Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    RAFAEL ROSINATO VALLES (PUCRS)

Minicurrículo

    Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social pela PUCRS. Bolsista CAPES desde 2014. Mestre em Cinema Documentário pela Fundación Universidad del Cine (FUC – Argentina). Coordenador do Grupo de Estudos Cinesofia (PUCRS-PPGCOM) durante os anos de 2015-2016. Documentarista, docente, escritor e pesquisador em cinema documentário, filme-ensaio, relatos de cunho autobiográfico e cinema latino-americano.

Ficha do Trabalho

Título

    Jonas Mekas e a busca por “lampejos de felicidades”

Seminário

    Cinema e literatura, palavra e imagem

Resumo

    Este trabalho pretende realizar uma análise sobre o texto “Notas sobre alguns filmes novos e a felicidade”, escrito por Jonas Mekas em 1965 e publicado na edição número 37 da revista “Film Culture”. Partimos aqui do pressuposto de que este texto traz muitas questões referenciais para analisarmos a atuação de Mekas não somente como crítico cinematográfico, mas sobretudo como alguém que colocou questões em perspectiva que anos mais tarde se afirmariam na sua própria obra cinematográfica.

Resumo expandido

    Jonas Mekas começou a fazer cinema desde o momento em que alugou uma câmera Bolex 16mm no ano de 1949 e começou a registrar o cotidiano da sua condição de refugiado nos Estados Unidos, no período pós-guerra. No entanto, se existe um caminho para compreender com maior profundidade como ele foi construindo as suas convicções estéticas e como isto acabou determinando a sua obra cinematográfica, é necessário recorrer aos textos sobre cinema que ele escreveu na revista “Film Culture”, criada por ele e pelo seu irmão Adolfas no ano de 1955, e na sua coluna “Movie Journal”, publicada durante os anos de 1958 a 1971 no jornal nova-iorquino “Village Voice”.

    Só que diante de uma considerável quantidade de textos que o autor escreveu ao longo de todos estes anos e que possuem grande relevância para entendê-lo como crítico cinematográfico e agitador cultural, resolvemos aqui fazer uma análise mais específica sobre um texto em particular que ele escreveu no ano de 1965 e que foi publicado na edição número 37 da revista “Film Culture”. Me refiro aqui mais especificamente ao ensaio “Notas sobre alguns filmes novos e a felicidade”, onde ele procura analisar alguns filmes que começaram a emergir no cenário underground americano nos anos sessenta, como é o caso de “Little Stabs at Happiness” (Ken Jacobs, 1960), “Mothlight”, (Stan Brakhage, 1963), “Go! Go! Go!” (Marie Menken, 1962-1964), “Scoth tape” (Jack Smith, 1963), “Eat”, (Andy Warhol, 1963).

    O que pretendemos analisar aqui é como ao comentar determinadas questões sobre estes filmes, Mekas acaba evidenciando tanto as suas próprias convicções estéticas, como também alguns fatores que nos levam a entender melhor o contexto sócio-histórico onde as suas posições se inserem. A começar pelo próprio momento em que ele escreveu este ensaio, Mekas já tinha abolido as suas aspirações em tornar-se um cineasta “profissional” (Mekas, 2013, p.133), para ter plena consciência sobre os caminhos que os seus registros fílmicos o estavam levando. Até aquele momento, ele ainda não havia iniciado a montagem de “Walden” (1969), filme que se tornaria fundamental na sua obra, mesmo que já estivesse registrando imagens que seriam utilizadas no filme e que anos mais tarde viriam a demonstrar um domínio sobre as suas próprias escolhas estéticas. “Notas sobre alguns filmes novos e a felicidade” evidencia estas convicções em construção na concepção estética de Mekas, quando ele defende que os filmes analisados “nem mesmo parecem cinema. Ficam felizes em se chamarem “filmes caseiros” (Mekas, 2013, p.45). Expressões que ele menciona neste texto, como “pequenos filmes”, “atitude lúdica”, “lampejos de felicidade”, também são importantes fatores conceituais para entender os filmes-diário que realizaria posteriormente.

    Mas este texto também traz outras questões importantes. A começar pela própria relação que o autor estabelece com o seu processo de rememoração. Mekas relaciona a felicidade destes filmes com as mulheres do seu vilarejo na Lituânia que permaneciam “sentadas costurando nas janelas, ou nas portas, imóveis, imersas em seus bordados e desenhos e flores vermelhas e verdes e amarelas e pontos e sóis por dias e dias” (Mekas, 2013, p.48). Os diálogos que o autor faz entre um contexto relacionado ao cinema norte-americano underground em relação as suas memórias na Lituânia evidenciam não somente o entrelaçamento de dois imaginários que marcaram a sua biografia, mas também de duas visões estéticas que viriam a percorrer a sua obra. Como bem coloca Vyt Bakaitis, “enquanto os valores que Mekas proclama e celebra são românticos e idealistas, seus procedimentos formais são modernistas” (Bakaitis, 1992, p.126). Não somente “Notas sobre alguns filmes novos e a felicidade” se reveste deste diálogo entre o modernismo e o romantismo, como também esta forma de abordagem ainda se afirmaria anos depois na sua obra cinematográfica, em filmes como “Reminiscências de uma viagem para a Lituânia” (1972).

Bibliografia

    BAKAITIS, Vyt. “Notes on Displacement: The Poems and Diary Films of Jonas Mekas”. In: JAMES, David E.. “To free the cinema – Jonas Mekas & The New York Underground”. New Jersey-EUA: Princeton University Press, 1989. p.121-137.
    JAMES, David E.. “Allegories of cinema – American Film in the Sixties”. New Jersey-EUA: Princeton University Press, 1989.
    MEKAS, Jonas. “Ningún lugar adonde ir”. Buenos Aires: Caja Negra Editora, 2008.
    MEKAS, Jonas. “Notas sobre alguns filmes novos e a felicidade”. In: MEKAS, Jonas; MOURÃO, Patricia (org.). “Jonas Mekas”. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil; Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária – USP, 2013. p.44-52.
    MEKAS, Jonas. “O filme-diário”. In: MEKAS, Jonas; MOURÃO, Patricia (org.). “Jonas Mekas”. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil; Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária – USP, 2013. p.131-142.