Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    João Vitor Resende Leal (ECA-USP)

Minicurrículo

    João Vitor Leal é doutorando com bolsa FAPESP do Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais na Universidade de São Paulo (USP), graduado em Jornalismo (UFMG) e mestre em Cinema (Paris-3). Sua pesquisa trata da relação entre o narrativo e o sensorial a partir da categoria do personagem cinematográfico.

Ficha do Trabalho

Título

    Do homem-máquina: jogos de máscaras na ficção científica

Seminário

    Corpo, gesto, performance e mise en scène

Resumo

    A partir de filmes de ficção científica, pretendemos analisar a tradição do personagem androide, levando em consideração o trabalho atoral e as estratégias narrativas que habitualmente o constituem. Personagem não-humano que, interpretado por um ator humano, não raro tenta se passar por um ser humano, o androide complica e coloca em evidência relações entre ator, corpo, personagem e figura no cinema, possibilitando assim um outro modo de se explorar a complexidade do personagem cinematográfico.

Resumo expandido

    A partir de filmes de ficção científica como Metrópolis (Fritz Lang, 1927), Blade Runner (Ridley Scott, 1982), Inteligência artificial (Steven Spielberg, 2001) e Ex-Machina (Alex Garland, 2015), pretendemos analisar a tradição do personagem androide, levando em consideração as estratégias narrativas e figurativas e as nuances do trabalho atoral e que habitualmente o constituem. Entendendo por “androides” personagens-máquina que, performados/interpretados por atores humanos, não raro dissimulam sua natureza mecânica sob a máscara mais ou menos verossímil de um ser humano, examinaremos os modos pelos quais sua expressividade – fisicalidade, gestualidade, rosto, voz – tensionam dualismos correntemente estabelecidos entre o orgânico e o artificial, o espontâneo e o programado, o performático e o teatral, a presença e a representação, o ser humano e a máquina. Através desse meta-cinematográfico espelhamento de máscaras, no qual um humano interpreta uma máquina que, por sua vez, reinterpreta um humano, buscaremos discutir como o corpo filmado do ator (sua presença física, material, na imagem) é simultaneamente endereçado ao espectador como uma pessoa representada (um personagem antropomórfico) e como uma desfiguração do humano (uma figura não-humana, talvez monstruosa, cuja eficácia narrativa e figurativa vem justamente romper as fronteiras do antropomorfismo). Noutras palavras, pela investigação da expressividade de personagens androides, esperamos realizar não apenas um estudo de caso no âmbito do cinema de ficção científica, mas sobretudo delinear e analisar as fricções que o cinema potencialmente engendra entre as noções de ator, corpo, personagem, pessoa humana e figura. Num segundo momento, com o intuito de ampliar tal horizonte de investigação, confrontaremos a tradição do personagem androide no cinema a outras formas artísticas de construção híbrida do homem-máquina, tomando como exemplo as vídeo-criaturas/esculturas de Otávio Donasci e Tony Oursler e os “corpos ausentes” no teatro multimídia de Denis Marleau.

Bibliografia

    BREDEKAMP, Horst. Théorie de l’acte d’image. Paris: La Découverte, 2015.

    FÉRAL, Josette. “Foreword”. SubStance, nº 31, 2002, pp. 3-13.

    FROW, John. Character and person. Oxford: Oxford University Press, 2016.

    GARNIER, Xavier. L’éclat de la figure: Étude sur l’antipersonnage de roman. Bruxelas, Berna, Berlim: PIE – Peter Lang, 2001.

    GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença: O que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, 2010.

    IAMPOLSKI, Mikhaïl. “Visage-masque et visage-machine” in ALBERA, François (org.). Vers une théorie de l’acteur: Actes du colloque de Lausanne. Lausanne: Éditions de l’Âge d’Homme, 1994, pp. 25-38.

    ISSACSSON, Marta. “Desdobramentos do ator e do personagem pela máscara videográfica”. Repertório Teatro & Dança, nº 14, 2010, pp. 30-36.

    PAVIS, Patrice. “Le personnage romanesque, théâtral, filmique”. Iris, nº24, 1997, pp. 171-183.

    SIQUEIRA, Denise da Costa. “O corpo no cinema de ficção científica”. Logos, nº 17, 2002, pp. 51-59.