Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Daniel Dória Possollo Carrijo (UFPR)

Minicurrículo

    Daniel Dória é mestre em História pela UFPR e atualmente bolsista de doutorado também pelo departamento de pós-graduação em História da UFPR, orientado pelo Profº Drº Pedro Plaza Pinto, da linha de Cultura e Poder. Analisa as narrativas fílmicas da história do blues do século XXI, problematizando conceitos tais como lugar de memória fílmico e autenticidade. Dedica atualmente especial atenção aos estudos relacionados à trilha sonora, em especial com relação ao conceito de paisagem sonora.

Ficha do Trabalho

Título

    O BLUES NA PAISAGEM SONORA DE “O BROTHER, WHERE ART THOU?”

Resumo

    Propõe-se analisar a construção do lugar de memória fílmico relativo à história do blues a partir da compreensão do efeito de autenticidade produzido pela utilização da banda sonora e pelas paisagens simbólicas que a mesma suscita em “O Brother Where art Thou?” (2000), dos irmãos Coen. Espera-se demonstrar assim de que forma e a partir de quais elementos sonoros constrói-se um supercampo crível, de acordo com as imagens mnemônicas acerca do recorte histórico retratado.

Resumo expandido

    Propõe-se analisar a construção do lugar de memória fílmico relativo à história do gênero musical blues a partir da compreensão do efeito de autenticidade produzido pela utilização da banda sonora e pelas paisagens simbólicas que a mesma suscita. Por objetivo, espera-se demonstrar de que forma e a partir de quais elementos sonoros – música, ruído, ferramentas audiovisuais, tais como o dolby surround – constrói-se um supercampo crível, de acordo com as imagens mnemônicas sociais acerca do recorte histórico retratado.
    Partiremos da obra “O Brother, Where art Thou?” (2000), dirigido pelos irmãos Coen, com T Bone Burnett assinando a trilha sonora. O filme, que consiste de uma alegoria paródica da obra A Odisséia de Homero, ambientada nos EUA à época da Grande Depressão (anos 1930), introduz como figura coadjuvante de destaque a personagem Tommy Johnson, um músico negro de blues encontrado em uma encruzilhada após concluir um trato com o diabo em troca de sua alma, aludindo claramente à figura histórica de Robert Johnson, o músico misterioso e virtuoso que morrera tragicamente aos 29 anos na mesma época em que se passa o filme. Como trabalhado anteriormente em nossa pesquisa, concluímos em 2014 com Cinema & Blues: representações do gênero no século XXI, a nível narrativo, que o blues é parte relevante, um lugar comum, quando se pensa a cultura estadunidense da metade do século XX, principalmente quando se refere à região Sul, em especial o delta do rio Mississipi, pela intensa presença de indivíduos de origem africana – ex-escravos ou seus descendentes, que à época viviam em grande parte submetidos ao regime de sharecropping, espécie de feudalismo moderno, segundo Robert Palmer. Além disso, a memória social relativa a esse grupo é marcada pela errância, pelo sincretismo religioso e misticismo, pela exploração, racismo, violência – ambas as referências presentes na obra em relação à personagem estudada. O que propomos aqui é um estudo mais aprofundado acerca da construção dessa narrativa, desse lugar de memória audiovisual tido por autêntico, de acordo com o imaginário coletivo dominante, a partir da trilha sonora, fortemente marcada pelo gênero musical em questão e pelo uso da ferramenta dolby surround. Acreditamos que a atmosfera do Sul dos EUA, berço do blues, apresentada na obra, com cânticos de spirituals, work songs, ruídos brancos de vento e mato, somados à própria escolha da trilha musical, tanto de fosso quanto diegética e acusmática, com especial destaque àquelas interpretadas pela personagem em questão, como a canção tema “Man of Constant Sorrow” – que apesar de soar mais como um country apresenta fortes características do gênero estudado, reforçando o argumento apresentado – são peças fundamentais para a construção da paisagem sonora que soma à narrativa fílmica sua impressão de autenticidade, medida fundamental, como propõe Natalie Zemon Davis, para o sucesso de qualquer filme que se proponha a retratar o passado. Aqui, dessa forma, analisamos o papel do blues e de seu imaginário social (e sonoro, por que não) enquanto elemento central da construção do território historicamente reconhecido como sendo o dos EUA à década de 1930 a partir do tratamento sonoro da obra, levando em consideração também, naturalmente, os aspectos subjetivos característicos de seus responsáveis – os irmãos Coen e T Bone Burnett.

Bibliografia

    CHION, M. A audiovisão: som e imagem no cinema. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2008.
    DAVIS, N. Z. “Any Resemblance to Persons Living or Dead: Film and the Challenge of Authenticity.” Yale Reviews, vol. 76, no. 4 (September 1987).
    DÓRIA, D. P. C. Cinema & Blues: representações audiovisuais do gênero no século XXI. 76 f. Dissertação – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2014.
    GUYNN, W. Writing History in Film. New York, Routledge, 2006.
    NORA, P. “Entre memória e história: a problemática dos lugares”. Projeto História: Revista do Departamento de História da PUC-SP, No. 10 (Dezembro 1993).
    PALMER, R. Deep Blues: A Musical and Cultural History from the Mississippi Delta to Chicago’s South Side to the World. USA: Penguin Books, 1982.
    SCHAFER, M. O ouvido pensante. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1991.
    WISNIK, J. M. O Som e o Sentido: uma outra história da música. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.