Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Pedro Henrique Ghoneim (Unicamp)

Minicurrículo

    Mestrando em Música (IA/UNICAMP) na área de trilhas sonoras e graduando em Composição (IA/UNICAMP). Possui graduação em Música Popular (2015) pela mesma instituição.

Ficha do Trabalho

Título

    A orquestração como componente da teoria de gêneros cinematográficos

Resumo

    Com base na teoria de estilo musical de Leonard Meyer e nas teorias de gênero cinematográfico de Rick Altman e Steve Neale, discutirei as relações entre estilos orquestrais de trilha musical específicos com certos gêneros cinematográficos. Para tanto, será utilizado o referencial metodológico de Mark Brownrigg, que faz a ligação entre música e gênero, acrescentando uma abordagem analítica orquestral de partituras, além de discussões histórico-culturais.

Resumo expandido

    Em meio à extensa produção acadêmica no campo das teorias de gênero, podemos constatar que, apesar da história milenar, teóricos ainda não alcançaram um consenso. Contudo, permeia, de forma abrangente, os argumentos dos principais autores a ideia de que o gênero é marcado por “restrições” (“convenções”, “regras”). No campo da literatura, o filósofo Horácio já afirmava, na Roma Antiga, que cada gênero literário possuía suas próprias regras e procedimentos pré-estabelecidos. Para o pensador, formas de verso trágico não deveriam ser utilizadas em situações cômicas (ALTMAN, 1999, p. 3). A respeito do cinema de Hollywood, Steve Neale, ao conceituar o termo “verossimilhança” (elementos que permitem o reconhecimento dos gêneros por parte do pùblico), infere que existem “regimes de verosimilhança”; tais regimes possuiriam “regras, normas e leis” (NEALE, 2000, p. 32). No âmbito da música, Leonard B. Meyer, apesar de chamar de “estilo” aquilo que comumente é tratado como “gênero” nos estudos de cinema e literatura, reafirma a tendência das teorias de gênero ao apontar que o estilo depende de determinadas “restrições” para ser reconhecido. Em sequência, Meyer expande sua teoria e estabelece que as restrições estão estreitamente relacionadas a escolhas dos autores (MEYER, 1989, p.3-8).
    A definição dada por Meyer diz que o estilo se configura pela replicação de padrões resultante de escolhas tomadas dentro de certas restrições, seja o objeto um comportamento humano ou um produto deste (MEYER, 1989, p. 3). Partindo de uma abordagem cognitivista, o autor afirma que mesmo as ações humanas automatizadas (como levantar da cama, dirigir, tomar banho) envolvem o processo de decisão. Isso ocorre porque, mesmo que estas ações não passem por um processo de escolha consciente das alternativas, elas não são involuntárias.
    Assim como a concepção de uma melodia ou a escolha de um acorde são recursos criativos e poéticos para um compositor, a organização e atribuição destes elementos a certos instrumentos, ou combinações destes, também podem se dispor ao pensamento artístico do autor da obra. A orquestração, portanto, não diz respeito apenas ao estudo técnico das características acústicas e ergonômicas dos instrumentos musicais, mas envolve também as escolhas do compositor, decisões guiadas por parâmetros estéticos conscientes ou inconscientes. Desta forma, partindo do pressuposto de que a música é um elemento paradigmático dos gêneros (BROWNRIGG, 2003), e que a orquestração é um recurso musical amplamente utilizado nas trilhas musicais desde o advento do cinema sonoro (TÁPIA, 2012), pretendo discutir como a configuração de estilos orquestrais, consolidados através de decisões conscientes ou não dos compositores, são parte estrutural da sistematização genérica no cinema.
    Para Mark Brownrigg (2003), o compositor da trilha musical, assim como o roteirista, o fotógrafo ou o figurinista, possui consciência das convenções musicais pertencentes a determinados gêneros fílmicos. Assim, não seria comum que uma música repleta de convenções do gênero western fosse introduzida em um filme de terror (a menos que a intenção fosse de quebra de expectativa). O autor aborda diversos gêneros de cinema, tendo como foco as convenções musicais que permeiam a filmografia de cada um deles, a fim de sistematizar os elementos estruturais destas músicas. Contudo, apesar de abordar em alguns momentos o recurso da orquestração, este é tratado sem profundidade, tendo em vista a abordagem panorâmica do trabalho.
    Apresentarei então um estudo dos estilos orquestrais em relação a determinados gêneros cinematográficos, adotando como base teórica a obra de Meyer no âmbito da música, e as obras de Altman e Neale no âmbito do cinema. Como referencial metodológico, utilizarei a tese de Brownrigg, pela abordagem da relação entre música e cinema. Serão feitas análises orquestrais de partituras e discussões histórico-culturais acerca das relações entre trilha musical e música de concerto.

Bibliografia

    ALTMAN, R. Film//Genre. Londres: British Film Institute. 1999
    BROWNRIGG, M. Film music and film genre. 2003. 308 f. Tese de doutorado –
    University of Stirling. Abr 2003.
    MEYER, L. B. Style and music: theory, history and ideology. Filadélfia: University of Pennsylvania Press. 1989.
    NEALE, S. Genre and Hollywood. Londres: Routledge, 2000.
    TÁPIA, D. A orquestra sinfônica do cinema norte-americano: o exemplo de Bernard
    Hermann. Dissertação de mestrado. Campinas: IA/UNICAMP, 2012