Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Marise Berta de Souza (UFBA)

Minicurrículo

    Doutora Artes Cênicas/ UFBA, Mestre Artes Visuais/UFBA.
    Professora do Bacharelado Interdisciplinar em Artes IHAC /UFBA
    Coordenadora do Mestrado Profissional em Artes PROF-ARTES UFBA.
    Coordenadora do Laboratório de Tecnologias Educacionais – LABTEC/UFBA
    Membro do grupo de pesquisa Audiosfera – música, tecnologia e cultura, linha de pesquisa – imagens, poéticas audiovisuais e narrativas orais.

Ficha do Trabalho

Título

    ICBA/Bahia 1971-1978 – Espaço de ocupação artística e de resistência

Seminário

    Exibição cinematográfica, espectatorialidades e artes da projeção no Brasil

Resumo

    Esta proposta tem o objetivo de apresentar o Instituto Cultural Brasil Alemanha, ICBA, como um território de ocupação artística e de resistência política entre os anos de 1971 a 1978. Anos densos em que os artistas enfrentaram o desafio de inventar espaços autônomos de produção e lutar pela liberdade de expressão. Sob a gestão de Roland Schaffner, abrigou experiências de teatro, música, dança, artes visuais e, particularmente, foi um vetor de articulação da cultura cinematográfica.

Resumo expandido

    O novo diretor do Instituto chega à Bahia em 1970 trazendo na bagagem experiências de cineclubismo e teatro estudantis, impregnado pelos conceitos vigentes na vida cultural da Alemanha dos anos 1960, tendo como uma de suas referências a política cultural revolucionária de Hilmar Hoffmann, fundador do Festival de Cinema Internacional de curta-metragem em Oberhausen, também Secretário de Cultura de Frankfurt, onde concebeu e implantou a máxima Cultura Para Todos. As experiências mais recentes vinham da vivência na sede do Instituto no Rio de Janeiro onde exerceu o cargo de Vice-Diretor, assumindo a programação cinematográfica que se estendeu aos Institutos de São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Salvador.
    A primeira gestão de Roland Schaffner, pois ele voltará para realizar uma segunda administração na década de 1990, se constrói com base no respeito ao panorama social e cultural do lugar, por meio de uma cooperação transcultural potente entre artistas e intelectuais. Contando com um prédio na região central de Salvador, espaço amplo e com capacidade de expansão, com equipamentos técnicos, recursos humanos qualificados e abertos à mudança, aposta na força reflexiva da arte e propõe o desenvolvimento de um “centro de cooperação intercultural”. Em regime de cogestão, convoca artistas e intelectuais baianos a ocuparem, com criatividade e invenção, o “território livre do ICBA” indicando caminho e método para a criação de um espaço de trânsito, colaboração cultural e experimentação artística. Preenchendo o suposto vazio cultural que ocorre em Salvador na década de 1970, mencionado por alguns pesquisadores que tratam o período, o ICBA, se impõe como um local de estímulo à inovação, rupturas estéticas, encontros interculturais, tornando-se celeiro e incubadora de proposições nas diversas linguagens artísticas e abrigo “diplomático” na defesa incondicional dos direitos políticos e humanos. O espaço transforma-se, a biblioteca e um pequeno cine teatro são construídos, barracões são improvisados para abrigar as oficinas e montagens artísticas. Organicamente se transforma em um campo de produção colaborativa, promovendo a integração entre as expressões artísticas, agregando simultaneamente exposições, cursos, seminários e espetáculos.
    Dando sequência às inclinações cinematográficas universitárias e à prática de curadoria exercida no Rio de Janeiro, em parceria com o Clube de Cinema da Bahia, tendo à frente o professor e cineasta Guido Araújo, Schaffner investe na promoção de mostras e retrospectivas históricas do Cinema Brasileiro, do Cinema Clássico, das Novas Cinematografias e do Jovem Cinema Alemão. Dinamiza o cine teatro e instala o Cinerante, no pátio do bar-restaurante, onde o público passa a assistir as projeções ao ar livre. Essas iniciativas irão se somar ao apoio dado à Jornada de Cinema, evento criado por Guido que teve a base de sua organização garantida pelas instalações do Instituto. Vale ressaltar que a Jornada, que teve seu início em 1972, foi o mais antigo festival cinematográfico do Nordeste brasileiro e ao longo de quatro décadas ajudou a tecer as linhas que acompanharam as marchas e contramarchas efetuadas na luta pela afirmação do cinema independente no Brasil.
    Ainda no campo cinematográfico, o ICBA acolheu o grupo Experimental de Cinema da Bahia, o Clube de Cinema, a Secção Nordeste da Federação Nacional de Cineclubes e a Associação Brasileira de Documentaristas (Secção Nordeste). Também se torna necessário registrar o pioneirismo em uma significativa atividade de formação realizada no Estado, o curso de cinema feito em convênio com o Clube de Cinema da Bahia e a ABD, responsável por introduzir no ambiente das práticas profissionais os cineastas baianos que surgiram nos anos 1970.

Bibliografia

    CRUZ, Marcos P.P. O super-8 na Bahia: história e análise. Dissertação apresentada na Pós-Graduação da ECA – USP, São Paulo, 2005.
    LEÃO, Raimundo M. de. Transas na cena em transe: Teatro e Contracultura na Bahia. Salvador: EDUFBA, 2009.
    MELO, Izabel C. C. Cinema é mais do que filme: uma história do cinema baiano através das Jornadas de cinema da Bahia. Dissertação apresentada na Pós-Graduação em História, UFBA, Salvador, 2009.
    SANTANA, Marilda. Goethe Institut – O ICBA nas gestões de Roland Schaffner: território e usina de experiências interculturais. Diálogos & Ciência – Revista da Faculdade de Tecnologia e Ciências – Rede de Ensino FTC, Ano 9, n. 25, mar.2011.
    SETARO, André. Escritos sobre cinema: Trilogia de um tempo crítico, vol II, Cinema Baiano. Salvador: EDUFBA: Azougue Editorial, 2010.
    SCHAFFNER, Roland. Memoráveis paixões transculturais: euroafroameríndia. Salvador: EDUFBA, 2011.