Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    José Umbelino de Sousa Pinheiro Brasil (UFBA)

Minicurrículo

    Professor Associado I da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Pós –Doutorado no PPPGC – UFPE (2013/2014) com o projeto “Geografia do Filme – a viagem de Rossellini. Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas (2007). Mestre em Artes Visuais – EBA/UFBA (1995). Documentarista realizou os filmes “A mãe” (Prêmio Especial no Festival de Gramado, 1998). “Lutas e Vidas” (1983) e “O que eu conto do sertão é isso…” (Prêmio de melhor filme Festival JB/Shell, 1979).

Ficha do Trabalho

Título

    Paraíba, Crítica & Filmes e o realismo “mágico” da criação do cinema.

Resumo

    Aruanda (Linduarte Noronha e Rucker Vieira, 1959) foi a ruptura qualitativa ocorrida no cinema moderno brasileiro. Carro-chefe do ciclo paraibano, deu os primeiros sinais de vida ao documentário político e social. Aruanda e seus seguidores foram projetos embasados nas críticas formatadas na imprensa paraibana nos fins dos 50 até a década de 60 do século XX;, também, dos intensos debates e embates ocorridos nos cineclubes e nas salas de arte.

Resumo expandido

    Da realização dos documentários: Aruanda (Linduarte Noronha e Rucker Viera, 1959); Cajueiro Nordestino (Linduarte Noronha, 1962); Romeiros da Guia (Vladimir Carvalho e João Ramiro de Melo, 1962); Homens dos Caranguejos (Ipojuca Pontes e Vladimir Carvalho, 1968); Padre Zé Estende a Mão (Jurandy Moura, 1972) ao primeiro longa-metragem, Salário da Morte (Linduarte Noronha, Jurandy Moura e Antonio Barreto Neto, 1971), até a concretização atemporal do média-metragem O que eu conto do Sertão é isso… (Romero Azevedo, Umbelino Brasil e outros autores, 1978) existiu uma estreita simbiose entre as ações cineclubistas, a crítica cinematográfica e a construção desses e outros filmes que formaram o Ciclo Paraibano de Cinema. Filmes que vistos num conjunto tornaram-se um manifesto utópico que demarcou a árvore genealógica de um cinema novo brasileiro ou moderno, por assim dizer; tornando-se o ciclo, um expressivo movimento que teve dois significativos resultados: a) inserção da cultura paraibana na idade do cinema moderno; b) fez com que o documentário paraibano/brasileiro passasse a existir no sentido estético e social, quebrando o velho ritual que predominava na estrutura narrativa dos filmes documentais. Qualquer retrospectiva dos filmes produzidos nas décadas anteriores, aos anos 1960, teríamos dúzias de filmes impressionistas realizados por amadores, com técnica sofrível e alguns momentos plásticos. Os nossos documentaristas do passado foram apenas bons fotógrafos e quanto à montagem ficávamos no nível primário da coordenação da narrativa. Mesmo assim, ficamos devendo a Humberto Mauro trabalhos que denotam um cineasta atrás da câmara. No contexto politico, estético, social do meado do século vinte, surgiram às novas vanguardas cinematográficas que iria povoar o mundo fílmico com propostas libertárias. A longínqua Paraíba, terra semiárida e de pouco progresso vai se encaixar nessa globalização estética mundial. Era a “derrota da província na própria província” ou “o retrato do colonizado precedendo a imagem do colonizador”, nos dizeres de Glauber Rocha. Ao mapear o Ciclo de Cinema Paraibano, as minhas observações seguem na direção da crítica cinematográfica exercida nos jornais em circulação na capital João Pessoa, e na interiorana Campina Grande. Redimensiono, especificamente, o papel por ela exercido e do seu pensamento. Do final dos anos 1950 até a metade dos 1970 existiu uma farta abundância de críticas nas quais predominava a análise do produto estrangeiro, particularmente do cinema americano e, numa parte menor da crítica, verificava-se que alguns críticos assumiram a significativa função de combater um preconceito comum entre a intelectualidade brasileira, o da oposição ao nosso cinema, considerado até aquela época, um mero divertimento sem maior qualificação artística. Alguns notórios pensadores tiveram um papel importante na ruptura desse conservadorismo, pois lutaram no sentido de desfazer o convencionalismo, assegurando o papel predominante do novo cinema; o que fez despontar uma geração de críticos de cinema, e parte substancial deles se tornaram cineastas. Foram eles os responsáveis pela formação de um conhecimento, de uma difusão do cinema e, em certo sentido, do ensino das técnicas, da história e da estética cinematográfica suprindo, assim, a falta de escolas – estas substituídas pelos Cineclubes e Salas de Arte – para formar mentes afinadas com o mundo endógeno cinematográfico. Foi a partir das críticas produzidas por esses jovens escritores de cinema, nos jornais e periódicos da capital e do interior, que surgiu o reconhecimento de filmes de qualidade, da noção de gêneros, dos diretores, além da apreciação de estilos, movimentos, tendências e escolas. As suas críticas formavam um conjunto de escritos não homogêneos, multiplicados nos diversos jornais, sedimentando e transmitindo pensamentos a uma geração de jovens, estimulando-os e induzindo-os à crítica e à realização de filmes.

Bibliografia

    AMORIM, Lara Santos e FALCONE, Fenando Trevas. Cinema & Memória o Cinema Super- 8 na Paraíba nos anos 1970 e 1980. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.
    GOMES, João de Lima (Org.) Aruanda – Jornada Brasileira. João Pessoa; Fundação Ulysses Guimarães, 2003.
    GOMES, João de Lima. Terra Distante. João Pessoa: Editora da UFPB, 2014 (Coleção Humanidades).
    LEAL, Willys. Cinema & Província (História do Cinema Paraibano). João Pessoa, Pb: Edição do Autor, 1968
    MARINHO, José. Dos homens e das pedras – o ciclo do cinema documentário paraibano (1959-1979). Niterói-RJ: EDUFF, 1998;
    MATTOS, Carlos Alberto. Vladimir Carvalho – Pedras na lua e Pelejas no planalto. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008.
    OSIAS, Sílvio (Org.) Antonio Barreto Neto – Cinema por Escrito. João Pessoa, Pb: União Editora, 2010.
    ROCHA, Glauber. Revisão Critica do Cinema Brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
    TEIXEIRA, Francisco Elinaldo (Org.). Documentário no Brasil – Tradição e Transformação. São Paulo: Summus, 2004.