Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Fernanda Sales Rocha Santos (USP)

Minicurrículo

    Mestranda no programa de pós-graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECA – USP, dentro da linha “História, Teoria e Crítica”. É orientada pela Profa. Dra. Cecilia Antakly de Mello. Pesquisa possíveis conexões estilísticas entre as cinematografias brasileira e argentina, partindo de uma tendência do realismo contemporâneo. Bacharela em Imagem e Som pela UFSCar.

Ficha do Trabalho

Título

    Atmosferas do medo em filmes brasileiros e argentinos contemporâneos

Resumo

    Este trabalho busca pontuar uma tendência estilística semelhante nas cinematografias brasileira e argentina contemporâneas, que é a combinação de elementos de uma estética realista de cunho baziniano com elementos característicos do cinema de gênero horror. Partindo disso, se realizará uma análise de seqüências dos filmes O som ao redor (Kleber Mendonça Filho, 2013) e Bem perto de Buenos Aires (História del Miedo, Benjamín Naishtat, 2014), focando na questão da tensão narrativa inconclusa.

Resumo expandido

    O presente trabalho busca pontuar uma tendência estilística semelhante, presente nas cinematografias brasileira e argentina contemporâneas, a fim de compreender os processos estéticos e narrativos específicos de um recorte do cinema Latino-Americano da atualidade. Por meio do estudo de elementos de construção fílmica, busca-se analisar a criação de atmosferas do medo em filmes com narrativas predominantemente realistas. Entende-se, assim, um movimento que incorpora elementos do gênero cinematográfico horror dentro de filmes com traços característicos de um realismo contemporâneo de fundamento baziniano. Diante do recorte privilegiado, se fará a relação entre realismo, entendido principalmente nos ecos atuais do pensamento fundamental de André Bazin, e, gênero cinematográfico, compreendido como conjunto de preceitos relativamente fluídos que intentam causar um efeito específico no espectador. Intenta-se analisar elementos de construção estilística presente em seqüências de filmes, como a relação entre decupagem clássica e o uso do plano-sequência, as densas atmosferas sonoras construídas por ruídos de objetos do cotidiano e da realidade banal, e a questão do aspecto sensorial e como ele se coloca na perspectiva do gênero horror e do realismo sensório.

    O propósito é investigar a conciliação de impulsos da linguagem audiovisual aparentemente contraditórios (realismo e gênero) em um arranjo que privilegia a questão atmosférica e sensória em obras audiovisuais brasileiras e argentinas. Esse procedimento de estilo pode ser localizado em diversos filmes recentes provenientes tanto do Brasil quanto da Argentina, a despeito de suas variadas peculiaridades e distinções. Pode-se citar como exemplo os filmes O Pântano (La Ciénaga, Lucrécia Martel, 2001), Fantasma (Lisandro Alonso, 2006), A Mulher Sem Cabeça (La Mujer Sin Cabeza, Lucrécia Martel, 2008), Bem Perto de Buenos Aires (História del Miedo, Benjamín Naishtat, 2014), O Clã (El Clã, Pablo Trapero, 2015), no caso argentino, e Os Inquilinos ( Sérgio Bianchi, 2010 ), Trabalhar Cansa (Juliana Rojas e Marco Dutra, 2011), O Som ao Redor (Kleber Mendonça Filho, 2013), Para Minha Amada Morta (Aly Muritiba, 2016) e Mata-me Por favor (Anita Rocha, 2016), no caso brasileiro.

    Para o presente trabalho, selecionamos como exemplares desta tendência, os seguinte longa-metragens: O som ao redor (Kleber Mendonça Filho, 2013) e Bem perto de Buenos Aires (História del Miedo, Benjamín Naishtat, 2014), filmes que além de grande semelhanças estilísticas possuem uma evidente conexão temática relacionada a (in)segurança urbana cercada por ocultos conflitos de classe.
    Neste trabalho será realizada uma análise de seqüências dos filmes citados, com ênfase específica no tema da tensão narrativa inconclusa. Ou seja, quando o medo não se concretiza e o susto não ocorre.

    Sendo a concretização do susto importante ponto narrativo para o horror, podemos notar, em ambos os filmes, uma ausência de elementos que concretizam materialmente o espanto. Assim, levando-se em conta a encenação que busca causar suspense ou aflição ao espectador, pontuaremos como o realismo fundamental dos filmes estudados opera, de forma semelhante, na criação de uma ambigüidade do medo. Desta forma, será exibida uma análise pontual que envolve a dramaturgia, a encenação e a construção sonora de uma sequência de cada filme. Busca-se evidenciar a característica de relato e crônica do cotidiano (próprios ao realismo baziniano) presentes na narrativa dos filmes que, a principio, não “combinam” com a lógica de causa-consequência do cinema clássico (a qual garante, nos processos dos filmes clássicos de horror, a aparição ou ocorrência de algo concretamente assombroso após uma atmosfera que a isso induz), no entanto, que se realiza em um criativo hibridismo.

Bibliografia

    BAZIN, André. O que é o cinema? São Paulo: Cosac Naify, 2014
    BORDWELL, David. Figuras traçadas na luz: a encenação do cinema. Campinas: Papirus, 2009
    CANEPA, Laura. Medo de quê? Uma História do Horror nos Filmes Brasileiros. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de Artes da UNICAMP. 2008.
    CARREIRO, Rodrigo. Sobre o som no cinema de horror: padrões recorrentes de estilo. Ciberlegenda – Revista do Programa de Pos-Graduação em Comunicação – UFF, v.1, n.24, 2011. p. 43-53.
    CARROLL, Nöel. A filosofia do horror ou paradoxos do coração. Campinas: Papirus, 1999.
    ELSAESSER, Thomas. Cinema Mundial: Realismo, Evidência, Presença. In: MELLO, Cecília (Org.). Realismo Fantasmagórico. Coleção CINUSP, 2015.
    MELLO, Cecília (Org.). Realismo Fantasmagórico. Coleção CINUSP, 2015.
    NAGIB, Lucia; MELLO, Cecilia. Realism and the Audiovisual Media. Basingstoke: Palgrave Macmillian, 2009
    WILLIAMS, Linda. Film Bodies: Gender, Genre, and Excess. In: Film Quarterly, Vol. 44