Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Myriam Pessoa Nogueira (IFG)

Minicurrículo

    Doutora em Artes pela EBA/UFMG, pelo departamento de Cinema, Fotografia e Teatro, é mestre em Literaturas em Língua Portuguesa pela PUC/Minas, especialista em Cinema, Vídeo e TV pela UCLA, bacharel em Radio e TV pela UFMG e leciona atualmente no Instituto Federal de Goiás em Cidade de Goiás. Autora do livro “Hoje é dia de Maria Borralheira: matrizes intertextuais da minissérie televisiva”(Mineiriana, 2014) e do vídeo “Minisséries Brasileiras: da história e da produção” (1988, 3 h 30 min, VHS)

Ficha do Trabalho

Título

    Woody Allen e sua relação com a crítica e a autocrítica

Resumo

    A comunicação mostra a conturbada recepção do filme de Woody Allen “Memórias” pela crítica norte-americana e como este filme devia sua gênese a outros cineastas, assumidamente ou não. O mesmo filme gerou outros filmes de Allen posteriores, como “Desconstruindo Harry”, “Dirigindo no Escuro” e “Celebridades”, numa rede intertextual, que remonta a contos do próprio Allen. Porém, Allen faz autocríticas em seus filmes, na metáfora do diretor cego e do diretor sem foco e do escritor em crise.

Resumo expandido

    Em “Stardust Memories” (Memórias, 1980), Allen se escala como Sandy Bates, um diretor célebre de comédias que comparece relutantemente a uma retrospectiva em sua homenagem, onde ele tem de escutar os elogios dos fãs e a censura dos críticos. No auge da fama como diretor, Allen faz uma irônica versão da realidade de um comediógrafo que quer fazer um filme sério, como uma referência (não-assumida) a Preston Sturges. Como nos revela Robert Stam (1992, p. 157), as críticas de Stardust Memories foram tão ácidas como as que Sandy Bates recebera: “Woody não rima com Federico” (Sarris), “Inferiores: Woody Allen se esconde atrás de Fellini” (Schiff), “Os Erros do 8 ½ de Woody” (Shalit) e “A Carta com Caneta Envenenada de Woody” (Denby). O filme, que é um “auto sarcástico exercício de intertextualidade”, segundo Stam (2006, p. 188), foi tomado pelos críticos como um ataque endereçado a eles pelo diretor. Condenaram o filme, sem analisá-lo esteticamente, levando tudo ao pé-da-letra, para o lado pessoal. Tudo o que era elogiado por eles nos contos de Allen publicados em The New Yorker, era considerado insuportável no filme. É a relação de Allen com os críticos e com sua própria autocrítica o tema desta comunicação, que ainda aborda os filmes “Desconstruindo Harry” (Deconstructing Harry, 1997), “Dirigindo no Escuro” (Hollywood Ending, 2002), “Celebridades” (Celebrity, 1998), numa paródia como homenagem, como dizem Godard e Linda Hutcheon, a “8 1/²” (Otto e Mezzo, ) de Fellini, na temática do autor em crise. Allen tem um processo de autotextualidade, como diz Affonso Romano de Santana, ao adaptar contos seus para estes filmes e citar seus próprios filmes anteriores. Desconstruindo Harry, inclusive, tem cena tirada de uma versão anterior de Annie Hall (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, 1977), quando ainda se chamava Annedonia e de peças de teatro de Allen. Utilizando metáforas como o diretor cego considerado gênio, o diretor que perdeu o foco e o ator desfocado, ele trabalha questões estéticas da linguagem cinematográfica tomadas de empréstimo à narrativa literária. Sendo uma característica dos escritores judeus uma ironia ferina com seu próprio talento, ele destila farpas para a crítica, mesmo tendo sido incensado por Pauline Kael, por exemplo, como um diretor-autor que finalmente desponta para o sucesso crítico após “Annie Hall”. Após essa celeuma com “Stardust Memories”, e de alguns insucessos na linha de filmes bergmanianos, após Zelig (1984), Allen parece ter encontrado um happy ending em sua relação com a crítica norte-americana. Mesmo após o incidente em sua vida pessoal, em 1993, que rendeu biografias oportunistas e muita exposição midiática negativa, Allen já era reconhecido pelos críticos europeus como um cineasta cult, e, a partir de filmes feitos naquele continente neste milênio, passa a ocupar uma posição de um artista que a cada lançamento anual em festivais incensados como Cannes, cria uma expectativa nos críticos e em um público que o cultua ao redor do mundo. Agora, parece ter conquistado o público médio americano, seu maior objetivo ultimamente.

Bibliografia

    ALLEN, Woody. Four Films. Annie Hall, Interiors, Manhattan, Stardust Memories. Random House: NY, 1982.
    HUTCHEON, Linda. Narcissistic Narrative: the metaficcional parador. Wilfrid Laurier Univ. Press, 1980.
    HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia. RJ. Edições 70, 1985.
    KAPSIS, Robert E.; COBLENTZ, Kathie. Ed. Woody Allen – Interviews. The University Press of Mississippi, 2006.
    LAX, Eric. On Being Funny: Woody Allen and Comedy. Manor Books, NY: 1977.
    LAX, Eric. Conversas com Woody Allen. SP: Cosac Naify, 2009 (2a. edição).
    LAX, Eric. Woody Allen – uma biografia. SP: Cia. das Letras, 1991.
    ROMTREE, Sage Hamilton. “Self-Reflexivity in Woody Allen’s Films” in: KING, Kimball ed. Woody Allen – A Casebook. Routledge, NY: 2001.
    SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase e cia. Ática: SP, 1985.
    STAM, Robert. Reflexivity in Film and Literature – From Don Quixote to Jean-Luc Godard. Columbia University Press: New York, 1992.
    STAM, Robert. Introdução à teoria do cinema. Papirus: Campinas, 20