Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Souto (UFMG/UNA)

Minicurrículo

    Doutoranda em Comunicação Social pela UFMG e mestre pela mesma universidade, onde pesquisa cinema brasileiro. Professora da graduação em Cinema e Audiovisual do Centro Universitário UNA. Ministra oficinas de realização. Co-programadora do Cineclube Comum e uma das curadoras da Mostra Corpo e Cinema (Caixa Cultural). Integrante do Grupo de Pesquisa Poéticas da Experiência (UFMG). Diretora de arte e figurinista.

Ficha do Trabalho

Título

    Por um cinema comparado

Resumo

    Buscando inspiração na literatura comparada, este trabalho procura explorar as potencialidades do “cinema comparado” enquanto perspectiva teórico-metodológica no campo dos estudos cinematográficos. Muitos são os estudos que cotejam filmes, mas raras são as reflexões sobre o gesto da comparação em si. Discutiremos algumas possibilidades desse método, dentre eles a composição de séries históricas.

Resumo expandido

    Buscando inspiração na literatura comparada, este trabalho procura explorar as potencialidades do “cinema comparado” enquanto perspectiva teórico-metodológica no campo dos estudos cinematográficos. Ao contrário do que se observa no âmbito literário, esta não é uma expressão muito utilizada nem muito estabelecida – trata-se mesmo de um embrião à espera de maiores desenvolvimentos. Muitos são os estudos que cotejam filmes, mas raras são as reflexões sobre o gesto da comparação em si. Notamos uma falta de sistematização ou de explicitação do uso deste método, situação que poderia se beneficiar por um passeio por suas raízes na literatura.
    Com o passar do tempo a literatura comparada deixou de se restringir à comparação entre nações e incrementou suas possibilidades; alguns dos parâmetros recorrentes são gênero, tema, período, forma. Pode-se comparar uma questão temática entre autores ou obras; pode-se comparar distintas épocas; pode-se comparar a literatura com diferentes áreas do conhecimento, tais como filosofia, história, religião, ou com outras artes (pintura, música, cinema – é o caso das adaptações, por exemplo).
    No início de sua trajetória, as comparações eram realizadas dentro de um modelo restrito, conhecido como “fontes e influências”. Seu objetivo era buscar conexões entre autores, comprovar suas inspirações e empréstimos. Esse formato foi sendo suplantado, dando lugar a novas perspectivas. Segundo Jordi Llovet, o que deve buscar um comparatista em um texto “não são suas fontes, suas influências, mas sim sua alteridade” (LLOVET, 2005, p. 377). Interessa-nos reter essa ideia: a comparação busca as alteridades de um texto – com que outros textos dialoga? Como se dá essa conversa? Assim, comparar é colocar um objeto em relação, seja ele um romance, um soneto ou um filme.
    Entre a escassa bibliografia sobre a perspectiva comparatista no cinema, encontra-se um livro organizado por Jacques Aumont intitulado “Pour un cinéma comparé” (1996), não lançado no Brasil. A obra traz uma coleção de textos apresentados num ciclo de conferências, mas nele não se encontra um grande tratado ou explanação sobre o tema – da introdução passa-se diretamente às análises. Aumont chama atenção para um caso menos evocado de circulação e aproximação de filmes: “aquele onde a atividade crítica é que opera a relação entre as obras” (AUMONT, 1996, p. 9). A crítica pode colocar em evidência a presença subterrânea de certos problemas ou constituir seu objeto próprio ao reagrupar filmes a princípio díspares, produzindo elementos novos a partir de aproximações imprevistas.
    No âmbito da comparação entre cineastas, o pesquisador Mateus Araújo Silva desenvolve uma abordagem que nomeia de “prismática”, na qual um único artista (em seu caso, Glauber Rocha) é comparado com vários outros. A obra de Ismail Xavier, por sua vez, nos provê uma forte ancoragem no que diz respeito à perspectiva comparatista, embora nem sempre ela seja assim nomeada. Ele defende “a escolha de uma categoria central a partir da qual é possível montar um eixo onde diferenças e semelhanças se cristalizam e permitem tornar visível a história” (XAVIER, 2003, p. 16). Xavier aposta na formação de uma série histórica, cuja matriz pode ser, por exemplo, um autor. A série histórica permite que se veja um dinamismo, “uma transformação, que insere os problemas que estão sendo vividos no presente como parte de uma lógica que ultrapassa o presente e está, enfim, projetada historicamente” (XAVIER, 2003, p. 3). Este é o procedimento de Sertão mar, em que Barravento e Deus e o diabo na terra do sol são analisados com contrapontos escolhidos, respectivamente, O pagador de promessas e O cangaceiro. Não há protocolos a serem seguidos no método comparativo, mas algumas possibilidades, como a composição da série histórica, serão abordadas nessa comunicação.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. Pour un cinéma comparé: influences et repétition. Paris: Cinemathèque Française, 1996.

    COUTINHO, Eduardo de Faria; CARVALHAL, Tania Franco. Literatura comparada: textos fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

    IMANISHI, Raquel; SARAIVA, Leandro. Transcrição de entrevista com Ismail Xavier realizada em 2003. Não publicada.

    LLOVET, Jordi et all. Teoría literária y literatura comparada. Barcelona: Ariel, 2005.

    SILVA, Mateus Araújo. Jean Rouch e Glauber Rocha, de um transe a outro. In: Revista Devires: cinema e humanidades. Belo Horizonte, V. 6, N. 1, p. 40-73, jan-jun-2009.

    XAVIER, Ismail. Sertão mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Cosac & Naify, 2007.