Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Sérgio Eduardo Alpendre de Oliveira (UAM)

Minicurrículo

    Doutorando em Cinema pela Universidade Anhembi-Morumbi (bolsista da CAPES), com pesquisa intitulada “A religiosidade ultrajada e a sacralização do desejo: o cinema crítico de João Cesar Monteiro”. Mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP (bolsista da CAPES). Colaborador da Folha de São Paulo. Ministra cursos de História do Cinema e Oficinas de crítica por todo o Brasil.

Ficha do Trabalho

Título

    Narrativa contra mundo: a crítica para Tag Gallagher e Robin Wood

Mesa

    Crítica e academia: Uma relação possível?

Resumo

    Dentro da mesa temática “Crítica e academia: uma relação possível?”, esta apresentação vai analisar a confusão normalmente feita entre crítica e academia. Com base em textos de Tag Gallagher (“Narrativa Contra Mundo”) e Robin Wood (“Nossa cultura, nosso cinema: por uma crítica repolitizada”), pretendemos discutir se existe possibilidade de uma relação profícua entre crítica e academia. No processo, entrarão no jogo ideias confluentes de autores como Antonio Cândido e Northrop Frye, entre outros.

Resumo expandido

    Nesta apresentação, além de procurar uma maneira de estabelecer uma relação profícua entre crítica e academia, defenderei que a crítica deve voltar a se ocupar, não integralmente, mas infalivelmente, da forma, do que tem de específico na arte com a qual ela vai se debater. É precisamente o que faziam os críticos da geração de Truffaut, sobretudo aqueles que se encastelavam sob as asas de André Bazin na prestigiada revista Cahiers du Cinéma. Baseavam seus juízos de valor num elemento de suma importância para a arte cinematográfica: a mise en scène. Em suma, não importa a história narrada em um filme, mas a maneira como ela é narrada. Essa maneira é atravessada pela mise en scène, pelos elementos que devem compor o retângulo mágico da tela, como também pelo realismo (Bazin) e pela montagem (Godard).
    A falência crítica passa, a meu ver, por uma aproximação exagerada com duas outras instâncias que, isoladas, não representam perigo, mas que, pela proximidade, acabam por contaminar a crítica e prejudicá-la, ou extirpar dela coisas que lhe são caras como a liberdade, a paixão, o rigor. Essas duas outras instâncias são o jornalismo e a academia. A crítica que se aproxima demais do jornalismo, na busca pela informação e na necessidade de contar a história do filme, entre outras coisas desnecessárias à disciplina crítica, corre o sério risco de perder tanto a liberdade quanto o rigor. A crítica que se aproxima demais da academia, por outro lado, com seus tabus e sua frieza analítica raramente ultrapassada nos estudos acadêmicos, está sujeita à perda da paixão, e a paixão é um dos motores da crítica. Além disso, ela está sujeita aos preconceitos e predefinições do ambiente acadêmico, como por exemplo a tendência a adequar filmes às mais variadas questões, utilizando-se, por outro lado, dos mesmos autores. Esses são elementos e cacoetes que só podem desestabilizar a atividade crítica.
    Autores como Oscar Wilde, Northrop Frye, Clement Greenberg, Antonio Cândido, Anne Cauquelin, Maria Cecília Garcia, Tag Gallagher, Robin Wood e Jean Douchet, entre outros, passaram por questões como: o que significa a crítica, qual sua importância, para que e para quem serve e no que sua ausência ou fraqueza implicam para o desenvolvimento da arte em um determinado tempo histórico. Com a ajuda desses autores, pretendo investigar os motivos que levam à falência da atividade crítica atualmente, ou a um processo que levará à falência da crítica, apesar desta ainda despertar grande interesse de pesquisadores, cinéfilos e leigos.
    Os principais autores analisados em minha comunicação serão Tag Gallagher e Robin Wood. O primeiro revela-se praticamente um anti-acadêmico em seu explosivo “Narrativa contra mundo”, sobretudo quando resolve atacar aqueles que têm o hábito de ler os filmes, ao invés de ver, atitude que para ele é equivocada. Wood, diferentemente, procura uma ponte possível entre as duas disciplinas em “Nossa cultura, nosso cinema: Por uma crítica repolitizada”, prólogo para seu livro sobre o cinema americano dos anos 1970. Wood, por sinal, demonstra, no prólogo e em sua prática, uma ideia da crítica muito semelhante à defendida por Antonio Candido no livro Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. A de que as análises do contexto e da forma são igualmente importantes ao exercício crítico.

Bibliografia

    ARGAN, Giulio Carlo. Arte e crítica de arte. Editora Estampa, Lisboa, 1988.
    BAZIN, André. O Que é o Cinema? Cosac & Naify, 2014.
    CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. Cia. Editora Nacional, São Paulo, 1976.
    CAUQUELIN, Anne. Teorias da arte. Martins Fontes, São Paulo, 2005.
    DOUCHET, Jean. “A arte de amar”. In Cahiers du Cinéma, Paris, 1961.
    FRYE, Northrop. Anatomia da Crítica. É realizações, São Paulo, 2014.
    GALLAGHER, Tag. “Narrativa contra mundo”. In Trafic, Paris, 2004.
    GARCIA, Maria Cecília. Reflexões críticas sobre a crítica teatral nos jornais. Editora Mackenzie, 2004.
    GODARD, Jean-Luc. “Montage mon beau souci”. In Cahiers du Cinema 65, dezembro de 1956.
    GOMES, Paulo Emílio Salles. Crítica de cinema no Suplemento Literário – Vols. I e II. Paz e Terra, 1981.
    GREENBERG, Clement. Clement Greenberg e o debate crítico. Jorge Zahar, 1997.
    WOOD, Robin. Hollywood from Vietnam to Reagan… and beyond. Columbia University Press, 2003.