Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    PEDRO PEREIRA DRUMOND (UFF)

Minicurrículo

    Mestranda em Comunicação na UFF, na linha de Estudos do Cinema e do Audiovisual. Graduado em Cinema & Audiovisual pela UFF (2016). É membro do Grupo de Pesquisas Avançadas em Materialidades, Ambiências e Tecnologias (UFBA|UFF).

Ficha do Trabalho

Título

    A Imagem Movediça: Datamoshing e a aparição imprevista como atração

Resumo

    A comunicação propõe pensar a força atrativa dos modos imprevistos de aparição da imagem digital proporcionada pelo datamoshing, técnica que se insere no campo de uma estética do mal funcionamento. Para isso, investiga as relações entre estas novas visualidades com uma nova performatividade do olhar contemporâneo, aparentemente ansioso e maravilhado com as possibilidades e comportamentos da imagem digital, mesmo em funcionamento impróprio, no fracasso de sua vocação de tornar possível a imagem.

Resumo expandido

    O Datamoshing é uma técnica de hackeamento dos métodos de compressão do vídeo digital que integra o que vem sendo tratado como uma “estética do mal-funcionamento” (LEVIN, 2011). A técnica consiste em forçar um comportamento inadequado dos métodos de compressão do vídeo digital e tem sido utilizada como recurso expressivo em apropriações de materiais consagrados do audiovisual, como filmes clássicos e videoclipes de artistas renomados, utilizando a difusão da internet para reapresentá-los em modos imprevistos de aparição. A presente comunicação sugere, então, o seguinte questionamento: que força atrativa e que tipo de vista sensacional (HANSEN, 1995) a imagem digital permite ao fracassar em sua vocação de tornar possível uma imagem?

    Como planos de imagem em movimento são compostos por sequências de frames que variam pouco entre si, os métodos de compressão do vídeo digital limitam-se a mapear apenas as diferenças entre frames que constituem o movimento da imagem, de modo que a maioria dos frames de um plano não precisam ser imagens integrais, mas, apenas, atualizações das diferenças de composição da imagem entre os frames que se sucedem, o que reduz drasticamente o volume de dados. De forma simplificada, o que o Datamoshing permite fazer é forçar que um dado presente de imagem se atualize segundo as instruções de diferença de uma imagem outra, resultando em uma transição confusa, de modo que duas imagens anteriormente distintas coexistem em uma aparição distorcida, marcada por ruídos, pixelações e aberrações cromáticas. Quando usado sucessivamente, a experiência visual do datamoshing se assemelha a um constante fluxo de uma imagem que transcorre a um futuro sempre conservando as marcas do presente, em uma textura visual constantemente movediça em uma radicalização de uma estética tensa da imagem heterocrônica (LEVIN, 2006). Portanto, o datamoshing não é apenas um modo imprevisto de aparição por ser uma reprodução do erro, mas, enquanto intervenção posterior de materiais registrados previamente, por permitir a emergência de visualidades inexistentes e impossíveis de serem realizadas na captação, o que, sugiro, parece ser um gesto movido por um maravilhamento com as possibilidades dos dispositivos tecnológicos, questão fundamental nas reflexões sobre o regime de atrações no cinema.

    Devido à suas próprias lacunas conceituais, como, por exemplo, as diferenças entre “Atração cinematográfica”, “Cinema de Atração” e “Cinema de Atrações”, a proposição de um regime de atrações feita por Tom Gunning e André Gaudreault motivou uma série de pesquisas ao longo dos anos em abordagens tão distintas quanto o cinema do início do século XX, o cinema de vanguarda, os estudos da recepção fílmica e do cinema de efeitos especiais. O que, talvez, reúna estas diferentes abordagens em uma mesma linha de pensamento seja o reconhecimento de uma modalidade do cinema que “ emerge em um contexto marcado pela vasta expansão do interesse pelo movimento dos corpos, no entrecruzamento de preocupações estéticas e científicas” (GUIDO, 2006:139) Assim, arriscaria dizer que o conceito de Atrações desdobrado para além do período histórico do primeiro cinema tem como tríade de forças o sensório, o afetivo e o tecnológico. Nesta perspectiva, o datamoshing parece indicar um encantamento com as possibilidades de produção de imagens mediadas pela tecnologia, no acesso a uma experiência de tempo e de olhar avessos à percepção natural, como se experimentadas a partir de um outro corpo sensório, talvez, uma visão maquínica.
    Com a oferta doméstica de recursos de realidade aumentada e realidade virtual, que caracteriza o movimento de acoplagem da visão natural e das visualidades digitais, discussões sobre o mal-funcionamento, ou, os modos imprevistos da imagem digital não são apenas questões de leitura de imagem no universo da arte e da produção cultural, mas, reflexões que se inserem em um domínio que migrará para as esferas mais cotidianas da vida social, em breve.

Bibliografia

    CRARY, Jonathan. Técnicas do Observador – Visão e modernidade no século XIX. São Paulo: Contraponto, 2012.
    GUIDO, Laurent. Rhythmic Bodies/Movies: Dance as Attraction in Early Film Culture In. STRAUVEN, W. (Org.). Cinema of attractions reloaded. Amsterdam University Press, 2006.
    HANSEN, Miriam. Early Cinema, Late Cinema: Transformations of the Public Sphere In. WILLIAMS, Linda (Org). Viewing Positions. Ways of seeing film. New Jersey, Rutgers University Press, 1995.
    LEVIN, Thomas. O terremoto de representação: composição digital e a estética tensa
    de imagem heterocrônica. In FATORELLI, Antonio e BRUNO, Fernanda (orgs.) Limiares da imagem: tecnologia e estética na cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Mauad x, 2006.
    _______________. Datamoshing as Syntactic Form. Reading Digital Video Compression Algorithm Hacking. In. Palestra no Centro de Estudos de Mídia e Pesquisa Moderna (ZFMK), 2011. Universidade de Köln. (Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iuIu-LlRO7Y)