Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Mauricio Cardoso (FFLCH-USP)

Minicurrículo

    Formado em História pela USP (1996), finalizou o mestrado em História (USP, 2002) sobre o filme de Leon Hirszman, São Bernardo (1972). Concluiu, em 2007, o doutorado sobre o cinema de Glauber Rocha pela USP e pela Université Paris X-Nanterre. É professor no Departamento de História da USP, onde ministra disciplinas sobre Ensino de História e Narrativas Audiovisuais e realiza pesquisas sobre produção audiovisual brasileira, indústria cultural e história pública.

Ficha do Trabalho

Título

    Percursos do subdesenvolvimento : uma leitura de Paulo Emilio S. Gomes

Mesa

    Atualidades de Paulo Emílio

Resumo

    A comunicação se propõe a analisar o debate em torno do conceito de subdesenvolvimento no cinema brasileiro, formulado por Paulo Emilio Salles Gomes, em 1973, apontando as estratégias e apropriações deste crítico, em relação à “teoria do subdesenvolvimento”. Pretende-se também apontar a atualidade desse debate tendo em vista as reflexões contemporâneas sobre a permanência ou superação do subdesenvolvimento a partir das últimas duas décadas.

Resumo expandido

    A publicação de “Cinema: trajetória no subdesenvolvimento” no primeiro número de Argumento, em outubro de 1973 trouxe à ordem do dia um balanço de grande invergadura sobre a formação do cinema brasileiro. Preocupado com o sentido geral da produção cinematográfica nativa, Paulo Emílio Salles Gomes recorre ao conceito de “subdesenvolvimento”, em voga nas análises econômicas forjadas pelos cepalinos, desde os anos 1950, e difundida, posteriormente, na militância de esquerda, pelo menos até os anos 1980.
    Em Paulo Emílio, o “subdesenvolvimento” técnico-econômico caracterizava, no cinema brasileiro, uma condição até então insuperável que impedia o voo livre e original dos cineastas. Marcados pela “dialética rarefeita entre o não ser e o ser outro”, estaríamos condenados, segundo diagnóstico do autor, a repor a precariedade técnica e a dependência estética, num mercado ocupado pelo colonizador. No entanto, ele apontava em certos gêneros e movimentos cinematográficos, algumas possibilidades históricas de superação: a chanchada, o Cinema Novo, o Cinema Marginal, por razões distintas, refletiam o esforço de criatividade e se lançavam para o embate com o público e o mercado.
    Em que medida, porém, o texto dialogava com a “teoria do subdesenvolvimento”, presente no livro de Celso Furtado, Desenvolvimento e Subdesenvolvimento, publicado em 1961? O artigo de Paulo Emilio, suscinto e denso, não investia em análises sistemáticas, nem tampouco apresentava alguma ancoragem teórica que delineasse o uso dos conceitos. Todavia, o perfil ensaístico do artigo, marcado pelo caráter sintético de inúmeras considerações, desdobrava-se em impasses estruturais que explicitavam as marcas do subdesenvolvimento na produção cinematográfica do país.
    Por outro lado, como apontou Ismail Xavier, o artigo se inspirava, ainda que sem explicitar, na concepção de sistema, formado pela dinâmica autor-obra-público tal como a formulou Antonio Candido, em Formação da Literatura Brasileira, publicado em 1959. Assim, Paulo Emilio identificava o centro neuvrálgico do impasse na constituição de um sistema cultural capaz de se consolidar como indústria cinematográfica, isto é, como veículo de comunicação de massa, com público cativo e continuidade de produção. A reposição de ondas de produção sempre marcadas por crises, falências, interrupções, problemas técnicos de toda ordem compunham o dilema cinematográfico do subdesenvolvimento, vulnerável aos ataques do estrangeiro, inseguro diante do mimetismo e da subordinação cultural e econômica.
    Afinal, teríamos superado aquele diagnóstico sombrio? A continuidade da produção dos últimos anos se apresentaria como norma ou seria apenas uma nova onda cujo declínio estaríamos prestes a verificar com o novo governo e a extinção do Ministério da Cultura? O debate sobre originalidade e criação artística ainda se impõe pelas fronteiras do nacional ou a globalização da cultura definiria a vitalidade de produções locais?
    O conjunto dessas questões conduziu nossa reflexão a suposta superação do subdesenvolvimento, tendo em vista a uma inserção específica do país na economia-mundo. André Singer e Alexandre Barbosa, entre outros autores, defendem, sob enfoques distintos, que apenas uma parcela reduzida da economia se modernizou, enquanto o país permaneceu dependente e subordinado à financeização globalizada. Exclusão social, desigualdades regionais intensas e industrialização sem transferência de tecnologia, associam-se ao esforço de atração de capitais financeiros e a exportação de produtos de baixo valor agregado.
    Nessa comunicação pretende-se, portanto, analisar de que modo o ensaio de Paulo Emilio se apropriou dos conceitos de “subdesenvolvimento” e “sistema literário” e identificar o impacto político do artigo no campo cinematográfico dos anos 1970, bem como sua atualidade na interpretação do cinema brasileiro e, de modo geral, o campo cultural.

Bibliografia

    BARBOSA, Alexandre de Freitas . O Anti-Herói Desenvolvimentista. Novos Estudos CEBRAP, v. 94, p. 1, 2012.
    CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira: momentos decisivos. 5a ed. Belo Horizonte, Itatiaia, São Paulo, EDUSP, 1975.
    FURTADO, Celso. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. 3a ed. RJ: Fundo de Cultura, 1965.
    GOMES, Paulo Emilio Salles. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. In: Argumento. no. 1, out 1973.
    SINGER, André. Os sentidos do lulismo. Reforma gradual e pacto conservador. SP: Companhia das Letras, 2010.
    XAVIER, Ismail. O cinema moderno brasileiro. RJ: Paz e Terra, 2001.