Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Alfredo Luiz Paes de Oliveira Suppia (UNICAMP)

Minicurrículo

    Alfredo Suppia é professor do Depto. de Cinema (DECINE) e do Programa de Pós-graduação em Multimeios da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Coautor

    Paula Gomes (UNICAMP)

Ficha do Trabalho

Título

    “Das vicissitudes dos estudos acadêmicos de cinema no Brasil de hoje”

Resumo

    Esta comunicação é livremente inspirada na literatura de Lima Barreto e Nélson Rodrigues, bem como no texto “Estudos de cinema hoje e as vicissitudes da grande teoria”(2005), de David Bordwell. A partir da investigação de alguns “textos-chave”, tentaremos traçar alguns vetores para problemas que acometem os estudos de cinema e audiovisual no Brasil – discutindo inclusive o papel de congressos como a SOCINE no “arejamento” do pensamento cinematográfico no país.

Resumo expandido

    Iniciaremos a partir do esforço revisionista de autores como Arthur Autran, em seus artigos “Panorama da historiografia do cinema brasileiro” (2007) e “A noção de ‘ciclo regional’ na historiografia do cinema brasileiro.” (2010). Segundo Autran (2007), a historiografia clássica do cinema brasileiro baseia-se muito em “crises de produção”, tomadas como marcos de “épocas”, e é no seio desse pensamento que se cristaliza a problemática noção de “ciclos regionais”. Suspeitamos que essa noção também encontre substrato e justificativa numa ideologia acadêmica mais ampla que engloba, por exemplo, análises da economia brasileira, também frequentemente estruturada em ciclos.
    À guisa de investigação, tentaremos esboçar um leque de possibilidades de autocrítica, sobretudo no que diz respeito ao quadro atual da crítica acadêmica de cinema no Brasil. Dentre os principais problemas que motivam impulsos revisionistas, destacamos o elitismo: a arte cinematográfica é frequentemente atribuída à classe média ou à elite do país, salvo raras exceções. Mas se o cineasta brasileiro típico é de classe média alta ou de elite, o crítico acadêmico ou pensador de cinema típico também o é. Talvez apenas a partir dos anos 1990, com a revolução digital e reformas na estrutura de ensino superior do país, o perfil de cineastas e acadêmicos de cinema tenha de fato começado a se pluralizar, mas um determinado “elitismo” parece resistir no âmbito dos estudos brasileiros de cinema e audiovisual, sem que se possa vislumbrar indícios de um movimento reflexivo ou autocrítico mais amplo e sistemático; o corporativismo: a classe dos docentes e pesquisadores do cinema e audiovisual no Brasil tende a seguir a organização da classe realizadora cinematográfica, geralmente organizada em grupos, clãs ou até mesmo famílias; a nostalgia ou a resistência ao novo: onde se verfica o lapso entre a criação de novos vetores de pensamento ao redor do mundo e sua instalação no Brasil, no âmbito das humanidades, como, por exemplo, os campos da escrita criativa, da ecocrítica e dos estudos animais. Não à toa o Cinema Novo ainda é, para alguns pensadores do cinema brasileiro, o ápice da cultura cinematográfica nacional. Tudo que tivemos antes só podia mesmo levar a ele, e tudo que temos depois não passa de saudade; a resistência aos estudos empíricos ou baseados em dados quantitativos: o trabalho do pesquisador com vocação mais empírica, menos enciclopédico em suas análises totalizantes, tende a ser visto como menos erudito ou, algumas vezes, até mesmo simplório; o totemismo de ocasião: apresentações, artigos e mesmo pesquisas inteiras dedicam-se não à investigação de problemas, verificação de hipóteses ou desbravamento de “terra virgem” em termos de estudos de cinema e audiovisual. Ao contrário, numerosos trabalhos resumem-se à “erudição frívola” do rosário de citações, conforme já apontado por Rubens Machado na XX SOCINE. Referimo-nos a colagens de citações de autores, ou à simples adoração monoteísta de um autor da moda; o efeito “moedor de carne”: muitas carreiras acadêmicas são construídas à base da repetição de ideias e destruição do pensamento competitivo. Esse proselitismo em relação a ideias de autores do passado, geralmente estrangeiros alçados ao papel de “gurus” de determinados grupos, não raro resulta em mesmice na maioria dos congressos ou eventos científicos na área de cinema no Brasil; por fim, o cenário em que tudo é pessoal: os debates e confrontos entre diferentes vetores de pensamento costumam involuir para o enfrentamento pessoal e/ou para o discurso da autoridade, num fenômeno talvez decorrente de dois valores muito enraizados em nossa cultura: a autoria e a cordialidade.

Bibliografia

    AUTRAN, Arthur. Panorama da historiografia do cinema brasileiro. ALCEU – v.7 – n.14 – p. 17 a 30 – jan./jun. 2007, pp. 17-30.
    _____. A noção de “ciclo regional” na historiografia do cinema brasileiro. ALCEU – v. 10 – n.20 – p. 116 a 125 – jan./jun. 2010, pp. 116-125.
    BERNARDET, Jean-Claude.Cinema Brasileiro: Propostas para uma história. 2a ed. São Paulo, Editora Paz e Terra, 1991.
    NAGIB, Lúcia (Ed.). The New Brazilian Cinema. New York: I. B. Tauris, 2003.
    RAMOS, Fernão (Org.). Teoria Contemporânea do Cinema vol. I. São Paulo: Ed. SENAC SP, 2005.
    SALLES GOMES, Paulo Emílio. Cinema: Trajetória no subdesenvolvimento. Rio de Janeiro:
    Paz e Terra, 1980.
    ______. Uma Situação Colonial? São Paulo: Cia. Das Letras, 2016.