Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Pablo Villavicencio (PUC)

Minicurrículo

    Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, desde de 2015, sob orientação da profª. Dra. Lucia Leão. E mestre no mesmo curso e instituição, sob orientação da Profª. Dra. Lucrécia Ferrara (2009). É especialista em Criação de Imagem e Som em Meios Eletrônicos, pelo centro universitário SENAC-SP (2006) e graduado em Publicidade e Propaganda Unifram (2001). Também é artista visual, criador de instalações e performances audiovisuais.

Ficha do Trabalho

Título

    Little boxes, de Bego Santiago: os espaços urbanos e o brincar.

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Little boxes é uma instalação audiovisual, de Bego M. Santiago, exposta no FILE, em 2015, apresentando-se como uma espécie de metonímia dos espaços urbanos, em que, as imagens figurativas e os sons disparados pelos visitantes, problematizam, discutem e atualizam a questão do medo das pessoas no ambiente urbano. A obra constitui um ambiente-espaço sensorial, transitável e relacional (social).

Resumo expandido

    Little boxes é uma instalação audiovisual em que dispõem-se 3 fileiras de 12 caixas fechadas de madeira, aquelas utilizadas para transportar objetos, colocadas de modo a oferecer uma distância entre si, o que permite a passagem dos sujeitos por esses espaços, sendo possível também transitar na parte frontal da instalação, a obra oferece em seu interior 3 espaços transitáveis. Nas caixas, retangulares e de distintos tamanhos, são projetadas imagens de diferentes pessoas, recortadas do fundo imagético bidimensional, contendo tanto imagens de pessoas isoladas, quanto de pequenos grupos de duas ou três pessoas. A escala das caixas em relação ao corpo humano (médio) varia, porém, em geral, encontram-se aproximadamente entre o quadril e os ombros. As pessoas mostradas nas imagens possuem uma escala menor em relação ao corpo do visitante, quando estes aproximam-se das projeções, essas “pessoas-imagens” se assustam, gritam e, por vezes, saem em disparada, em uma histeria coletiva. Um sensor capta os movimentos dos visitantes e, conforme sua proximidade, disparam diferentes vídeos, os indivíduos projetados atuam como se estivessem com medo, repulsa ao sujeito que interage com a obra. As caixas, apesar de seu caráter utilitário, evocam os espaços arquitetônicos urbanos, mais precisamente prédios de apartamentos, em que vivem pessoas isoladas, ou em pequenos grupos. O espaço público urbano parece ser metaforizado tanto em relação às caixas quanto no espaço de fluxo dos visitantes e, na interação, podemos sentir uma sensação ao mesmo tempo de riso e estranhamento, devido à fuga das “pessoas-imagens”. Semelhante à sensação que experimentamos ao andar por uma calçada em que pessoas que não nos conhecem nos olhando com receio e desconfiança, o que é comum principalmente nos grandes centros urbanos. O que são o conjunto de edifícios senão caixas quadradas, altas, mais baixas, de cimento ou espelhadas, senão caixas estéreis do tecido urbano em sua monotonia geométrica? Os vídeos utilizam-se da linguagem do cinema tradicional, pois há um jogo entre os olhares das pessoas nas imagens, atuando como se estivessem olhando para os visitantes que se aproximam, assim o uso do fora de campo é fundamental para o desenvolvimento da narrativa de Little boxes. Tal como em cenas do filme japonês Godzilla (1954), nos sentimos “monstro gigante” que ataca uma cidade, provocando medo. A instalação constrói um espaço aberto em que o sujeito pode adentrar pela frente ou se embrenhar caminhando pelo espaço entre as caixas que compõe uma continuidade com o espaço virtual das imagens projetadas. Em sua trajetória o sujeito-pedestre aumenta as possibilidades de trânsito pelo espaço da obra, encontrando desvios e atalhos que aumentam o número dos possíveis trajetos pelo espaço, portanto: “o caminhante transforma em outra coisa cada significante espacial” (CERTEAU, 2014). Esse espaço também pode ser entendido como lúdico, e oferece diversas significações, criando um “círculo mágico” (HUZINGA, 2000), que pode remeter-nos à brincadeira de “pique-pega”, por exemplo. Não é de se estranhar que crianças, ao adentrar a obra, possam brincar esse jogo, interagindo não só com os seres imagéticos pequeninos, mas com outras crianças e pessoas presentes no lugar; a obra, ao mesmo tempo crítica em relação ao nossos espaços urbanos, nos incentiva aos “desvios” lúdicos.

Bibliografia

    BAIO, César Augusto Santos. Da imersão à performatividade: vetores estéticos da obra-dispositivo. Tese de Doutorado em Comunicação e Semiótica. São Paulo: PUC, 2011.
    BURCH, Noël. Práxis del Cine. Madri: Fundamentos, 1979.
    CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 1 Artes do fazer. Petrópolis-RJ: Vozes, 2014.
    HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 2000.
    MACHADO, Arlindo. O sujeito na tela: modos de enunciação no cinema e no ciberespaço. São Paulo: Paulus, 2007.
    KWASTEK, Katja. Aesthetics of interaction in digital art. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 2013.