Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Lívia Perez de Paula (ECAUSP)

Minicurrículo

    Doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais (ECAUSP), mestra em Multimeios e graduada em Comunicação Social – Midialogia pela Unicamp. É também realizadora do longa Lampião da Esquina (É Tudo Verdade 2016; Menção Honrosa – 24º Festival MIX Brasil) e do curta Quem Matou Eloá? premiado no ATLANTIDOC, 9º Festival de Cinema de Triunfo, VII CahoeiraDoc, GENII Awards da Alliance for Women in Media (Southern California) e eleito 10+ favoritos do público no 29º Festival Int. de Curtas-metragens de SP.

Ficha do Trabalho

Título

    Superando a invisibilidade: cinema de mulheres a partir de 1990

Resumo

    Este estudo reflete sobre os mecanismos, fatores e processos – políticos, históricos e sociais – que contribuíram para a crescimento considerável da autoria feminina no cinema brasileiro a partir dos anos 1990. Além de levar em conta aspectos internos como a criação da Lei do Audiovisual em 1993 e a criação da ANCINE em 2002 o trabalho também considera aspectos externos que podem ter influenciado esse quadro como a chamada quarta onda do feminismo.

Resumo expandido

    Na década de 1970 apenas cerca de 3% dos filmes brasileiros foram dirigidos por mulheres. Em 1980 este número chegou a pouco mais 7% e quase dobrou para 16% na década de 1990. Já na década de 2000 os filmes dirigidos por mulheres atingem 20% do total da produção brasileira o que mostra que apesar dos homens ainda dominarem este cenário, há de se observar que o crescimento das mulheres, pelo menos até agora se manteve exponencial e com crescimento considerável a partir dos anos 1990 se intensificando a partir de 2003.
    A partir dos anos 1990 assistimos a novos filmes de cineastas que já haviam atuado em períodos do cinema brasileiro anteriores como Helena Solberg, Lucia Murat, Ana Carolina, Tizuka Yamazaki e Tetê Moraes, mas também a filmes de realizadoras que iniciaram suas carreiras nos anos 1990 e 2000 como Anna Muylaert, Tata Amaral, Laís Bodanzky, Eliane Caffé, Renata Pinheiros e outras.
    Desta forma o estudo aborda brevemente o conjunto de filmes dirigidos por mulheres que parece trazer fôlego ao Cinema Brasileiro, tanto do ponto de vista da crítica como da bilheteria no início da Retomada. Carlota Joaquina (Carla Camurati, 1995) estreia um novo período para o cinema brasileiro após a paralisação da produção nacional decorrente da extinção da EMBRAFILME. Na mesma toada temos Terra Estrangeira (Daniela Thomas e Walter Salles, 1996) e em seguida, Um céu de estrelas (Tata Amaral, 1997) que surge abordando a violência doméstica, uma das questões que atinge em cheio às mulheres latino-americanas.
    A partir de 2005 surgem filmes que incidem diretamente nas questões das mulheres, inclusive considerando a interseccionalidade como Juízo (Maria Augusta Ramos, 2008), Kátia (Karla Holanda, 2013) até a consagração (repleta de polêmicas com cineastas homens enciumados pelo sucesso) de Que horas ela volta? (Anna Muylaert, 2015) com os prêmios em Berlim (Prêmio do Público de Melhor ficção na Mostra Panorama) e em Sundance (Prêmio Especial do Júri pela Atuação para Regina Casé e Camila Márdila) e os bons números de bilheteria no Brasil e na Europa.
    Interessado em compreender este crescimento o presente estudo busca investigar a conjuntura e os possíveis fatores que colaboraram para configurar este panorama como um momento propício para que mulheres atuantes do cinema brasileiro retomassem suas atividades e para que surgissem cada vez mais novas realizadoras.
    Como metodologia pretende-se utilizar uma perspectiva de mulheres para analisar esta conjuntura que envolve aspectos ressonantes de uma tendência mundial combinados com a investigação de dinâmicas internas relacionadas à políticas públicas e transformações sociais.
    Com a proposta de deslocar perspectivas de análise, o estudo propõe uma reflexão sobre as consequências do fim da Embrafilme na ótica das mulheres realizadoras. Segundo a pesquisadora Leslie Marsh2, que entrevistou cineastas brasileiras a este respeito, poucas sentem nostalgia dos modos de fomento da extinta empresa pública. Ao contrário, para as cineastas o fim da Embrafilme teria resultado, de certa forma, mudanças positivas o que é um ponto divergente entre uma parcela muito grande de homens realizadores que ainda lembram com nostalgia dos tempos da Embrafilme.

Bibliografia

    ALVES, Paula O Cinema Brasileiro de 1961 a 2010 pela Perspectiva de Gênero. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: IBGE, 2011
    BOTELHO, André; SCHWARCZ, Lilia. (Org.). Agenda Brasileira, temas de uma sociedade em mudança. 1ed.Seoul: Sechang Publishing Company, 2014
    HAMBURGER, Esther Visibilidade em Questão: Mulheres, Negros e Nordestinos na Mídia. Cadernos de Pesquisa do Cebrap, São Paulo, v. 4, p. 97-124, 1996.
    HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org) Quase catálogo 1: Realizadoras de cinema no Brasil (1930-1988). Rio de Janeiro: CIEC/UFRJ/Museu da Imagem e do Som, 1989
    _____. Tendências e impasses – o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
    KAPLAN, E. Ann. A Mulher e o Cinema: os dois lados da câmera. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1995.
    MARSCH, Leslie Brazilian Women’s Filmmaking: From Dictatorship to Democracy University Illinois Press, 2012
    MUNERATO, Elice; OLIVEIRA, Maria Helena Darcy de. As musas da matinê. Rio de Janeiro: Rioarte, 1982