Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Eduardo Victorio Morettin (USP)

Minicurrículo

    Professor de História do Audiovisual da Escola de Comunicações e Artes da USP. Autor de “Humberto Mauro, Cinema, História” (SP, Alameda Editorial, 2012) e um dos organizadores de História e Cinema: dimensões históricas do audiovisual (2ª ed., SP, Alameda Editorial, 2011), dentre outros livros. É um dos líderes do Grupo de Pesquisa CNPq História e Audiovisual: circularidades e formas de comunicação (site http://historiaeaudiovisual.weebly.com/). Bolsista produtividade em pesquisa CNPq, nível 2.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema, história e compilation films

Resumo

    A comunicação abordará as relações entre cinema e história a partir do exame de Land of Liberty (1939), de Cecil B. DeMille. Ao contrário dos compilation films feitos com fragmentos retirados de cinejornais e documentários, é composto predominantemente por material retirado da ficção, estratégia de autenticação do discurso fílmico até então inédita. Land of Liberty representa verdadeiro monumento cinematográfico erigido em prol da história dos Estados Unidos e da indústria hollywoodiana.

Resumo expandido

    A comunicação pretende analisar as relações entre cinema e história a partir do exame de Land of Liberty (1939), de Cecil B. DeMille. Este filme foi feito a pedido dos organizadores da New York World’s Fair (1939) pela Motion Picture Producers and Distributors Association (MPPDA), associação das grandes produtoras. Ao contrário dos compilation films feitos com fragmentos retirados de cinejornais e documentários, é composto predominantemente por material retirado da ficção. A junção dos dois tipos de registro diluía as fronteiras entre o que a princípio pertencia a universos distintos, estratégia de autenticação do discurso fílmico até então inédita. Filme de representação histórica, documentário e ao mesmo tempo ficção, grande espetáculo, verdadeira enciclopédia visual da produção cinematográfica norte-americana dos anos 1930, Land of Liberty representa verdadeiro monumento cinematográfico erigido em prol da história dos Estados Unidos, da indústria hollywoodiana e, last but not the least, de sua cultura midiática.
    A intenção é a de examinar as estratégias discursivas empregadas pelos filmes que recorrem ao material de arquivo a partir de duas chaves: a da valorização de sua dimensão de documento, entendida a imagem cinematográfica como registro de uma época e testemunho para o futuro; e a de monumento, tratada na perspectiva tanto de valorização simbólica de determinado evento e/ou personagem quanto da crítica ao documento, dentro da concepção trabalhada por Jacques Le Goff (1984). Nestas vertentes, o discurso fílmico é pautado por certa concepção de História, que sintetiza os problemas principais de cada contexto, situando a forma como o cinema apropria o discurso da modernidade e, ao mesmo tempo, o seu emprego como arma de combate em um contexto político fortemente polarizado ideologicamente. Neste período, consolidando-se como meio de comunicação de massa, o cinema passou a ser utilizado cada vez mais como “vitrine” em que a nação projeta as virtudes nacionais a serem celebradas em um cenário marcado pela corrida imperialista.
    O objetivo mais específico é o de se debruçar sobre as obras que expressam e constroem as referidas estratégias discursivas, ligadas à afirmação do estatuto documental, à valorização do monumento cinematográfico ou à releitura e à desconstrução deste discurso, ou seja, daquilo que se afirma como imagens-documentos ou imagens-monumentos. Dentre outros filmes do período que dialogam com este quadro, temos, dentre outros que poderiam ser evocados, A queda da dinastia Romanov (1927), de Esther Schub, Yellow Caesar (1941), Alberto Cavalcanti e Le Cinéma au service de l’Histoire (1935), de Germaine Dulac. A especificidade de Land of Liberty (1939), de Cecil B. DeMille, dentro de seu contexto reside na articulação proposta com o universo ficcional, como apontado acima.
    Do ponto de vista metodológico, um parti pris é o de tomar os filmes como ponto de partida. Assim, evita-se uma excessiva discussão teórica descolada dos materiais que lhe conferem suporte, ao mesmo tempo em que a análise fílmica é privilegiada no processo de avaliação das imagens como fonte histórica.
    Por outro lado, os filmes possuem um estatuto de memória, já percebido desde o surgimento do cinema no final do século XIX. Veiculando uma determinada imagem sobre um tema, interferindo na forma pela qual ele é apropriado por diferentes segmentos sociais que, ao assistirem uma obra a respeito de qualquer evento histórico, por exemplo, comparam e confrontam as informações veiculadas com aquilo que aprenderam, estudaram ou conhecem do assunto, o cinema é lugar de memória.
    Por fim, é preciso examiná-los a partir de recortes temáticos que transcendam a historiografia clássica do cinema e que dialoguem com a história cultural. Um dos desafios é o da identificação de uma retórica comum, caracterizando um estilo das imagens que se insere, de maneira nem sempre harmônica, com a realidade sócio-histórica que lhe deu origem

Bibliografia

    LARSON, D. San Francisco 1939 – 1940. Golden Gate International Exposition. In: FINDLING, J. e PELLE, K. (eds.), Historical Dictionary of World’s Fair and Expositions, 1851-1988. NY: Greenwood Press, 1990.
    LE GOFF, J. Documento/monumento. In: ROMANO, R. (org.). Enciclopédia Einaudi, Memória – História. S.l.p., Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984, vol. 1.
    LEYDA, J. Films beget films. NY, Hill and Wang, 1971.
    LINDEPERG, S. O caminho das imagens: três histórias de filmagens na primavera-verão de 1944. Estudos históricos. vol. 26, n. 51, 2013, p. 9 – 34.
    MORETTIN, E. Acervos fílmicos, imagem-documento e cinema de arquivo: cruzamentos históricos. In: BRANDÃO, A. e SOUSA, R. A sobrevivência das imagens. Campinas, SP, Papirus, 2015.
    ______. As exposições universais e o cinema: história e cultura. Revista Brasileira de História, v. 31, n. 61, p. 231 – 249, 2011.
    PALMER, A. Cecil B. DeMille writes America’s history for the 1939 World’s Fair. Film History, v. 5, p. 36 – 48, 1993.