Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Mateus Nagime (UFSCar)

Minicurrículo

    Graduado em Cinema e Vídeo (UFF) com uma monografia sobre curadoria e programação e Mestre em Imagem e Som (UFSCar), onde estudou os princípios do cinema queer no Brasil. Curador das mostras “New Queer Cinema: cinema, política e sexualidade”, “NQC2” e “Cinema mexicano contemporâneo”. Pertence ao Comitê Editorial da Imagofagia. Secretário-Geral da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA). Crítico e pesquisador de cinema com textos e artigos em diversos revistas, catálogos e sites.

Ficha do Trabalho

Título

    Máximo Serrano: um typo queer no cinema silencioso.

Seminário

    Corpo, gesto, performance e mise en scène

Resumo

    Máximo Serrano é um ator brasileiro que se especializou no fim dos anos 1920 nos papeis do “tipo sentimental” ou “sensível”, que podemos considerar como um protótipo da sensibilidade queer. Especialmente nos filmes dirigidos por Humberto Mauro, Serrano dava a luz à personagens solitários e reprimidos, que se contentavam em assistir aos finais felizes dos parceiros de cena. A comunicação defenderá que esta representação do queer vem em grande parte do próprio ator, constituindo uma “atoria queer”

Resumo expandido

    Máximo Serrano é um ator brasileiro cheio de mistérios. que trabalhou entre os anos 1920 e 1930, antes de voltar ao esquecimento. A imprensa da época o identificava como um “tipo sentimental” e sensível, e a presente comunicação irá defender que esta sensibilidade seja em boa parte uma representação do queer, que pode inclusive vir do ator, constituindo uma atoria queer. Para tanto vou analisar alguns dos filmes que ele participou, todos dirigidos por Humberto Mauro: “Tesouro mineiro” (1927), “Brasa Dormida” (1929), “Sangue Mineiro” (1929) e “Lábios sem beijos” (1930).

    Pouco sabemos sobre sua vida pessoal. Cinearte indica que ele morava em Miraí, uma pequena cidade da Zona da Mata antes de ser descoberto por Mauro. Octavio Mendes, revela que ele se chamava José Maria Máximo Junior e teria nascido em Nova Friburgo-RJ. Informa que o ator “é extremamente sentimental… gosta de versos. Anda até com um livro de poesia no bolso… Aprecia também (que suas admiradoras ouçam!) biscoitos e bolachas…”, sem explicar exatamente o que isso quer dizer. O mistério é maior ainda quando Mendes afirma que “a sua verdadeira história ainda não foi contada. Eu estou reservando este direito…”. Infelizmente, Mendes nunca contou a história.

    A imprensa da época estava maravilhada por seus talentos. Para Barros Vidal, Serrano “realiza o milagre de povoar a imaginação de quem priva com ele pela primeira vez, de uma porção de lendas que nos contam a história de um amor que nunca foi compreendido”. No mesmo perfil, Máximo Serrano anuncia como será o seu papel em “Sangue Mineiro”: “o da minha predileção: sentimental”.

    Richard Dyer foi o que mais e melhor chegou perto de explicar o que seria uma sensibilidade queer. Segundo o pesquisador, a cultura queer foi
    de fato produzida por poucos. Ao mesmo tempo, era como o queer se tornava visível, algo que podia ser identificado como queer. Não representava todos os queers, mas era a representação pública do queer… e provavelmente era o que a sociedade entendia como sexualidade entre homens no período.

    Se os brasileiros fossem regularmente assistir aos filmes brasileiros na virada dos anos 1920 para os anos 1930, os solitários e reprimidos queers se identificariam com as personagens desiludidas e sem apego à vida e aos preceitos dominantes pela sociedade que Máximo Serrano representava tão bem. Os personagens de Serrano apenas assistiam aos finais felizes dos parceiros de cena, envoltos com seus casamentos e romances heterossexuais, enquanto ele mesmo era deixado com uma tortura semelhante à solidão que enfrentavam.
    O único filme em que uma personagem interpretada por Serrano resolve empreender alguma ação é o primeiro a que temos acesso: “Tesouro Perdido” (1927, Humberto Mauro). Embora tratado o filme todo como uma criança, é ele que salva a heroína de um grande incêndio no final, para morrer em seguida. Sua atuação foi comparada a de “artistas internacionais” por vários críticos. Nos outros ele será apenas um peão, observando as ações e sofrendo suas consequências.

    Em “Brasa Dormida”, a questão queer nos parece mais evidente o que nunca e também domina toda a trama, visto que a animosidade entre herói (Luiz Sorôa) e vilão (Pedro Fantol) se dá pela atenção de uma outra personagem masculina (Máximo Serrano), ao contrário da mocinha principal. Créditos tiveram que ser incluídos apontando uma relação familiar ente Pedro e Máximo, ainda que nada no filme aponte para isso, como Paulo Emílio Salles Gomes já tinha notado nos anos 1960. O triângulo formado evidencia uma atuação forte de Serrano, sempre como o tipo sentimental e sensível. Assim, no filme, quase esquecemos do relacionamento oficial de Luís com a filha do patrão, pois a principal relação é entre Luiz e Máximo, uma relação clara de dominador e dominado.

Bibliografia

    DYER, Richard. The culture of queers. London, New York: Routledge, 2000.
    GOMES, Paulo Emílio Salles..Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte. São Paulo, Perspectiva, Editora da Universidade de São Paulo, 1974.
    LIMA, Pedro. “Cinema Brasileiro” IN Cinearte, 27 de março de 1929 pp. 4, 5 e 35.
    MENDES, Octávio. “Os verdadeiros nomes dos artistas brasileiros”. Cinearte. 9 de abril de 1930, p. 33.

    VIDAL, Barros. “O ideal de Máximo Serrano” IN Cinearte, 30 de outubro de 1929. pp. 10, 11.