Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Daniel P. V. Caetano (UFF)

Minicurrículo

    Professor do Departamento de Artes e Estudos Culturais da UFF. Formou-se em Cinema pela UFF, fez mestrado e doutorado em Literatura Brasileira pela PUC-RJ. Sócio da Duas Mariola Filmes, já produziu e dirigiu dois longas-metragens, dois médias, quatro curtas e uma peça de teatro. Foi colaborador de revistas como Filme Cultura, Cinética e Contracampo.

Ficha do Trabalho

Título

    Por uma viabilidade autoral – Reichenbach na transição dos anos 80/90

Resumo

    O cineasta Carlos Reichenbach teve trajetória singular entre o dito Cinema Marginal, as produções da Boca do Lixo e iniciativas independentes em diversas fases da carreira. O interesse dessa apresentação é enfocar um determinado período em que Reichenbach, mais uma vez, buscou consolidar uma estrutura que lhe permitisse produzir filmes autorais A fase aqui analisada enfoca a criação de duas empresas: o esforço mal-sucedido da Casa de Imagens e, em seguida, a criação da Dezenove Produções.

Resumo expandido

    Esta apresentação propõe o desenvolvimento de uma pesquisa focada na carreira do cineasta Carlos Reichenbach e em determinados aspectos relevantes do seu percurso. Espera-se aqui que estes aspectos permitam aprofundar os estudos sobre modos de produção e características de estilo de uma obra cinematográfica brasileira que conseguiu conjugar experimentalismo e relativo sucesso de público e crítica. Reichenbach, ao longo de mais de quatro décadas de carreira e de quase duas dezenas de filmes, teve uma trajetória singular entre o dito Cinema Marginal, as produções eróticas da Boca do Lixo e as iniciativas independentes, fosse nos anos da Embrafilme ou do período das leis de incentivo (enquanto grande parte dos seus colegas ligados ao cinema autoral penava com a falta de condições de produção). Ao analisar as diferenças entre os usos disseminados do conceito de autoria em cinema nas críticas francesa e norte-americana dos anos 1950, Jean-Claude Bernardet apontou: “Não dar a devida importância às coerções provém de uma tendência a idealizar as condições de produção numa sociedade em que o crítico não vive” (BERNARDET: 1994, P. 28). Como costuma acontecer às carreiras mais profícuas dos cineastas brasileiros, torna-se impossível compreender um possível percurso autoral de Reichenbach sem atentar para essas “coerções” mencionadas por Bernardet.
    Tendo se tornado um ícone de experimentalismo e independência na história do cinema paulista, em sua carreira Reichenbach encontrou dificuldades e empecilhos que indicavam os impasses mais frequentes da produção mais inventiva e radical. Aqui, nos interessa analisar duas das suas diversas tentativas de se tornar um produtor independente com estabilidade, liberdade de criação e fluxo contínuo de produção, feitas uma em seguida à outra. Este momento da carreira de Reichenbach a ser enfocado começa no final dos anos 1980, com a iniciativa de abrir a empresa Casa de Imagens, criada a partir da união com outros cineastas (Andrea Tonacci, André Luiz de Oliveira, Guilherme de Almeida Prado, Julio Calasso, Inácio Araújo), com perspectivas de produções internacionais (tendo inclusive participado da produção de City Life, filme feito pelo Festival de Rotterdam composto por curtas de vários cineastas que passaram pelo festival) e posteriormente fechada, entre outras razões, devido à crise provocada pelo fechamento da Embrafilme. Em seguida, Reichenbach deu início ao período bem-sucedido dos trabalhos feitos com a empresa Dezenove Produções, criada em parceria com a produtora Sara Silveira na década de 1990 e até hoje bastante atuante. Ao longo deste percurso, apresenta-se uma realidade do cinema feito em São Paulo com ambições de inventividade, buscando realizar a seu modo a perspectiva modernista dos “biscoitos finos para as massas”.
    Esse desafio de conseguir estabelecer uma estrutura de produção constante para filmes autorais foi e é um desafio comum a vários cineastas de talento pelo mundo afora. Naquele momento histórico, o desafio de criar estruturas de produção era urgente – e, ao final das contas, Reichenbach obteve notável sucesso também neste aspecto ao final de sua carreira. No entanto, isso não aconteceu sem ruídos –a constatação de que os filmes que tiveram melhor estrutura de produção entre os feitos por Reichenbach, estes produzidos pela Dezenove Produções, foram também aqueles que encontraram mais dificuldade em chegar ao público de cinema e TV é bastante reveladora dos problemas estruturais ainda existentes no nosso cinema.

Bibliografia

    BERNARDET, J., O autor no cinema. São Paulo: Brasiliense/EdUSP, 1994.
    CAETANO, D (org.), Cinema brasileiro 1995-2005: Ensaios sobre uma década. Rio de Janeiro: Azougue, 2005.
    LYRA, M., Carlos Reichenbach: o cinema como razão de viver. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004.
    MACHADO JR., R. (org,) “Fora de quadro: Carlos Reichenbach Filho”. Rebeca ano 1, nº2, 2012. Disponível em 20/03/2017 em: https://rebeca.socine.org.br/1/issue/view/6
    PEREIRA, C. E., Carnavalização e antropofagia no metacinema de Carlos Reichenbach. Tese de Doutorado. Instituto de Arte e Comunicação Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói. 2013
    REICHENBACH, C., “Como transformar a falta de condições em instrumento de criação: Conversa com Carlos Reichenbach”. Revista Cinemais, Rio de Janeiro, nº 18. Julho-Agosto de 1999.
    __________, ABC Clube Democrático: 4 roteiros de Carlos Reichenbach. São Bernardo do Campo: MP Editora, 2008.
    XAVIER, I., “O cinema brasileiro dos anos 90”. Praga – Estudos Marxistas n°9, 2000.