Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Claudio Leal (USP)

Minicurrículo

    Claudio Leal, graduado em Comunicação Social-Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, é mestrando em Meios e Processos Audiovisuais na Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP).

Ficha do Trabalho

Título

    O diálogo crítico de Glauber Rocha e Walter da Silveira

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    Este trabalho propõe uma revisão do diálogo entre o crítico Walter da Silveira, fundador do Clube de Cinema da Bahia, e o cineasta Glauber Rocha, nos anos 50 e 60 em Salvador (BA). Silveira era apontado pelo discípulo como um dos três teóricos decisivos para o Cinema Novo, ao lado de Alex Viany e Paulo Emílio Salles Gomes. Os impactos da formação cinéfila são sentidos na maturação teórica do cineasta.

Resumo expandido

    Nas suas críticas, Glauber Rocha põe uma tríade de intelectuais no centro do pensamento do cinema brasileiro moderno. A frequência de Alex Viany, Paulo Emílio Salles Gomes e Walter da Silveira, em seus artigos, não se perde no sabor retórico. Há estratégia e meditação na escolha dos interlocutores. A esse primeiro raio de influência, o cineasta baiano agregava ainda os críticos Cyro Siqueira, Salvyano Cavalcanti de Paiva e José Lino Grunewald. Mas, sob diferentes alegações, insistia na centralidade de Viany, Salles Gomes e Silveira na abertura de caminhos teóricos para a geração do Cinema Novo. “Fizemos uma aliança teórica com a Cinemateca Brasileira e uma aliança política com Alex Viany e Walter da Silveira. O cinema novo teorizava, mas logo estava preparado para a prática”, avaliou Glauber no livro Revolução do Cinema Novo (1981).

    Dentre os três críticos, Walter da Silveira tem uma trajetória menos explorada, confinada à gênese de uma mentalidade cinematográfica em Salvador, embora suas contribuições extrapolem o Clube de Cinema da Bahia, espaço decisivo para a formação do jovem Glauber. Iniciado em meados da década de 50, esse diálogo crítico aconteceu sobretudo nos jornais, encerrando-se somente com a morte de Walter da Silveira, em 1970. Este trabalho procura reconstituir essa interlocução e sua influência no amadurecimento teórico do cineasta Glauber.

    Na cidade do Salvador dos anos 50, a cinefilia imantava os jornais e impunha-se sobre os espaços sagrados das artes plásticas e da literatura. Tornava-se um campo de mediação das visões de mundo em choque. O neo-realismo italiano, a redescoberta de Hollywood via Cahiers du Cinéma e a erupção da Nouvelle Vague armavam as paixões críticas. No fenômeno cinéfilo baiano, Walter da Silveira e Glauber Rocha assumem papeis centrais mas diversos. Walter, o formador, Glauber, o crítico-realizador, ambos frequentemente em colisão. Influenciado pelos modelos críticos de Georges Sadoul e André Bazin e marcado pela militância comunista, da qual se distanciaria na segunda metade dos anos 50, Walter não deixará de examinar a natureza dos artigos do discípulo: “injustos quase sempre, continuadamente sinceros, porém”.

    No gabinete do mestre, Glauber conheceu os primeiros exemplares dos Cahiers du Cinéma da fase amarela. No cineclube, encontrou-se com as referências fílmicas e teóricas que reverberariam em seu programa estético. O confronto entre Revisão crítica do cinema brasileiro, de Glauber, e dois artigos escritos em 1962 por Walter da Silveira (“Raízes do Cinema Novo” e “Cinema Novo”) oferece um retrato das distâncias e proximidades. Enquanto Glauber e uma parte representativa dos realizadores de sua geração retornam à importância de Humberto Mauro, Walter da Silveira destaca Nelson Pereira dos Santos. Esses confrontos teóricos ocorreram no momento em que Glauber saltava da cinefilia para a definição de um ideário no cinema.

Bibliografia

    ARAÚJO SILVA, Mateus. “Glauber crítico: notas sobre O Século do Cinema”. Revista da Cinemateca Brasileira, v. 1, p. 16-33, 2012.
    BRASIL, José U. S. As críticas do jovem Glauber: Bahia 1956/1963. Tese (doutorado). Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Comunicação, Salvador, 2007.
    REBECHI JUNIOR, Arlindo. Glauber Rocha, ensaísta do Brasil. Tese (Doutorado em Letras). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011.
    ROCHA, Glauber. Cartas ao mundo. BENTES, Ivana (Org.). São Paulo: Cia. das Letras,
    1997.
    ______. Revisão crítica do cinema brasileiro. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
    ______. Revolução do cinema novo. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
    SILVEIRA, Walter da. “Raízes do Cinema Novo”. O eterno e o efêmero. Salvador: Oiti Editora, v.3, p.265, 2006.
    ______. “Cinema Novo”. O eterno e o efêmero. Salvador: Oiti Editora, v.3, p.267-281, 2006.
    TEIXEIRA GOMES, João Carlos. Glauber Rocha, esse vulcão. Rio de Janeiro: Nova
    Fronteira, 1997.