a perspectiva hedonista dos filmes noir e neonoir italianos, sustentada mais particularmente pela atuação da femme fatale, que inclusive ganha alguns contornos também específicos no contexto italiano. Destaco, entretanto, a abordagem contemporânea, para fins de recorte, pensando os aspectos mais atuais do cinema noir, reconhecido em sua condição neonoir.
    Como orientação metodológica, amparo-me na análise fílmica, utilizando prioritariamente os autores Jacques Aumont e Michel Marie, a partir da obra A análise do filme (2004), e Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété, com Ensaio sobre a análise fílmica (1994).
    Ao se tomar a figura da femme fatale para amparar prioritariamente a abordagem hedonista dos filmes italianos, remete-se às alusões à beleza e ao sexo, como elementos que reportam ao hedonismo. O homem valoriza o hedonismo e a femme fatale utiliza essa tendência em prol de seus objetivos de ascensão social. Através de sua beleza e inteligência, essa mulher provoca o prazer masculino ou apenas incentiva a busca de sua realização. Nas narrativas neonoir, tal prazer é representado mais acentuadamente pelos elementos sexuais que se visualizam ou percebem.
    Em Ligações criminosas, Dandi (interpretado por Nicolò Malfatti e por Claudio Santamaria, quando adulto) é apaixonado por uma belíssima prostituta, chamada Cinzia, cujo codinome é Patrizia (interpretada por Anna Mouglalis). Em uma determinada cena, ele a encontra e a beija, linda, sobre o capô do carro de modo muito provocante, enquanto um investigador (o comissário Scialoja, interpretado por Stefano Accorsi) a vigia. Esse triângulo é responsável por boa parte do direcionamento da narrativa, que oscila entre os erros e acertos das personagens, movidas principalmente pela paixão, pelo interesse e o desejo de poder.
    Tem-se no filme Ligações criminosas diversos elementos noir atualizados para compor o que em geral se encontra em uma narrativa neonoir, que explora a beleza e o sexo de forma mais evidente, intensa e explícita.
    Nesse contexto, a personagem Cinzia ganha destaque, ao assumir já de início sua performance como prostituta, encarnando a femme fatale Patrizia. Uma mulher ousada e corajosa, que geralmente não precisa se mostrar frágil para conquistar a proteção dos homens que deseja explorar. A atualização temporal da narrativa acompanha a atualização que se percebe na sociedade em relação aos moldes que normatizam as condutas nas décadas de 40 e 50. Se naquela época a femme fatale ousava, agora ela ousa ainda mais, dadas as permissões atuais, que afrouxam em muito o que se quer e é possível mostrar no que concerne ao sexo.
    A narrativa noir italiana, atualizada, já que o filme é de 2005 e o período retratado vem a partir dos anos 70, aborda problemáticas frequentes, com especificidades da sociedade italiana do período, principalmente no que se refere à ação da máfia. As drogas ilícitas, o cigarro e a bebida, bem como a prostituição trazendo a ideia de perversão sexual, são trazidos de forma crua, reportando à degradação consequente de comportamentos impulsivos e/ou compulsivos relacionados a tais hábitos. Nesse sentido, violência e sexo são explorados esteticamente de um modo peculiar no neonoir. Os corpos seminus ou nus, muitas vezes encenando atos sexuais, reportam a um hedonismo muito mais carnal, fetichista e até destrutivo/fatal, como se verifica no destino de algumas personagens.

Bibliografia

    AUMONT, J.; MARIE, M. A análise do filme. Lisboa: Texto e Grafia, 2004.
    CAPRARA, V.; COZZOLINO, G. Cinema noir e neonoir italianos: depoimento [19 de janeiro, 2016]. Napoli. Entrevista concedida a Alexandre Augusti.
    CATALDO, G. De. Romanzo criminale. Turim: Einaud, 2002.
    FREZZA, L. Cinema noir e neonoir: depoimento [16 de maio, 2012]. Fisciano. Entrevista concedida a Alexandre Augusti.
    HEREDERO, C. F.; SANTAMARINA, A. El cine negro: maduración y crisis de la escritura clásica. Barcelona: Paidós, 1996.
    ROMANZO Criminale. Direção: Michele Placido. Intérpretes: Kim Rossi Stuart; Anna Mouglalis; Pierfrancesco Favino. Itália, França e Reino Unido, 2005, 152 min [174 – versão estendida], preto e branco. Versão do título em português: Ligações criminosas.
    SILVER, A.; URSINI, J. Film noir. Lisboa: Taschen, 2004.
    VANOYE, F.; GOLIOT-LÉTÉ, A. Ensaio sobre a análise fílmica. Campinas: Papirus, 1994.
    ZIZEK, S. Lacrimae rerum: ensaios sobre cinema moderno. São Paulo: Boitempo editorial, 2009.